quarta-feira, fevereiro 24, 2016

As elites portuguesas...

















Somos um país pequeno, pobre e endividado, mergulhado num Orçamento que é corrigido, alterado e aprovado em Bruxelas, muito embora as horas de discussão, à volta dele, dos nossos deputados no Parlamento.

Somo, assim, uma espécie de país a fingir, que faz de conta de que é mas não é, ou que perdeu a capacidade de o ser.

O despesismo de Sócrates, e não só, a situação de pré banca rota, o recurso à troyka em 2011, as condições que nos foram impostas para nos emprestarem o dinheiro, a intervenção punitiva de Passos Coelho e do seu Ministro das Finanças, vindo de Bruxelas de propósito, com o seu “brutal aumento de impostos”, constituíram-se em  momentos humilhantes que os portugueses viveram e que nada ajudaram à sua auto-estima.

Poderíamos, então, ter acabado deitados no sofá, numa consulta da especialidade, para que o psicanalista nos ajudasse naquela depressão...

É uma espécie de sina que nos persegue e tem a ver com as nossas elites políticas, mas também económicas e sociais, que desde sempre nos votaram ao desprezo.

Se formos à nossa história procurar os caminhos da riqueza, salta à vista que ela sempre passou pelas mãos de um reduzido circulo de pessoas, em que a solidariedade estava circunscrita a entendimentos de negócios, uns com os outros, dentro de meia dúzia de famílias, se tanto, e que ignoravam tudo o resto.

Lembro o meu Prof. de Economia, Alfredo de Sousa, que em 1961, perguntava: -  “Quem manda em Portugal? -  e lá vinha a meia dúzia de famílias ...

Não era nenhuma fatalidade, era um propósito, uma política, uma tentativa de perpetuação do dinheiro e do poder sempre nas mesmas mãos que, como viemos a saber, deu maus resultados.

Fomos uma comunidade que nunca funcionou como tal. Em 1960, éramos um país de analfabetos com uma pequena percentagem de alfabetizados, quando os portugueses iam de salto para França para fugir à fome e depois à guerra, e assim foi, intencionalmente, até 1974.

Preparar uma sociedade para que seja o motor de um país exige que as elites pensem na população e invistam nela, como foi feito no pós-guerra nos países europeus.

O que se passa agora na Europa é uma questão de falta de solidariedade para com os países do Sul, por parte da Alemanha, mas também uma questão de falta de inteligência, por uma aposta no futuro.

É essa solidariedade que está a faltar na Europa e por isso ela funciona em contra-ciclo, com uma Alemanha egoísta, que tem super-avites financeiros no fim do ano quando, quase todos os restantes países, têm deficites.

O melhor resultado das finanças alemãs, desde a reunificação, aconteceu o ano passado, com um excedente de 19.400 milhões de euros...

Esta desigualdade, que tem directamente a ver com ausência de solidariedade é, inclusivamente, violadora das regras, pois tanto os défices como os super-avites, para alem de determinados limites, constituem infracções aos Tratados.

Mas a maior infracção tem a ver com as desigualdades e injustiças que provocam e que podem levar à desagregação da Europa como projecto político.

A Alemanha, mais uma vez, no longo prazo, não está a ser inteligente.

Liderar a Europa por mérito não é condenável. Sempre alguém terá que mandar... mas, atenção aos “caminhos”!

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