segunda-feira, agosto 10, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 37





















Tui, Março de 1120


Maria Gomes, com quem seis anos mais tarde me casei, contou-me que no dia em que as tropas do arcebispo de Compostela chegaram a Tui, ela e Chamoa tinham ido brincar para um campo verdejante perto do castelo, na companhia da mãe de ambas.

Os cabelos cor de mel da sua irmã mais nova, com apenas dez anos, esvoaçavam e, envolta numa curta dalmática cor-de-rosa, Chamoa Gomes parecia uma princesa, com uns olhos verdes de corça iluminados de alegria.

Maria era um ano mais velha e um pouco mais alta que Chamoa, tinha o cabelo mais escuro e os olhos castanhos, e era igualmente bonita, embora menos esfusiante, sentindo talvez que o protagonismo principal pertencia à irmã, e a ela lhe estava reservado um papel mais responsável, mas também mais discreto.

Foi sempre assim, ao longo da vida de ambas, e ainda bem para mim.



Naquela manhã, Elvira Peres de Trava sentia-se orgulhosa das duas filhas. Dentro de uns anos seriam cobiçadas pelos ricos-homens do Norte e do Sul do Rio Minho, desejosos de com elas casarem, o que a confortava, embora não dissipasse as suas apreensões.

As terras do marido, Gomes Nunes de Pombeiro, senhor de Toronho, estavam entaladas entre a Galiza, de onde ela provinha, e o Condado Portucalense, onde o esposo nascera, e eram objecto de permanente disputa entre Urraca, rainha de Leão, Castela e Galiza, e sua irmã Teresa, regente do Condado.

Ao longo das últimas décadas, Toronho tinha prestado vassalagem umas vezes ao Norte e outras ao Sul, mas no presente, Gomes Nunes de Pombeiro não hesitava em proclamar que só o faria a Dona Teresa, e não à desvairada Urraca, que de rainha só tinha o título.

Todavia, Elvira Peres de Trava sabia que esta última não aceitava a pretensão da irmã de ser rainha da Galiza, nem lhe queria ceder os territórios a que considerava ter direito.

Por isso se juntara ao Arcebispo Gelmires, numa aliança pouco natural entre antigos inimigos, destinada a submeter Dona Teresa e a impor Compostela como centro da cristandade da Península, em vez de Braga, como era desejo dos portucalenses.

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