segunda-feira, setembro 07, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 52


















Zaida absorvia como uma esponja as influências espirituais de Roma que a rodeavam, ao contrário de Fátima e da mãe. Se havia fé que ainda resistia em Zulmira era em Alá.

O seu marido Taxfin não voltara, nem nunca mais dera notícias. Embora o soubesse vivo, sabia igualmente que ele já não era governador de Córdova e que nunca mais organizara qualquer expedição a Oeste.

Nos primeiros anos daquela longa espera ainda se perguntara porquê. Torturada por tanto o desejar, questionara-se sobre o amor que lhe tinha o marido e a sua recusa de voltar.

Mas com o tempo essas questões haviam perdido a pertinência, e em Viseu limitava-se em tentar manter as filhas a salvo de sarilhos.

Foi por isso que naquele momento, e para evitar que a conversa entre Fátima e Raimunda azedasse ainda mais, Zulmira perguntou:

 - E o vosso amado Afonso Henriques já chegou? Ainda não o vi.

Raimunda ficou de pé atrás, respirou fundo e retorquiu.

 - Deve estar a vestir-se, virá com o Lourenço e com os irmãos. Mas para que quereis saber dele?

Fátima largou uma maldosa gargalhada.

O principezinho do Condado veio ver as moças, e a irmã, a Sancha Henriques, os moços!  

Dona Teresa casá-los os dois e depressa!

Fazendo uma careta jocosa continuou:

 - Agora que a rainha Urraca esticou o pernil, há mais pressa, não vá algum reino fugir-lhe!

Raimunda mostrou-se intrigada, como se não entendesse as implicações do que ouvira

O Afonso Henriques é tão novo, a mãe quer casá-lo já?

A impetuosa Fátima deu nova risada e afirmou:

 - À Sancha Henriques tem que ser um que meta o cabresto!

Depois baixou o tom de voz e provocou Raimunda:

 - Mas para o aleijadinho ainda é cedo. Nunca conheceu mulher...

Alguém tem de desmamar o bezerro antes da noite de núpcias, senão é uma vergonha para o Condado!

Irritada, Raimunda encostou-se à moura, tentando intimida-la:

 - Ele não ficou aleijado, está alto e forte!

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