Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 18
Dona Teresa que nos últimos
anos se aproximava da família Trava, substituíra-o pelo marido Bermudo, uma
nulidade em questões de armas, e já se dizia que era Fernão, o irmão mais novo,
quem comandava verdadeiramente as vontades da rainha.
- A Raimunda ouvia as criadas de Dona Teresa
cochicharem. O Fernão entra no quarto, mas o Bermudo fica à porta – contou
Ermígio.
Egas indignou-se! O que
iriam pensar Paio Mendes, arcebispo de Braga, ou mesmo Teotónio, prior de
Viseu?
A imprudência e
desregramento de Dona Teresa só poderiam ter consequências nefastas para o
Condado!
Contudo, meu tio Ermígio
abanou a cabeça:
- Talvez não... Dizem que o Fernão é mais
hábil do que o irmão. Parece que foi dele a ideia de envenenar as águas levadas
aos mouros.
Ao ouvi-lo seu irmão ainda
se enervou mais:
- Se o plano resultar, Fernão de Trava será
visto como o salvador de Coimbra e Dona Teresa nunca mais o larga!
Inesperadamente, uma
trombeta suou no ar da manhã. Egas e Ermígio Moniz estacaram de imediato e
olharam para a tenda do califa Yusuf. O que era aqui lo,
um toque de retirada?
Coimbra, Julho de 1117
Afonso Henriques contou-me
que, depois daquele grito de revolta, desceu a escada interior da torre do
castelo, entrando na habitação principal da alcáçova, onde se cruzou com
Dórdia, minha mãe.
Sentada num banco corrido,
ela parecia inanimada, com as pálpebras cerradas, quase sem respirar, mas deve
ter ouvido o som dos pés dele no chão, pois abriu os olhos.
Inqui eto,
o meu melhor amigo deu-lhe os bons dias. Ela exigiu um beijo, mas nem era
necessário, ele ia dá-lo na mesma.
Abraçou-a e sentiu-a sem
forças, nem mexia os braços. Avisou que ia brincar connosco.
- Ide andando, já lá vou ter
com vocês – murmurou Dórdia.
Todos sabíamos que ela não
iria, mas tentávamos acreditar no contrário.
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