(Domingos Amaral)
Episódio Nº 209
Em Coimbra o Trava gritara
de raiva durante três dias.
- Só me dais filhas!
Amputado dessa tremenda
vantagem, depressa deixara cair o desejo de emboscar Afonso Henriques
atraindo-o para um bafordo, e moera a cabeça a engendrar nova cilada.
Porém, os fiascos
somavam-se. Uma segunda mensagem de Afonso VII repetira a primeira: o rei não
iria intervir na luta entre mãe e filho e Sancha Henriques recuara nas suas
intenções iniciais, convencida pelo seu marido, o Braganção.
Entre a mãe e o irmão,
decidira não tomar partido.
Para terminar o rol de
desapontamentos, os esperados reforças que deviam vir do norte da Galiza,
trazidos por Peres Cativo, não eram mais de duzentos homens em vez dos
prometidos mil.
Fernão Peres de Trava exigiu
explicações e o outro respondera:
- Nosso pai não me deixou trazer mais.
Era uma desfeita inesperada,
pois o Trava estava seguro de que o seu progenitor, o Conde Pedro Froilaz, o
ajudaria. Pelos vistos, o mais poderoso e astuto nobre de Galiza não apoiava
Dona Teres.
Na tarde anterior, o
ambiente no acampamento, montado a duas léguas de Guimarães carregara-se de
recriminações, e todos temiam que o ascendente militar que tinham não fosse
suficiente.
Três mil homens contra dois
mil. Será que basta?
A interrogação que chegara
de Viseu, de Bermudo Peres de Trava, foi mal recebida e logo o irmão Fernão
insinuou que ele se estava a acobardar. Bermudo, como sempre, calou-se.
Daquela reunião saíra apenas
a proposta de um pacto pacificador mas atabalhoado, e tanto Paio Soares como
Peres Cativo que o foram apresentar, não julgavam que fosse a aceite.
Sobretudo Paio Soares, há
muito desanimado com a escolha que fizera, dois anos antes, em Viseu. Amava a mulher
mas para a conseguir apoiara o partido errado na guerra.
Nos últimos meses não tivera
coragem de romper com a rainha e agora sentia-se sozinho e abatido, enquanto
entrava em Guimarães.
Ainda por cima, Chamoa demorava a chegar de Tui.
Nós estávamos à espera
daqueles dois emissários, no pátio da alcáçova de Guimarães, junto ao príncipe.
Ali se encontravam meu tio,
Ermígio Moniz, meu pai, Egas Moniz, eu e meus irmãos, Afonso e Soeiro Viegas,
Soeiro Mendes de Sousa e seu filho Gonçalo e muitos mais nobres portucalenses
de Entre Douro e Minho, bem como os senhores de Límia e Celanova.
Dos revoltados da Galiza só
faltava Gomes Nunes de Pombeiro, que não comparecera ainda.
- Dizei, então, ao que
vindes – declarou o príncipe.
Paio Soares apresentou a
proposta de Dona Teresa. Em primeiro lugar, Afonso Henriques teria de prestar
vassalagem a Afonso VII, para evitar uma nova invasão do Condado.
Depois teria de apoiar as
pretensões de sua mãe ao trono de Galiza, obtendo assim um direito sucessório
imediato, válido depois da morte da mãe.
Caso o rei a confirmasse
rainha da Galiza, Dona Teresa cederia a regência do Condado Portucalense ao
filho.
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