sexta-feira, janeiro 08, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 149






















Chamoa levou as mãos ao peito. Só ouvia falar em perigos, invasões, guerras. Aflita partilhou os seus terrores.

 - A criança que eu carrego e a de vossa mãe vão nascer no meio de uma guerra. Tenho medo, medo por elas, medo por vós!

O príncipe recordou-se das palavras de Celanova, que temia também a guerra, como a maioria das mulheres. Irritado declarou:

 - Já vos perdi, não vou perder o Condado!

Prometeu que ia lutar contra a mãe e contra o Trava e, se preciso, contra Afonso VII, recusando-se à vassalagem. E iria igualmente defender Toronho e Celanova que, tal como Límia, Astorga e Zamora, eram territórios que lhe pertenciam.

Chamoa bateu as pestanas, receosa e perguntou.

 - E meu marido? – Tereis de lutar contra ele?

Afonso Henriques manteve-se pensativo por uns instantes, e depois um brilho novo nasceu-lhe nos olhos, quando exclamou:

- Tendes de o convencer a juntar-se a mim! Com Paio Soares os portucalenses seriam muito mais fortes!

Chamoa, sabendo da improbabilidade da situação, sentou-se num banco e lamentou-se:

- Meu marido e meu amado em guerra! Meu Deus, acudi-me!

De forma inesperada nasceu nela um impulso de revolta contra aquelas circunstâncias, pois confessou:

- Se não esperasse um filho, fugiria convosco hoje mesmo!

Contente, o príncipe aproximou-se e com os dedos da mão procurou secar-lhe os olhos molhados, sorrindo-lhe. Chamoa fungou mas depois riu-se, como uma criança que faz uma descoberta e comentou:

 - Haveis estado com Raimunda, desde Viseu? Sei que a filhais! Meu tio Fernão e meu marido também têm espiões!

Afonso Henriques olhou-a de novo nos olhos e garantiu que desde a Páscoa não voltara a estar com a outra. Chamoa tinha dúvidas como sempre têm as mulheres. Então, o príncipe disse numa voz meiga:

 - É de vós que preciso, como a terra precisa da chuva e do sol!

A relutância da rapariga foi vencida e encantada com esta declaração tocou-lhe na barba e murmurou:

- Está mais crescida. Encostando a sua cara à dele fechou os olhos e confessou:

 - Quando meu marido entra em mim, é em vós que eu penso.

Afonso Henriques beijou-a e abraçou-a com ternura, apenas com o silêncio e uma vela trémula como testemunhas. Mas logo Chamoa recordou:

 - Não podemos, estou grávida!

Enervado, para combater a tentação, Afonso Henriques afastou-se e Chamoa temeu que ele se fosse embora.

Esperai! A minha mãe diz que podemos...murmurou. Aconselhou-me que nos encontrássemos em segredo.

Depois de um momento pasmado, o príncipe ganhou novo alento e reaproximou-se exclamando:

 - Aqui ninguém nos vê, ninguém nos ouve!

Porém, ela continuava ansiosa, temia a chegada do marido e voltou a recuar. Afonso Henriques, cada vez mais entusiasmado, sugeriu:

 - Beija-me como em Viseu!

Ela chegou a ajoelhar-se, mas quando lhe abriu a dalmática ouviu-se grande algazarra lá fora. Aterrada, Chamoa pôs de pé.


 - Será meu marido que chega? 

Site Meter