(Domingos Amaral)
Episódio Nº 37
Tui, Março de 1120
Maria Gomes, com quem seis
anos mais tarde me casei, contou-me que no dia em que as tropas do arcebispo de
Compostela chegaram a Tui, ela e Chamoa tinham ido brincar para um campo
verdejante perto do castelo, na companhia da mãe de ambas.
Os cabelos cor de mel da sua
irmã mais nova, com apenas dez anos, esvoaçavam e, envolta numa curta dalmática
cor-de-rosa, Chamoa Gomes parecia uma princesa, com uns olhos verdes de corça
iluminados de alegria.
Maria era um ano mais velha
e um pouco mais alta que Chamoa, tinha o cabelo mais escuro e os olhos
castanhos, e era igualmente bonita, embora menos esfusiante, sentindo talvez
que o protagonismo principal pertencia à irmã, e a ela lhe estava reservado um
papel mais responsável, mas também mais discreto.
Foi sempre assim, ao longo
da vida de ambas, e ainda bem para mim.
Naquela manhã, Elvira Peres
de Trava sentia-se orgulhosa das duas filhas. Dentro de uns anos seriam
cobiçadas pelos ricos-homens do Norte e do Sul do Rio Minho, desejosos de com
elas casarem, o que a confortava, embora não dissipasse as suas apreensões.
As terras do marido, Gomes
Nunes de Pombeiro, senhor de Toronho, estavam entaladas entre a Galiza, de onde
ela provinha, e o Condado Portucalense, onde o esposo nascera, e eram objecto
de permanente disputa entre Urraca, rainha de Leão, Castela e Galiza, e sua
irmã Teresa, regente do Condado.
Ao longo das últimas décadas,
Toronho tinha prestado vassalagem umas vezes ao Norte e outras ao Sul, mas no
presente, Gomes Nunes de Pombeiro não hesitava em proclamar que só o faria a
Dona Teresa, e não à desvairada Urraca, que de rainha só tinha o título.
Todavia, Elvira Peres de
Trava sabia que esta última não aceitava a pretensão da irmã de ser rainha da
Galiza, nem lhe queria ceder os territórios a que considerava ter direito.
Por isso se juntara ao
Arcebispo Gelmires, numa aliança pouco natural entre antigos inimigos,
destinada a submeter Dona Teresa e a impor Compostela como centro da
cristandade da Península, em vez de Braga, como era desejo dos portucalenses.
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