quinta-feira, agosto 06, 2015

Dia Histórico












Às vezes, a democracia irrita-me. Muito do que se diz para conquistar votos e tentar “embebedar” as pessoas com expressões de grande impacto no ouvido, complicam com o meu sistema nervoso.

Ainda hoje, a propósito da campanha do multimilionário Trump, que já é conhecido pelas suas gafes, a que eu gostaria de chamar “bujardas”, ofensivas e prepotentes, que disputa no palco americano o direito a ser o candidato pelo partido Republicano às próximas eleições legislativas, dizia o analista político e Prof. Universitário Bernardo Pires de Lima, que se ele vier a ser eleito é porque uma boa parte da América está mesmo pelas ruas da amargura ou, por outras palavras, “pirou da cabeça”, digo eu.

Aqui em Portugal, um grupo de xicos-espertos para quem a democracia é uma espécie de livre-trânsito para lançar todos os engôdos para conseguir votos, inventou um “dia histórico” para celebrar uma baixa no desemprego para 11,9%.

Bem podem, os especialistas na matéria explicar que estes números, que continuam a mostrar uma realidade dramática para centenas de milhar de pessoas que vêm as suas vidas atingidas pelo maior flagelo dos tempos que correm, o desemprego, que estes valores, os tais do “dia histórico”, resultam da manipulação, de quem governa as políticas activas de emprego e nem sequer precisam de inventar nada porque elas já existem há muitos anos, basta pôr mais dinheiro.

Estas políticas activas de emprego são um mal menor porque têm as pessoas ocupadas a receber algum dinheiro durante algum tempo durante o qual são retiradas das listas do desemprego.

Em períodos eleitorais, como aquele em que nos encontramos, basta meter mais uns milhões nesses programas e chamar mais gente dos desempregados.

No 2º trimestre de 2011 o número de estágios pagos pelo IEFP era de 25.000 enquanto que agora são 160.000, à custa de muitos milhões de euros envolvidos em programas de formação.

Mas a realidade é agora mais extensa e complexa:

- Há muitas pessoas que perdida a esperança de encontrar emprego, especialmente os desempregados de longa duração, já não se apresentam nos Centros de Emprego e por isso saem da lista dos desempregados centenas de milhar;

- Por outro lado, a emigração forçada regressou nos últimos anos aos valores de 1960 sendo agora constituída, em grande parte, por jovens formados com habilitações académicas que constituíam a riqueza do país.

Seria uma violência afirmar que tudo isto acontece da responsabilidade exclusiva dos actuais governantes mas, a dois dias das eleições, esta manipulação dos números da estatística do desemprego chegando-se ao cúmulo do desplante do “dia histórico”, revela uma autêntica falta de respeito e consideração pelas pessoas mergulhadas no drama do desemprego.

Mas o programa falhado da troyka que impôs as políticas definidas pela Alemanha, não esqueçamos, foi abraçado com todo o entusiasmo por Passos Coelho, que tentou ser mais alemão do que os alemães e agora sente a necessidade de escamotear os resultados desastrosos de uma longa e desastrosa depressão a qual, perversamente, provocou ainda um enorme aumento da dívida pública.

Trabalhei durante muitos anos no IEFP, conheço todas as medidas de políticas activas de emprego há muito postas em prática e que envolvem pessoas, especialmente jovens, fundamentalmente para os ocupar, porque emprego efectivo é o que resulta do investimento, público ou privado, e que tem a ver com o desenvolvimento económico do país.

As próprias acções de formação profissional têm que ser feitas em ligação estreita com as empresas, umas nas próprias empresas outras em Centros próprios de Formação Profissional.

Não falar verdade sobre estas áreas que tocam as vidas das pessoas tão profundamente, mete-me raiva, “maldita democracia...”.

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