sábado, novembro 28, 2015

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 121




















Coimbra, Maio de 1126


As notícias correm depressa, mesmo entre regiões cristãs e mouras, e Zaida contou-me que um mês depois da Páscoa, elas foram informadas de que Taxfin fora morto no castelo da serra Morena.

Foi na mesma tarde que a mãe lhes explicou porque não fora a Ricobayo. As coisas pareciam todas ligadas umas às outras, no passado, no presente e no futuro, era o que eu estava a concluir, nesta fase de investigação.

Havia razões para tudo. Há sempre.

Ainda em Viseu, Zulmira pedira à rainha para regressar a Coimbra em vez de a acompanhar à vassalagem de Afonso VII, que decorreria na povoação de Ricobayo, próxima de Zamora.

As filhas haviam estranhado, era a segunda vez que a mãe inventava uma oportuna doença. Um ano antes da visita a Astorga e Sahagun, queixara-se de um misterioso mau estar e abandonara a comitiva que seguia para Toledo.

Contudo, só quando chegou a Coimbra é que Zulmira saciara a curiosidade das filhas.

Em Ricobayo estaria gente do tempo do imperador Afonso VI. Tal como em Toledo, no ano passado. Gente que se lembra de mim há muitos anos.

Convidou-as a sentarem-se na sua cama, e recuou várias décadas, à época em que Afonso VI, avô de Afonso Henriques e do agora Afonso VII, era o imperador de Leão, Castela e Galiza, e dominava as taifas de Sevilha, Badajoz e Mérida, obrigando vários reis mouriscos a pagarem-lhe chorudos tributos.

Um desses era Al-Mutamid, rei de Sevilha. Embora mais dado à poesia do que à guerra, e mais entusiasta de rapazes do que de mulheres, Al-Mutamid casar e tivera uma única filha, chamada Zaida, que mais tarde obrigara a desposar o wali de Córdova, Ismail Ibn-Abbad para poder anexar essa cidade a sua Sevilha.

Da união forçada entre Zaida e Ismail nascera Zulmira. Quando esta tinha treze anos, furioso com as submissões dos reis árabes ao imperador cristão, o califa Yusuf decidiu atacar Sevilha.

Assustado, o rei poeta Al-Mutamid, ordenou ao seu genro Ismail que pedisse ajuda a Afonso VI. Não podendo abandonar Córdova, cujo cerco estava próximo, Ismail enviou a Toledo sua esposa, Zaida.

Acompanhei minha mãe nessa embaixada – recordou Zulmira.

Pouco depois de partirem, a tragédia abateu-se sobre Córdova. A tomada da velha capital do califado foi uma carnificina sem nome, as tropas de Ismail foram dizimadas pelos sanguinários algozes de Yusuf, e as ruas tingiram-se de vermelho, com o sangue dos cordovezes derrotados.

- O último a morrer foi meu pai, Ismail, o governador de Códova. Quando a notícia chegou a Toledo, tínhamos acabado de nos instalar.

Zulmira, que muito amava o pai, ficou destroçada. Porém, sua mãe Zaida, não perdeu tempo e pediu uma audiência ao Imperador.

Nesse dia, algo de espantoso aconteceu – murmurou Zulmira.

Afonso VI tinha um talento especial para seduzir mulheres e comoveu-se com a solidão de Zaida, que julgava uma viúva sofrida.

Com quase cinquenta anos, o imperador já se casara três vezes, tinha várias filhas, entre as quais Dona Urraca e Dona Teresa, mas nunca gerara varão.

Encantado com aquela bela princesa moura, converteu-a e, algum tempo depois engravidou-a!


Site Meter