quarta-feira, agosto 05, 2015

Assim

Nasceu

Portugal

(Domingos Amaral)



Episódio Nº 34











Fingindo-se ofendida, Dona Teresa cumpriu formalmente a obrigação de defender o homem com quem ainda vivia.

- Pelo menos não é como o Afonso de Aragão, que dá sovas na minha irmã! E também não maltrata as minhas filhas ou o meu filho.

Ao ouvir falar de Afonso Henriques, Fernão queixou-se de forma leve e intencionalmente distraída. Colocou um pé em cima de uma arca, como se admirasse os seus belos sapatos vermelhos, de bom cabedal.

- Vosso filho não simpatiza comigo.

A rainha não deu importância àquela queixa do Trava, alegando que o filho só pensava em matar mouros e que saía ao pai, antipático.

Sentando-se na beira da cama perguntou:

 - Há pouco haveis sugerido que me afastasse do vosso irmão?

Malicioso, o Trava murmurou:

- Dizem que não é só a governar que fraqueja...

Dissimulando nova ligeira indignação, por ver a sua intimidade invadida, Dona Teresa repreendeu-o:

 - Vede lá como falais, jovem Trava! Quem vos contou tais mentiras?

Ele riu-se e ela, sem negar, mudou subtilmente o palco da desilusão, dizendo não ter quem lhe mandasse nas tropas, desde que Paio Soares se afastara. Desolada, lamentou-se:

- O mundo é duro para uma mulher. Os nobres e os bispos acham que somos tolas e não servimos para governar.

Farejando uma oportunidade para a lisonja, o Trava interrompeu-a:

- Não penso isso de vós.

Agradada, ela sorriu de novo.

- Então o achais vós, jovem Trava? Que sou louca como a minha irmã Urraca? Que sou mal namorada pelo meu marido?

O Trava aproximou-se da cama e avançou a sua opinião.

- Acho-vos mal... “rodeada”.

Estava de pé, em frente dela, obrigando-a a olhar de baixo para cima. Sob o efeito subjacente daquela poderosa presença física, Dona Teresa estremeceu e, para afastar o óbvio fascínio que já sentia, esboçou uma careta dengosa e questionou-o:

- Vós quereis... “rodear”, jovem Trava?

Fernão Peres manteve os olhos postos nela e murmurou:

 - Uma mulher tão bela como vós necessita de ajuda. No comando do condado e não só...

Fez então uma festa ternurenta à rainha, passando no rosto dela os seus dedos. Dona Teresa corou de imediato. O seu peito desatou a subir e a descer rapidamente, a sua respiração agitou-se e pediu.

- Então ajudai-me, amigo. Dormi comigo pois estou enamorada!

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