Stonehenge |
Idade da Pedra
Há cerca de 4.500 anos, começava a chegar ao
fim o tempo da Idade da Pedra. Ao longo de muitos milhares de anos, as pedras
colocaram os homens, todos os homens, em situação de igualdade, verdadeiras
comunidades de pessoas que eram iguais do nascimento à morte.
As pedras chegavam para todos, ninguém era rico
ou pobre por ter mais ou menos pedras. As pedreiras existiam, estavam ali,
enormes, à disposição de todos, de tão grandes que eram tinham mesmo de ser de
todos...
O desafio não estava em ter pedras mas sim em
roubá-las à pedreira, cortá-las, transportá-las, arrastá-las, por vezes mais de
200 Km ,
por mar e terra, dispô-las no terreno, fazer com elas autênticos puzzles,
marcos para assinalar e honrar os mortos, a comunidade e a natureza, o que era um imenso esforço colectivo.
Numa primeira fase, o monumento de Stonehenge, pois
é nele que estou a pensar, no Sul de Inglaterra, o mais importante de todos que
existiam à época na Europa, foi construído inicialmente por blocos de cerca de
3 toneladas, de uma rocha azul, vindos de uma pedreira no País de Gales, a mais
de 200 km ,
que já foi localizada e identificada pois um desses blocos, já talhado, ficou
lá sem ter seguido viagem.
Pareceu aos historiadores uma missão impossível
o transporte dessas pedras mas, quando um povo quer qualquer coisa, do fundo da
sua alma, ele consegue e esta explicação motivacional é o segredo para grandes
sucessos, e para este concretamente.
Mais tarde, numa segunda fase da vida de
Stonehenge, os blocos de pedra estavam mais concentrados, alguns em cima de
outros, em lentel, com o peso até 30 toneladas e oriundos de pedreiras que se situavam a uns 30 km de distância.
Uma vez dispostos, por entre eles, na noite de
Solesticio de Inverno, milhares de pessoas, eufóricas, davam as boas vindas ao
novo ano espreitando o pôr do sol alinhado com as pedras.
Eram comunidades a sério, fraternas, de pessoas
iguais, que tinham entre si o compromisso do esforço de arrastar pedras quando
nada mais tinham do que cordas, troncos e... mais pedras, para além de uma
inteligência que era igual à nossa mas sem os conhecimentos que temos agora e, claro, sem
tecnologia.
Stonehenge, na parte Sul de Inglaterra, na
planície de Salsbury, um local marcado no terreno por dois sulcos paralelos extensos, que
então ninguém sabia explicar a sua proveniência e que, para agravar ainda mais
o mistério, por um acaso cosmológico, apontavam para o horizonte no Solstício de Inverno, especialmente importante, porque marcava a entrada de um Novo Ano quando não
havia relógios nem calendários.
Os Festejos deste Solstício davam lugar à
maior concentração de britânicos que vinham de todos os pontos da ilha, dos
mais distantes, a norte, com os seus animais, numa viagem que poderia demorar
um mês, para festejarem, empanturrando-se de comida, e de bebida, certamente,
pois conhecendo os cereais saberiam, com certeza, da levedura, embora o álcool
não tivesse deixado vestígios, ao contrário dos alimentos sólidos.
Stonehenge, era, nessa altura para aqueles
povos, o centro do Universo, um sítio escolhido pelos deuses para a celebração
da vida.
As incógnitas de que o local se rodeava
emprestavam-lhe uma força mágica pois só podiam ser explicadas pela intervenção
dos deuses, essas entidades poderosas que comandavam a vida dispondo dela a seu
belo prazer, do nascimento à morte, e que para tudo serviam de explicação.
Hoje sabe-se... mas o que não se sabe hoje?...
– Os sulcos paralelos que apontavam na direcção
do Solstício foram feitos pelo deslizamento de glaciares, grandes massas de
gelo, que depois desapareceram e deixaram as suas marcas no terreno de natureza
calcárea.
Por um acaso cosmológico, essas rectas
paralelas no terreno ficaram a apontar para o horizonte no ponto onde o sol se
punha no Solsticio de Inverno.
Tudo isto foi observado pela curiosidade atenta
das populações que não conseguiram, no entanto, nenhum explicação pelo que só
podia ser mesmo uma comunicação dos deuses.
Um dia, um homem, vindo do continente europeu, de
uma região de entre a França e a Suíça, um arqueiro, englobado numa força
invasora, - foram encontrados outros 200 esqueletos como o dele - apresentou-se
e desafiou aquela comunidade fraterna que só tinha paus, cordas e pedras, com
uma jóia de metal, uma adaga de cobre, precisamente, e o futuro mudou.
Finalmente, alguém ali era rico, diferente de
todos os outros, possuía jóias e, quando morreu já não foi cremado como os outros,
cinzas amontoadas com as da restante comunidade, não, teve as honras de um enterro.
No seu sepulcro foram encontrados cerca de 90
obejectos comprovando a sua importância em vida na sociedade a que pertencia. O seu esqueleto, muito bem preservado, é o “ai
Jesus” dos cientistas que o estudam.
Parece inacreditável, mas 4.000 anos depois da
primeira pessoa rica, portadora de uma jóia - uma adaga de cobre - ter entrado
nas Ilhas Britânicas, até aí um mundo das pedras, essas mesmas que servem hoje os árabes
injustiçados para as atirarem nas ruas contra as forças da ordem, blindadas da cabeça aos pés..., a riqueza evoluiu muito, de tal forma que 10 homens, apenas 10, possuem uma fortuna calculada em quase 540 mil milhões de euros, mais do que a totalidade
da riqueza de muitos países por esse mundo fora.
E não se pense que estas fortunas se fizeram à
margem das leis, de forma criminosa, não, de forma alguma. Nem sequer são dados
estatísticos, são 10 pessoas concretas, conhecidas, dos sectores das tecnologias,
têxteis e imobiliária, sem que qualquer sistema correctivo tenha interferido
para impor alguma moderação.
Por outras palavras, 1% da população do planeta
irá ter, este ano que entrou agora, 50% da riqueza do mundo. Até este ano era
de 6%.
Quando, por volta de há 4.000 anos atrás, esse
guerreiro de uma força invasora europeia, entrou nas Ilhas Britânicas, levando
consigo uma simples adaga de cobre, nesse dia, começou o fim da Idade da Pedra e teve início a Idade dos Metais, das jóias, dos ricos e dos pobres...
A cultura do povo Beaker, a que pertenciam os
invasores, oriundos da Europa Central, da zona dos Alpes, acabou por seduzir a
população que vivia em Stonehenge e o monumento com os seus Festejos do
Solstício, foi perdendo importância.
Uma nova forma de viver a vida seria adopt ada: a do individualismo, das jóias, das
desigualdades. Para trás, ficou a sociedade que só tinha pedras e na qual todos
eram iguais, verdadeiras comunidades onde riqueza era um conceito inexistente.
Nasciam iguais, viviam iguais e não se
justificava um tratamento diferente na morte. No local onde foram encontrados
os seus restos, em Stonehenge, lá estava o que ficou dos ossos cremados, que
eram de homens, mulheres e crianças... famílias inteiras, todos misturados, não
havia ninguém importante.
A cultura do povo Beaker, dos invasores, da desigualdade,
dos pobres e dos ricos, dos que têm jóias e dos que nada têm, introduzida cerca
de 2200 anos A.C. no Sul de Inglaterra, veio para ficar.
O povo
de Stonehenge aderiu a ela, preferiu o individualismo ao comunitarismo das
pedras.
Era esse, afinal, o estilo de vida que as
pessoas vieram a escolher porque, bem vistas as coisas, não somos todos iguais,
longe disso... mas, sem nada para disputar, só com pedras, a margem para as
diferenças ficava reduzida à imaginação engenhosa da inteligência de alguns
desses homens que se impunham pelas soluções que descortinavam para resolver
problemas perante meios tecnológicos inexistentes mas que, no fundo, não justificava desigualdades.
Mas o sistema individualista evoluiu, deformou-se, ganhou
vícios terríveis e 4000 anos depois, a riqueza está, de tal forma concentrada na mão de meia dúzia de pessoas, que as fortunas despendidas
pelos seus possuidores em obras assistenciais, por todo o mundo, no seu
conjunto, equi vale a autênticos
Orçamentos de Estado, numa espécie de função reparadora das consequências dessas
desigualdades.
A escolha tinha sido feita 2000 AC , no Sul de
Inglaterra, na presença do primeiro objecto de riqueza, uma adaga de cobre!
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