terça-feira, setembro 22, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 65


















Esta cuidadosa disposição era intencional e cheia de significado. Paio Soares encontrava-se em rápida ascensão na corte, mas os Moniz de Ribadouro estavam suficientemente longe para perceberem que mandavam pouco, mas suficientemente perto para não ferir o seu estatuto oficial de guardiões do príncipe.

Quanto aos restantes portucalenses a sua presença em Viseu era um primeiro sinal de reaproximação, mas estavam obrigados a um humilhante afastamento, enquanto não se submetessem de novo à rainha.

Como certa vez me confirmou a filha Zaida, nada disto escapara a Zulmira, que sentia os ventos da mudança que percorriam o Condado e a Hispânia.

Embora Dona Teresa tivesse ainda de prestar vassalagem ao novo rei, Afonso VII, cuja coroação estava prevista para breve, as ambições expandiam-se e agora, que sua irmã Urraca morrera, tinha de novo os olhos postos na coroa da Galiza.

Para se fortalecer, iria nomear o seu antigo companheiro e actual genro, Bermudo de Trava, como governador de Viseu, erguer o vaidoso Paio Soares à condição de mordomo-mor; e usar Teresa de Celanova como engodo para aliciar Egas Moniz.

Zaida confessou-me que sua mãe não deixara de admirar a forma hábil como Dona Teresa tentava dominar as suas gentes.

Ainda criança, Zulmira observara o seu avô, rei de Sevilha, ou o seu pai, Ismail, antigo governador de Córdova, a usar estratagemas semelhantes.

E, enquanto seu marido, Taxfin, fora governador da mesma cidade, vira idênticas artes serem praticadas. O poder dos que reinavam expandia-se com a sua capacidade de concederem aos outros o que estes ambicionavam, obrigando-os em troca a cumprirem as exigências de quem mandava.

Ao chegar a um pequeno pátio interior, Zulmira ouviu os gritinhos roucos das filhas. Divertidas, conversavam com Maria Gomes e sua irmã Chamoa.

Mal a viu chegar, Fátima perguntou-lhe:

 - Mãe, o que vos parece o Lourenço Viegas? Não é um trombudo?

Zulmira reparou que Maria Gomes se incomodou com esta opinião.

É um bom moço e de confiança – respondeu – todos conhecemos as suas habilidades guerreiras. Quem casar com ele fica bem servida.

Maria Gomes sorriu-lhe, sorriu-lhe, agradecida pelo elogio às qualidades a quem já a encantava. Porém, logo a viperina Fátima comentou:

 - Dizem que é melhor com a espada do que com o bastão de baixo...

                                  

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