O capitão a encontrou à cabeceira do doente |
Tocaia
Grande
(Jorge Amado)
Episódio Nº 341
6
Na Fazenda da Atalaia, as moradas dos
trabalhadores - casebres de barro batido ou de madeira - agrupavam-se entre a casa-grande
e o riachão, margeando a estrada; umas poucas ficavam isoladas, esparsas nas
roças mais distantes.
Natário fizera questão de passar por todas
elas para comunicar a notícia e se despedir, oferecendo os préstimos; mantinha
com os alugados e os tropeiros boas relações de trabalho e também de cortesia e
alguns eram seus compadres.
A noite descera sobre os cacauais e a mata,
e apesar do inverno não chovia, naquela noite a atmosfera estava tépida,
cariciosa.
O Capitão sentia-se dominado por
sentimentos opostos: de alívio e ufania, pois deixara por fim de ter patrão, e
de pena e nostalgia por abandonar aquela terra onde vivera e labutara por mais
de vinte anos.
Em sua peregrinação, notou luz de fifó no
barraco do finado
Tiburcinho e se admirou: acabara de encontrar
sia Efigênia cuidando de Idalício, jovem colhedor de cacau, mordido por uma cobra
naquela tarde.
Curandeira competente, a velha
prestara-lhe socorro. Enchera de fumo de corda a boca sem dentes, boca de ventosa,
e a aplicara sobre a picada, no tornozelo do padecente: sugava o veneno e o
cuspia, murmurando rezas:
Meu Senhor São Bento
Bata o pau na cobra
Mata essa cobra
Que a cobra é do Cão
Me livre do veneno e da tentação
Idalício queimava de febre mas resistia, a
velha conseguira reduzir a quantidade de peçonha, mitigar-lhe o efeito quase
sempre mortal.
O Capitão a encontrou à cabeceira do
doente e ali conversou com ela antes de abandonar a Fazenda da Atalaia. Fez votos
para Idalício escapar com vida, talvez conseguisse, graças aos poderes de São
Bento e à sabedoria popular da rezadeira.
Falaram sobre Sacramento e sia Efigênia
lamentou-se: sentia falta da filha cuja demora em Ilhéus, onde cuidava da viúva
do Coronel, impedia a realização de planos alimentados desde que ela a soubera
possuidora de uma casa de aluguel em Itabuna, prenda do coronel Boaventura
Andrade, agradecido e magnânimo.
Da casa adqui rida
pelo fazendeiro e posta em nome da com escritura lavrada no cartório com todos
os itens e todos os conformes, sia Efigênia e Sacramento tinham sabido por
Natário, único a par do sigiloso assunto:
o Coronel não desejava que a novidade se espalhasse.
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