terça-feira, abril 12, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 238











Eu estava no castelo e mal soube o que se passava, montei a cavalo e dirigi-me à Sé. Antes, dera ordens para tocarem as trombetas e, quando chegou à porta da cripta, informei todos que Coimbra fora atacada por um fossado de infiéis.

Juntámo-nos e ali acorreu também a maioria dos monges guerreiros da Ordem do Templo, que ainda se mantinham perto da Sé desde as cerimónias.

Uma primeira linha de tropas formou-se à frente do príncipe, protegendo-o e dei ordens para retirarmos para alcáçova. Mas nesse momento, Mem saíu da cripta e, ao saber do ataque disse tratar-se de Abu Zakaria, que vinha resgatar as mouras.

Perante a novidade, Afonso Henriques declarou prontamente:

 - Não podemos deixá-las aqui.

Protestei, dizendo que a segurança do príncipe de Portugal era mais importante do que as mouras, mas o meu melhor amigo não seguiu o meu conselho e decidiu defender a cripta.

Ouviam-se já muitos gritos e um tropel de cavalos subindo as ruas de Almedina. Instantes depois, um primeiro grupo de mercenários surgiu no pátio da Sé.

- É ele – murmurou Mem.

Um homem montado num cavalo branco, com um manto azul-escuro a envolvê-lo e um alfange maior do que os outros, liderava o bando.

Era Abu Zakaria, que mandou os seus muçulmanos cercarem-nos. De surpresa, ouviu-se um grito feminino, atrás de nós:

 - Abu, salva-nos!

Fátima à porta da cripta chamava o seu amado. O berro teve um efeito instantâneo no cordovês, que logo mandou atacar. Os sarracenos avançaram sobre os portucalenses e tivemos dificuldade em suster aquela carga.

No centro, Afonso Henriques espadeirava, comigo à sua direita e Ramiro e Gonçalo à sua esquerda. Pela primeira vez, os quatro combatíamos juntos.

Os templários que estavam connosco eram fortes e corajosos, mas tinham ainda pouca experiência de combate organizado, e os homens de Zakaria que, que dispunham da vantagem do número, começavam a ganhar terreno, empurrando-nos contra as paredes graníticas da Sé.

Eu sabia que dificilmente conseguíamos resistir durante muito tempo, e nem sequer podíamo-nos fechar na cripta pois não cabíamos. Disse-o a Ramiro e logo este mandou o Rato executar um,a manobra arriscada, cruzando as linhas sarracenas, para ir chamar o Peres Cativo.

O Velho e o Peida Gorda abriam espaço, e o Rato correu na direcção do castelo, com dois ou três infiéis à ilharga.

Irritado com esta manobra, de cujo objectivo suspeitava, Zakaria investiu, colocando-se a dois ou três metros de Afonso Henriques.

Em desafio gritou:

- Lutai comigo, príncipe! Só nós dois, um contra o outro!

Juntei-me mais a Afonso Henriques e Gonçalo fez o mesmo do lado oposto, enquanto o cordovês provocava:

 - Protegei o aleijadinho que só sabe bater na mãe!

O príncipe de Portugal deu um passo em frente, irado. Nunca sentira o meu amigo em tão grande risco mas tivemos sorte.

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