sexta-feira, julho 17, 2015

Assim Nasceu 


Portugal
(Domingos Amaral)





Episódio Nº 18











Dona Teresa que nos últimos anos se aproximava da família Trava, substituíra-o pelo marido Bermudo, uma nulidade em questões de armas, e já se dizia que era Fernão, o irmão mais novo, quem comandava verdadeiramente as vontades da rainha.

 - A Raimunda ouvia as criadas de Dona Teresa cochicharem. O Fernão entra no quarto, mas o Bermudo fica à porta – contou Ermígio.

Egas indignou-se! O que iriam pensar Paio Mendes, arcebispo de Braga, ou mesmo Teotónio, prior de Viseu?

A imprudência e desregramento de Dona Teresa só poderiam ter consequências nefastas para o Condado!

Contudo, meu tio Ermígio abanou a cabeça:

 - Talvez não... Dizem que o Fernão é mais hábil do que o irmão. Parece que foi dele a ideia de envenenar as águas levadas aos mouros.

Ao ouvi-lo seu irmão ainda se enervou mais:

 - Se o plano resultar, Fernão de Trava será visto como o salvador de Coimbra e Dona Teresa nunca mais o larga!

Inesperadamente, uma trombeta suou no ar da manhã. Egas e Ermígio Moniz estacaram de imediato e olharam para a tenda do califa Yusuf. O que era aquilo, um toque de retirada?


Coimbra, Julho de 1117


Afonso Henriques contou-me que, depois daquele grito de revolta, desceu a escada interior da torre do castelo, entrando na habitação principal da alcáçova, onde se cruzou com Dórdia, minha mãe.

Sentada num banco corrido, ela parecia inanimada, com as pálpebras cerradas, quase sem respirar, mas deve ter ouvido o som dos pés dele no chão, pois abriu os olhos.

Inquieto, o meu melhor amigo deu-lhe os bons dias. Ela exigiu um beijo, mas nem era necessário, ele ia dá-lo na mesma.

Abraçou-a e sentiu-a sem forças, nem mexia os braços. Avisou que ia brincar connosco.

- Ide andando, já lá vou ter com vocês – murmurou Dórdia.

Todos sabíamos que ela não iria, mas tentávamos acreditar no contrário.


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