sexta-feira, setembro 18, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos do Amaral)



Episódio Nº 62

















Tanto Dona Teresa como Fernão Peres o miraram com atenção, esperando a sua resposta. Sem revelar o seu alarme interior, Paio Soares reconstituiu os seus últimos passos na companhia do conde Henrique, catorze anos antes.

Haviam realizado um fossado perto de Sintra, guerreando os mouros e depois rumado até Coimbra para enfrentar uma rebelião de habitantes, desagradados com certas decisões do conde.

Pacificada a cidade, aquele rumara ao Norte, passando ainda por Guimarães, para depois se dirigir a Astorga, onde falecera inesperadamente.

Paio Soares, que ficara na Maia, só fora chamado dias antes daquele trágico fim, e aparecera em Astorga já com o conde morto.

O único portucalense que o vira com vida fora Egas Moniz, que se deslocara até à cidade com Afonso Henriques, à época com três anos, para que o menino se pudesse despedir do pai.

No final daquela longa recordação, Gondomar perguntou:

 - Em Coimbra não saíram da cidade?

Paio Soares não se recordava. Insatisfeito, Gondomar insistiu:

 - O Conde foi a Jerusalém depois de ter estado em França.

O antigo alferes fingiu espanto e alegou que não sabia dessa viagem.

- Conheceu alguns dos cavaleiros franceses que já lá estavam, nas ruínas do Templo de Salomão – reforçou Gondomar.

O velho do manto branco narrou que a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo se instalara naquele local sagrado, na cidade de Jerusalém.

Era lá que dormiam e rezavam, e era de lá que saíam todos os dias para ir guardar as estradas. E fora igualmente desse ancestral templo que o conde Henrique partira para regressar a Portugal, poucos meses antes de morrer.

- Ele não vos descreveu essa peregrinação? – questionou Gondomar – Nem mencionou o que lhe pediram que trouxesse para França?

Paio Soares voltou a negar o conhecimento desses assuntos.

- E como estava ele, meses antes de morrer? – perguntou Gondomar – Agitado, com mau génio ou parado e sem forças?

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