sexta-feira, janeiro 29, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 166




















Deitando a cabeça para trás, Zulmira fechou os olhos e disse:

 - Tenho saudades desses tempos belos. Há onze anos que já não sei o que é o amor.

Enquanto a mãe falava, Zaida levantou-se e fora sentar-se num grande e fofo colchão onde a bruxa devia dormir.

Mãe, não queres vir conversar para aqui? – perguntou.

Zulmira foi ter com a filha. Pisou o colchão e, agradada, sentou-se nele. Depois soltou o cabelo e pediu:

 - Mem, podeis trazer o hidromel?

O almocreve trouxe o cantil e sentou-se na beira do colchão, enquanto Zulmira retirava os ganchos à filha, confessou:

 - Mem tive muitas saudades daquele dia nos banhos.

Zaida riu-se e exclamou:

 - Eu também!

Mem revelou idênticos sentimentos. Ao longo daquele ano, custara-lhe muito não estar com elas e por isso decidira falar com Abu Zakharia.

Então, Zulmira piscou o olho à filha.

- Acho que o Mem querido se enamorou de nós.

Zaida soltou uma risadinha, mas Zulmira franziu a testa e perguntou:

 - Não haveis estado com as outras? Com a criadita?

Mem não lhes mentiu, mas admitiu não se encantar, revelando que acabava sempre a pensar nelas.

Zaida sorriu, contente com o que estava a ouvir, mas Zulmira amuou.

 - Desapontei-vos? -  perguntou Mem?

Zulmira fez uma careta e murmurou, encolhendo os ombros:

 - Sois homem e bonito, que se pode fazer?

De seguida, deitando-se no colchão recordou:

 - Em Coimbra, as mulheres dos haréns ensinam o amor umas às outras com livros e cremes, mensagens e pedras quentes, quando estão com ânsias.

Sorriu à filha dando-lhe uma festa na cara.

_ A Zaida é diferente da Fátima.

Olhou para o fundo da gruta, onde dormia a filha mais velha e disse:

 - Aquela é arisca, nunca se daria bem num harém.

Depois encostou a cabeça ao ombro de Zaida. Esta é parecida comigo e com a avó.

Enquanto falava, Zulmira começou a tirar o seu alifafe e pouco depois estava nua.

O almocreve sentiu-se com muito calor e admitiu que devia ser do hidromel e do haxixe que ardia na fogueira, dentro do pote. Depois de dar um novo gole no cantil, Zulmira arqueou-se um pouco para trás e murmurou:

 - Ajudai-me...

Zaida molhou a mão com um pouco de hidromel, como se fosse creme, e com as mãos, começou a mãe.

- É assim nos haréns, Mem querido – explicou Zulmira.

Fascinado, o almocreve ouviu-a perguntar:

 - Porque não me ajudais também?

Mem começou a fazê-lo com gosto, mas algum tempo depois, Zulmira mudou subitamente de ideias e sussurrou.

 - Esperai! Quero presentear-vos Mem querido.

Mandou deitá-lo de costas, e depois colocou-se do lado direito dele, enquanto Zaida se instalava do lado oposto. Despiram-lhe o saiote e começaram ambas a beijá-lo e Mem sentiu que a gruta se transformara num paraíso.

A dado momento, Zulmira exigiu-lhe que ele a amasse e Mem assim fez, e quando terminaram ficaram deitados.

Ao lado deles, Zaida também sorria, e Mem arqueou as sobrancelhas, como se lhe perguntasse se ela também desejava ser amada por ele, mas a rapariga responde:

- Um dia, Mem, prometo-vos. Hoje é a noite da minha mãe.


Quando Zaida me relatou o sucedido na caverna, fiquei atordoado.

Como é que Mem seduzia tão belas mulheres? – Eu sempre fui tímido, limitei-me a amar a minha Maria a vida toda e por isso admirava o sucesso que o almocreve fazia.


Mais tarde, cheguei à conclusão de que o seu segredo, era dar-lhes atenção. Mem fazia das mulheres o centro do mundo e elas adoravam-no também por isso. Mesmo depois de não as ter conseguido salvar, Zulmira e Zaida continuaram a amá-lo.

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