(Domingos Amaral)
Episódio Nº 149
Chamoa levou as mãos ao
peito. Só ouvia falar em perigos, invasões, guerras. Aflita partilhou os seus
terrores.
- A criança que eu carrego e a de vossa mãe
vão nascer no meio de uma guerra. Tenho medo, medo por elas, medo por vós!
O príncipe recordou-se das
palavras de Celanova, que temia também a guerra, como a maioria das mulheres.
Irritado declarou:
- Já vos perdi, não vou perder o Condado!
Prometeu que ia lutar contra
a mãe e contra o Trava e, se preciso, contra Afonso VII, recusando-se à
vassalagem. E iria igualmente defender Toronho e Celanova que, tal como Límia,
Astorga e Zamora, eram territórios que lhe pertenciam.
Chamoa bateu as pestanas,
receosa e perguntou.
- E meu marido? – Tereis de lutar contra ele?
Afonso Henriques manteve-se
pensativo por uns instantes, e depois um brilho novo nasceu-lhe nos olhos,
quando exclamou:
- Tendes de o convencer a
juntar-se a mim! Com Paio Soares os portucalenses seriam muito mais fortes!
Chamoa, sabendo da
improbabilidade da situação, sentou-se num banco e lamentou-se:
- Meu marido e meu amado em
guerra! Meu Deus, acudi-me!
De forma inesperada nasceu
nela um impulso de revolta contra aquelas circunstâncias, pois confessou:
- Se não esperasse um filho,
fugiria convosco hoje mesmo!
Contente, o príncipe
aproximou-se e com os dedos da mão procurou secar-lhe os olhos molhados,
sorrindo-lhe. Chamoa fungou mas depois riu-se, como uma criança que faz uma
descoberta e comentou:
- Haveis estado com Raimunda, desde Viseu? Sei
que a filhais! Meu tio Fernão e meu marido também têm espiões!
Afonso Henriques olhou-a de
novo nos olhos e garantiu que desde a Páscoa não voltara a estar com a outra.
Chamoa tinha dúvidas como sempre têm as mulheres. Então, o príncipe disse numa
voz meiga:
- É de vós que preciso, como a terra precisa
da chuva e do sol!
A relutância da rapariga foi
vencida e encantada com esta declaração tocou-lhe na barba e murmurou:
- Está mais crescida.
Encostando a sua cara à dele fechou os olhos e confessou:
- Quando meu marido entra em mim, é em vós que
eu penso.
Afonso Henriques beijou-a e
abraçou-a com ternura, apenas com o silêncio e uma vela trémula como
testemunhas. Mas logo Chamoa recordou:
- Não podemos, estou grávida!
Enervado, para combater a
tentação, Afonso Henriques afastou-se e Chamoa temeu que ele se fosse embora.
Esperai! A minha mãe diz que
podemos...murmurou. Aconselhou-me que nos encontrássemos em segredo.
Depois de um momento
pasmado, o príncipe ganhou novo alento e reaproximou-se exclamando:
- Aqui
ninguém nos vê, ninguém nos ouve!
Porém, ela continuava
ansiosa, temia a chegada do marido e voltou a recuar. Afonso Henriques, cada
vez mais entusiasmado, sugeriu:
- Beija-me como em Viseu!
Ela chegou a ajoelhar-se,
mas quando lhe abriu a dalmática ouviu-se grande algazarra lá fora. Aterrada,
Chamoa pôs de pé.
- Será meu marido que chega?
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