(Domingos Amaral)
Episódio Nº 66
Fátima era terrível, não perdia uma oportunidade para nos vilipendiar. Isto era uma infância de moura, é evidente!
Nunca tive desses problemas,
como a minha querida Maria depois confirmou. Já quanto a ser trombudo, hoje,
muitos anos depois, reconheço que talvez fosse um pouco sério demais.
Maria Gomes, zangada,
manteve-se em silêncio, enquanto Zulmira repreendia a filha, mandando-a calar. Depois,
perguntou àquela.
- Gostais de Lourenço Viegas?
A irmã de Chamoa corou e
murmurou:
- É gentil e bem parecido. E disse que me acha
bela.
Fátima soltou uma gargalhada
e afirmou com desdém:
- Isso dizem todos, quando nos querem filhar! Depois
de se meterem dentro de nós, desaparece-lhes a doçura num instante!
As urmãs Gomes pareceram
alarmadas, as suas opiniões sobre os homens eram menos definitivas. Zaida
constatou então:
- O Lourenço é o melhor amigo de Afonso
Henriques.
Imediatamente interessada
Chamoa perguntou:
- O que achais do príncipe?
Fátima fez um esgar de
desagrado.
- É burro. Duro de cabeça como um seixo do
rio. Nem sequer sabe ler ou escrever! A última vez que lutei contra ele ganhei!
Mais uma vez a mãe
contestou-a.
- Os cristãos não têm os nossos costumes. As
nossas crianças aprendem cedo os números e a poesia., e sabem declamar. Olha a
Zaida, era pequena quando ficámos prisioneiras, mas já sabia ler, e agora lê
mais que todos os párocos de Coimbra juntos!
Chamoa fez um esgar de
enfado, dizendo:
- Gosto mais de dançar e de ouvir elogios dos
rapazes!
Zaida sorriu-lhe,
compreensiva, mas Fátima logo barafustou:
- Só pensam em mexer-nos nas
tetas, ou enfiar-nos o pau na fenda! E nem lavar-se sabem! Em Córdova ninguém
cheira mal, como aqui ! Os homens ao
fim da tarde tresandam como caca de boi!
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