quinta-feira, setembro 03, 2015

Francisco Seixas da Costa
Francisco Seixas da Costa
(Embaixador)





O curioso debate ontem entre Catarina Martins (Líder do Bloco de Esquerda) e Jerónimo de Sousa (líder do Partido Comunista Português) constatou uma realidade insofismável: o verdadeiro adversário que ambos se propõem abater é, como já se suspeitava, o Partido Socialista.

Amáveis um com o outro - longe parecem idos os tempos de um ódio figadal, quando PCP pensava ter a sua existência em perigo pelo crescimento do Bloco -, os simpáticos representantes da "esquerda da esquerda" há muito perceberam que é na disputa das franjas de simpatizantes do PS (o Bloco debate-se ainda com a "cissiparidade" histórica da extrema-esquerda) que estão as suas margens possíveis de crescimento. Ou os riscos de diluição de apoios.


Um governo de esquerda moderada é o mais perigoso cenário para a progressão eleitoral do PCP e do Bloco, partidos cuja contribuição objectiva para a construção de uma qualquer alternativa política é pouco mais nula, porquanto alimentam posturas sobre questões tidas por essenciais para o posicionamento identitário do país no plano externo que não são compatíveis com nenhuma outra força política com condições de governar, desde logo o PS. PCP e Bloco não gostam do conceito de "arco da governação", que consideram excluí-los.

O curioso e óbvio é que são eles próprios quem cuida em se pôr de fora desse "arco".
Imagina-se que, na noite de ontem, os espíritos para os lados da Santana à Lapa e do Caldas devem ter estado bem altos. Têm razões para isso.

Nas quatro semanas que aí vêm, PSD, CDS, PCP e BE reencontrar-se-ão nessa frente comum contra esse temível adversário que os ameaça - o PS. Como nunca deixarei de lembrar, esta "santa aliança", este "bloco lateral" direita/esquerda, não traz essencialmente nada de novo: foi precisamente o mesmo que derrubou o governo do Partido Socialista em 2011.

O Partido Socialista está assim sozinho "no meio da praça". Só me custa dizer "orgulhosamente só" para não trazer outras memórias a quem já as tem.



Nota - A democracia portuguesa está marcada pela existência de um partido comunista que vem dos tempos da clandestinidade, que se bateu galhardamente contra a ditadura de Salazar e que hoje tem uma expressão eleitoral excessiva, marcada por esses tempos, como uma espécie de pagamento pelos serviços então desempenhados...
A ele junta-se o Bloco, partido de protesto, de causas, urbano, que, colocando-se, tal como o PCP, numa posição que em vez de ser de crítica construtiva é de ruptura com a União Europeia, da qual fazemos parte por opção do país, se excluem, naturalmente, da área do poder, deixando ao PS a tarefa de disputar sozinho o poder com a direita.

Mas eu acrescento: quem veja a televisão portuguesa, qualquer canal, nesta fase já eleitoral, não é só o PS que está "orgulhosamente só" é  António Costa,  ao qual não há "gato sapato" da direita: ministros, vice- 1ºs ministros, deputados, comentadores, simples defensores dos lugares que ocupam, que não lhe "bata" quando ele diz, seja o que for, na sua campanha eleitoral pelo país.

Sócrates, que já foi julgado pelo povo em eleições, que perdeu, continua novamente a ser massacrado pela Coligação, perseguindo Costa como um fantasma, numa campanha infame e desconfio que nas próximas eleições continue a ser ele o visado pela direita.

Para o PCP, é-lhe indiferente que o país continue a ser governado à direita, pelo o homem da Tecnoforma, especialista em "abrir portas". Fechado dentro de si, orgulhoso de seu passado, o PCP recusa-se a ser presente.

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