segunda-feira, setembro 21, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos do Amaral)

Episódio Nº 64    




















Aquela história de morte e de perigo regressava. Paio Soares afastara-se, depois do envenenamento do conde Henrique, com receio das ameaças de Urraca.

Mas, agora que a rainha de Leão e Castela morrera, acreditou que podia reaproximar-se de Dona Teresa, mesmo negando mais uma vez a verdade.

Depois do que investiguei, admito que as suas omissões e mentiras sobre a relíquia se devam a uma antiga promessa feita ao conde Henrique.

Porém há quem diga que foi outra a razão: Chamoa, a mulher que ambos amavam.




Viseu, Sexta-Feira Santa, Abril de 1126



Naquela Sexta-Feira Santa, como era de costume estava proibida a ceia, e todos praticavam o jejum e abstinência. Não se admitiam também danças, a música das violas e dos alaúdes, jogos de dados ou a presença de jograis, dos bobos e das soldadeiras.

Os nobres que tinham acorrido a Viseu, convocados para passarem a Páscoa com Dona Teresa, sabiam de antemão que o dia não era destinado a convívios públicos e muito menos a encontros amorosos e pela nona hora todos recolheram às respectivas casas.

Dentro das muralhas haviam várias habitações dignas, e na mais importante delas estavam instalados Dona Teresa e o seu amante; a primogénita Urraca e o marido Bermudo; a segunda filha Sancha Henriques; e ainda a cunhada Elvira de Trava juntamente com o marido e as duas filhas.

Além destes, num quarto recatado nos fundos dormiam também as três mouras.

Mais afastada da Igreja, acolhera-se noutra habitação a família de Ribadouro, junto de quem permanecia o príncipe, Afonso Henriques, que já há uns anos nunca dormia sob o mesmo teto que a mãe.

E outras duas famílias encontravam-se por perto: a de Celanova, num prédio junto ao de Dona Teresa; e a de Paio Soares, no segundo edifício mais rico da cidade, conforme ordem expressa da rainha.

Ainda dentro da muralha, estavam outros nobres portucalenses. O Bragança, por exemplo, fora remetido para perto de uma das portas de Viseu, de forma a evitar as habituais barafundas em que se metia; e a família dos Mendes de Sousa, onde o pai Soeiro pontificava e cujo filho Gonçalo era grande amigo do príncipe, fora colado no lado oposto da cidade.                                                                                                                   

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