(Domingos Amaral)
Episódio Nº 146
Reparei que Afonso Henriques
a mirava, subjugado, num enamoramento evidente, que mortificava minha prima.
Nesse momento o prior
questionou o meu pai:
- Há algum parentesco entre vós?
Todos se riram, e
naturalmente ele negou, tal como Teresa. O mesmo se passou comigo e com Maria.
Esclarecido, Teotónio perguntou:
- Amais Teresa de Celanova?
Meu pai e Teresa confirmaram
o seu sentimento mútuo, tendo eu e Maria jurado de forma idêntica.
Agradado, Teotónio fez um
sinal e dois paraninfos trouxeram cada um a sua salva de prata, onde se via um
anel e um pergaminho.
O prior de Viseu pegou
primeiro no pergaminho, as arras de meu pai e leu:
- Doo a Teresa de Celanova...
Além de terras e um castelo,
a minha futura madrasta recebia maravedis, animais e vinho e ainda um anel de
ouro cravejado de pedras preciosas.
Nos olhares das mulheres,
houve brilhos ligeiramente invejosos, pois era um dote valioso e Teresa de
Celanova corou, emocionada e agradecida.
De seguida, Teotónio pegou
no anel e aproximou-o da mão dela que estava enluvada pois nunca antes casara.
O prior orou à Santíssima
Trindade e foi colocando a anel à vez, primeiro no polegar, depois no indicador
e, finalmente, no dedo maior de Teresa, onde o deixou.
Então, meu pai recitou:
- Com este anel vos esposo, com este ouro vos
honro, com este dote vos doto!
A assistência aplaudiu,
enquanto Teotónio abençoava as aras.
Depois o ritual repetiu-se
comigo e com minha Maria. Devo confessar que estava muito nervoso. Atrapalhado
troquei as palavras “esposo” e “honro”, e Teotónio obrigou-me a repetir a frase
certa, para gáudio da plateia, em especial de Chamoa, que se ria muito, embora
lhe corressem lágrimas pela cara, comovida com a felicidade da irmã.
A missa foi dita ali mesmo,
em frente da porta principal da igreja, onde havia sido colocado um altar
improvisado. Depois de rezado o Padre-Nosso, nós, os quatro nubentes,
deitámo-nos no chão.
Dei a mão a Maria e meu pai
deu a sua a Teresa de Celanova. Os paraninhos reapareceram então, trazendo dois
grandes lençóis brancos.
O primeiro cobriu meu pai e
Teresa e o segundo tapou-me a mim e a Maria; ficando apenas as nossas quatro
cabeças de fora.
A multidão bateu palmas,
mais uma vez, e Teotónio deu-nos a bênção nupcial, gesto com que terminou a
cerimónia.
A meio do jantar que se
seguiu, meu tio Ermígio Moniz, protestou junto do príncipe a ausência de Dona
Teresa, mas ele apenas comentou:
- Não vos incomodeis. Assim, humilha várias
famílias. E o Trava também, nem ao casamento da sobrinha veio!
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