quinta-feira, janeiro 07, 2016

América, Deus e as Armas





















Quando a população das Ilhas Britânicas, por razões de natureza religiosa e económica, começou a rumar à América dos Índios, deixando definitivamente para trás as suas raízes, passamos a ter a América dos Colonos.

A imensidão do território que os esperava, o espaço vazio, o isolamento, as dificuldades que tiveram de resolver e ultrapassar, a novidade de tudo o que encontraram, desenvolveu nestas pessoas um terrível sentimento de orfandade e, dominados por ele, agarraram-se a Deus e às armas.

As memórias de tudo o que tinha ficado para trás, da herança do passado, cristalizou nos seus cérebros e funcionou como pilar das suas novas vidas.

Recomeçaram do zero num espaço desconhecido mas, ao mesmo tempo, desafiante.

Na construção dessa nova sociedade duas grandes preocupações: segurança e justiça. A grande protecção só poderia vir de Deus, por isso, a Bíblia na cabeceira da cama, mas para a outra protecção, que não era divina, havia a espingarda pendurada na parede à mão de semear.

Para o resto, o Xerife e o Juiz eram os bons, os bandidos e os índios, os maus.

Aprendemos tudo isto nos filmes de western, ainda dos anos 50. Nós próprios, em criança, também brincámos aos cowboys aos “tiros” uns aos outros.

Na ausência de uma sociedade estruturada, desenvolveu-se o individualismo e a solidariedade como forma de sobrevivência.

Todos os sentimentos e instintos de homens  entregues a si próprios, ficaram livres para se expandirem sem o olhar correctivo e atento da sociedade tradicional da velha Grã-Bretanha.

O colono americano teve que se defender a si, à família, casa e animais, e na ausência de uma autoridade, era à sua arma que ele entregava a sua segurança.

No princípio, em vários Estados da América do Norte era assim: um homem sem a pistola à cintura sentia-se despido. 

Todos os polícias e forças da ordem que o deviam proteger estavam ali, na sua cintura, e hoje, em 2015, a pistola lá continua pela força dessa tradição quando já não faz sentido algum e com os riscos denunciados.

Obama fala ao país e comove-se até às lágrimas quando se refere às crianças vítimas das armas acessíveis a toda a gente mas a lei americana, a que representa a ala conservadora, obsoleta, religiosa, republicana, não quer mudar sendo que, agora, são já os seus interesses ligados à indústria da armas que estão em jogo.

Obama, no fim do seu mandato, depois de se ter emocionado à frente da nação americana, irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance mas o espectáculo que deu foi bem o retrato da sua impotência.

A esperança reside na eleição de Hillary Clinton, uma feroz defensora de uma lei das armas ainda mais restritiva.

O lema dos E.U.A é: - “Em Deus confiamos”, e esta religiosidade foi expressa em moedas há mais de um século, mas a confiança nas armas é ainda mais antiga pelo que, qualquer mudança, não será fácil nem rápida e contará sempre com opositores viscerais.

Obama nem sequer cumpriu o serviço militar, ao contrário de George Washington, Kennedy, Búfalo Bill...  e estes é que fazem a mitologia americana.

Pessoalmente, o assassínio de três homens incompatibilizaram-me com a América: os irmãos Kennedy e Luther King.

Já lá vão muitos anos mas nunca esqueci a morte dessas pessoas que tanto admirava. Por elas, nunca quis visitar a América, fiquei sentido para sempre...

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