sábado, novembro 28, 2015

Finitos, carentes

 e mortais...



















Anselmo Borges é padre, professor de filosofia e escreve artigos de opinião no DN que por vezes leio.

Como sabem, sou ateu, assumido mas não militante porque toda a minha família é católica, os poucos que ainda cá estão, eu próprio, em jovem, frequentei durante dois anos um Colégio de Jesuítas e foram-me dados todos os sacramentos da Santa Madre Igreja mas, principalmente, por respeitar nessas pessoas as suas convicções mais íntimas.

A prática dessa militância implicava ir contra essas ideias íntimas, contrariá-las, desmenti-las o que, para elas, pareceria sempre uma afronta, um desrespeito, sem o ser.

Mas padre e filósofo, parece-me, não combinam porque a religião aprisiona o pensamento e eu tenho alguma dificuldade em olhar para um filósofo que não seja completamente livre no seu pensamento.

Quando Anselmo Borges fala da “verdade salvadora” eu fico perplexo: - A verdade? – Qual verdade? – Salvadora? - Eu preciso de ser salvo? – De quê? – De quem? – Por quê?

Anselmo Borges nunca poderá responder-me a estas perguntas como filósofo porque, sendo padre, vai dizer-me que as religiões têm na sua base o sagrado de Deus de quem se espera a salvação de todos e, nesse momento, Anselmo Borges já não fala para mim, fala para os crentes da sua religião, enquanto eu sou apenas crente em valores e princípios da sociedade, muitos deles apropriados pela religião como se fossem dela.

Anselmo Borges diz que somos “finitos, carentes e mortais” e como padre chega ao “bálsamo da existência que é a verdade salvadora” enquanto que eu, que sou ateu, limito-me a assumir a minha indiscutível natureza que é finita, sinónimo de mortal e carente apenas no sentido de que fazemos parte de um universo que é preciso desvendar e aprofundar e aqui, reside uma carência de conhecimento que, apesar de tudo, já nos trouxe do controle e domínio de fogo até ao telescópio Hubble, que a 600 km de altura da Terra observa o espaço até aos seus primórdios.

Mas neste artigo de Jornal, Anselmo Borges fala da violência das religiões. De facto, as várias religiões representam rupturas, linhas de fractura da sociedade humana, independentemente de se guerrearem ou entenderem-se umas com as outras.

É uma questão de estudar a história das sociedades humanas que não pode ser feito desligado da história das religiões, com a qual quase se confunde e nos mostra como fomos vítimas delas.

Mas se os homens, por hipótese, não tivessem guerreado entre si por causa das religiões, tê-lo-iam feito, quase de certeza, por outras razões que, de resto, sempre lá estiveram presentes, porque a verdade é que a natureza humana é violenta.

Não o fora, e não teríamos sobrevivido num mundo tão competitivo.

Apenas uma diferença, uma pequena diferença: - Quando um homem mata outro, se for por causa de um Deus, fá-lo com um sorriso de maior felicidade nos lábios...

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