(Domingos Amaral)
Episódio Nº 166
Deitando a cabeça para trás, Zulmira fechou os olhos e disse:
-
Tenho saudades desses tempos belos. Há onze anos que já não sei o que é o amor.
Enquanto a mãe falava, Zaida levantou-se e
fora sentar-se num grande e fofo colchão onde a bruxa devia dormir.
Mãe, não queres vir conversar para aqui ? – perguntou.
Zulmira foi ter com a filha. Pisou o colchão
e, agradada, sentou-se nele. Depois soltou o cabelo e pediu:
- Mem,
podeis trazer o hidromel?
O almocreve trouxe o cantil e sentou-se na
beira do colchão, enquanto Zulmira retirava os ganchos à filha, confessou:
-
Mem tive muitas saudades daquele dia nos banhos.
Zaida riu-se e exclamou:
-
Eu também!
Mem revelou idênticos sentimentos. Ao
longo daquele ano, custara-lhe muito não estar com elas e por isso decidira
falar com Abu Zakharia.
Então, Zulmira piscou o olho à filha.
- Acho que o Mem querido se enamorou de
nós.
Zaida soltou uma risadinha, mas Zulmira
franziu a testa e perguntou:
-
Não haveis estado com as outras? Com a criadita?
Mem não lhes mentiu, mas admitiu não se
encantar, revelando que acabava sempre a pensar nelas.
Zaida sorriu, contente com o que estava a
ouvir, mas Zulmira amuou.
-
Desapontei-vos? - perguntou Mem?
Zulmira fez uma careta e murmurou,
encolhendo os ombros:
-
Sois homem e bonito, que se pode fazer?
De seguida, deitando-se no colchão
recordou:
-
Em Coimbra, as mulheres dos haréns ensinam o amor umas às outras com livros e
cremes, mensagens e pedras quentes, quando estão com ânsias.
Sorriu à filha dando-lhe uma festa na
cara.
_ A Zaida é diferente da Fátima.
Olhou para o fundo da gruta, onde dormia a
filha mais velha e disse:
-
Aquela é arisca, nunca se daria bem num harém.
Depois encostou a cabeça ao ombro de Zaida.
Esta é parecida comigo e com a avó.
Enquanto falava, Zulmira começou a tirar o
seu alifafe e pouco depois estava nua.
O almocreve sentiu-se com muito calor e
admitiu que devia ser do hidromel e do haxixe que ardia na fogueira, dentro do
pote. Depois de dar um novo gole no cantil, Zulmira arqueou-se um pouco para trás
e murmurou:
-
Ajudai-me...
Zaida molhou a mão com um pouco de
hidromel, como se fosse creme, e com as mãos, começou a mãe.
- É assim nos haréns, Mem querido –
explicou Zulmira.
Fascinado, o almocreve ouviu-a perguntar:
-
Porque não me ajudais também?
Mem começou a fazê-lo com gosto, mas algum
tempo depois, Zulmira mudou subitamente de ideias e sussurrou.
-
Esperai! Quero presentear-vos Mem querido.
Mandou deitá-lo de costas, e depois
colocou-se do lado direito dele, enquanto Zaida se instalava do lado oposto. Despiram-lhe
o saiote e começaram ambas a beijá-lo e Mem sentiu que a gruta se transformara
num paraíso.
A dado momento, Zulmira exigiu-lhe que ele
a amasse e Mem assim fez, e quando terminaram ficaram deitados.
Ao lado deles, Zaida também sorria, e Mem
arqueou as sobrancelhas, como se lhe perguntasse se ela também desejava ser
amada por ele, mas a rapariga responde:
- Um dia, Mem, prometo-vos. Hoje é a noite
da minha mãe.
Quando Zaida me relatou o sucedido na
caverna, fiquei atordoado.
Como é que Mem seduzia tão belas mulheres?
– Eu sempre fui tímido, limitei-me a amar a minha Maria a vida toda e por isso
admirava o sucesso que o almocreve fazia.
Mais tarde, cheguei à conclusão de que o
seu segredo, era dar-lhes atenção. Mem fazia das mulheres o centro do mundo e
elas adoravam-no também por isso. Mesmo depois de não as ter conseguido salvar,
Zulmira e Zaida continuaram a amá-lo.
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