terça-feira, outubro 20, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 88




















Chamoa, ainda desfigurada e despenteada, acenou com o indicador direito, recordando que falar era proibido naquele jogo, mas ele deslocou um braço para o lado e apanhou um pau, que levantou no ar.

- Haveis perdido a vassoura.

Chamoa fez um ar amuado, mas de repente murmurou.

 - Tendes um pau tão pequenino...

Este comentário foi tão inesperado que Afonso Henriques se riu, momentaneamente distraído do jogo, o que gerou um grito de entusiasmo da rapariga:

- Ganhei!

Apanhado em falso, o príncipe atirou com o pau para o rio, resmungando:

 - Maldita galega!
Orgulhosa, Chamoa declarou, com pompa:

 - No jogo do sério ninguém me vence!

Ainda com dificuldade de aceitar a desfeita, Afonso Henriques acusou-a de ter recorrido a uma ousada falsidade:

 - Sois uma atrevida, falais do que não sabeis!

Ela, provocadora, olhou-o em desafio:

 - Pelos vistos, acertei!

Amuado, o príncipe olhou para o rio Loba. Então, Chamoa aproximou-se dele e disse-lhe numa voz melosa:

- Eu também faço milagres.

O príncipe pareceu desorientado, como se não esperasse tanta folga. A rapariga estava agora muito próxima. Sentia o seu cheiro inebriá-lo, viu o peito dela arfar, reparava nas sardas que lhe cobriam a cara e o nascer dos seios, e apreciou-a:

 - Sois a mulher mais bela do mundo.

Chamoa sorriu, depois beijou-a na boca, levemente, e pediu:

 - Abraçai-me, meu príncipe.

Beijaram-se e Afonso Henriques passou-lhe as mãos pelo corpo e tocou-lhe no peito, enquanto ela gemia. Vendo-a tão desejosa, o príncipe quis possui-la, mas a rapariga disse-lhe que era virgem e que assim teria de permanecer até ao casamento.

Então, ele lançou-lhe uma proposta:

 - Casai-vos comigo.

No dia seguinte Maria Gomes disse-me que, naquele momento, Chamoa sentiu uma emoção muito forte. Era o seu sonho de criança, casar com o príncipe, e agora ali estava ela nas mãos de um, o príncipe de Portugal!

“Deus meu, que alegria! Mas que dirão meus pai, minha irmã?”, pensou.

Segundo contou, Afonso Henriques terá insistido:

- É a minha vontade e vosso pai aprova de certeza, a defesa de Toronho fica garantida!

Será a união da Galiza, o príncipe do Condado casado com uma Trava. Dizei que me amais, que vos caseis comigo!  


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