(Domingos do Amaral)
Episódio Nº 62
Tanto Dona Teresa como
Fernão Peres o miraram com atenção, esperando a sua resposta. Sem revelar o seu
alarme interior, Paio Soares reconstituiu os seus últimos passos na companhia
do conde Henrique, catorze anos antes.
Haviam realizado um fossado
perto de Sintra, guerreando os mouros e depois rumado até Coimbra para
enfrentar uma rebelião de habitantes, desagradados com certas decisões do
conde.
Pacificada a cidade, aquele rumara
ao Norte, passando ainda por Guimarães, para depois se dirigir a Astorga, onde
falecera inesperadamente.
Paio Soares, que ficara na
Maia, só fora chamado dias antes daquele trágico fim, e aparecera em Astorga já
com o conde morto.
O único portucalense que o
vira com vida fora Egas Moniz, que se deslocara até à cidade com Afonso
Henriques, à época com três anos, para que o menino se pudesse despedir do pai.
No final daquela longa
recordação, Gondomar perguntou:
- Em Coimbra não saíram da cidade?
Paio Soares não se
recordava. Insatisfeito, Gondomar insistiu:
- O Conde foi a Jerusalém depois de ter estado
em França.
O antigo alferes fingiu espanto
e alegou que não sabia dessa viagem.
- Conheceu alguns dos
cavaleiros franceses que já lá estavam, nas ruínas do Templo de Salomão –
reforçou Gondomar.
O velho do manto branco
narrou que a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo se instalara naquele local
sagrado, na cidade de Jerusalém.
Era lá que dormiam e
rezavam, e era de lá que saíam todos os dias para ir guardar as estradas. E
fora igualmente desse ancestral templo que o conde Henrique partira para
regressar a Portugal, poucos meses antes de morrer.
- Ele não vos descreveu essa
peregrinação? – questionou Gondomar – Nem mencionou o que lhe pediram que
trouxesse para França?
Paio Soares voltou a negar o
conhecimento desses assuntos.
- E como estava ele, meses
antes de morrer? – perguntou Gondomar – Agitado, com mau génio ou parado e sem
forças?
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