Nasceu
Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 34
Fingindo-se ofendida, Dona Teresa cumpriu formalmente a obrigação de defender o homem com quem ainda vivia.
- Pelo menos não é como o
Afonso de Aragão, que dá sovas na minha irmã! E também não maltrata as minhas
filhas ou o meu filho.
Ao ouvir falar de Afonso
Henriques, Fernão queixou-se de forma leve e intencionalmente distraída.
Colocou um pé em cima de uma arca, como se admirasse os seus belos sapatos
vermelhos, de bom cabedal.
- Vosso filho não simpatiza
comigo.
A rainha não deu importância
àquela queixa do Trava, alegando que o filho só pensava em matar mouros e que
saía ao pai, antipático.
Sentando-se na beira da cama
perguntou:
- Há pouco haveis sugerido que me afastasse do
vosso irmão?
Malicioso, o Trava murmurou:
- Dizem que não é só a
governar que fraqueja...
Dissimulando nova ligeira
indignação, por ver a sua intimidade invadida, Dona Teresa repreendeu-o:
- Vede lá como falais, jovem Trava! Quem vos
contou tais mentiras?
Ele riu-se e ela, sem negar,
mudou subtilmente o palco da desilusão, dizendo não ter quem lhe mandasse nas
tropas, desde que Paio Soares se afastara. Desolada, lamentou-se:
- O mundo é duro para uma mulher. Os nobres e
os bispos acham que somos tolas e não servimos para governar.
Farejando uma oportunidade
para a lisonja, o Trava interrompeu-a:
- Não penso isso de vós.
Agradada, ela sorriu de
novo.
- Então o achais vós, jovem
Trava? Que sou louca como a minha irmã Urraca? Que sou mal namorada pelo meu
marido?
O Trava aproximou-se da cama
e avançou a sua opinião.
- Acho-vos mal... “rodeada”.
Estava de pé, em frente
dela, obrigando-a a olhar de baixo para cima. Sob o efeito subjacente daquela
poderosa presença física, Dona Teresa estremeceu e, para afastar o óbvio
fascínio que já sentia, esboçou uma careta dengosa e questionou-o:
- Vós quereis... “rodear”,
jovem Trava?
Fernão Peres manteve os
olhos postos nela e murmurou:
- Uma mulher tão bela como vós necessita de
ajuda. No comando do condado e não só...
Fez então uma festa
ternurenta à rainha, passando no rosto dela os seus dedos. Dona Teresa corou de
imediato. O seu peito desatou a subir e a descer rapidamente, a sua respiração
agitou-se e pediu.
- Então ajudai-me, amigo.
Dormi comigo pois estou enamorada!
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