Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 238
Eu estava no castelo e mal
soube o que se passava, montei a cavalo e dirigi-me à Sé. Antes, dera ordens
para tocarem as trombetas e, quando chegou à porta da cript a,
informei todos que Coimbra fora atacada por um fossado de infiéis.
Juntámo-nos e ali acorreu
também a maioria dos monges guerreiros da Ordem do Templo, que ainda se
mantinham perto da Sé desde as cerimónias.
Uma primeira linha de tropas
formou-se à frente do príncipe, protegendo-o e dei ordens para retirarmos para
alcáçova. Mas nesse momento, Mem saíu da cript a
e, ao saber do ataque disse tratar-se de Abu Zakaria, que vinha resgatar as
mouras.
Perante a novidade, Afonso
Henriques declarou prontamente:
- Não podemos deixá-las aqui .
Protestei, dizendo que a
segurança do príncipe de Portugal era mais importante do que as mouras, mas o
meu melhor amigo não seguiu o meu conselho e decidiu defender a cript a.
Ouviam-se já muitos gritos e
um tropel de cavalos subindo as ruas de Almedina. Instantes depois, um primeiro
grupo de mercenários surgiu no pátio da Sé.
- É ele – murmurou Mem.
Um homem montado num cavalo
branco, com um manto azul-escuro a envolvê-lo e um alfange maior do que os
outros, liderava o bando.
Era Abu Zakaria, que mandou
os seus muçulmanos cercarem-nos. De surpresa, ouviu-se um grito feminino, atrás
de nós:
- Abu, salva-nos!
Fátima à porta da cript a chamava o seu amado. O berro teve um efeito
instantâneo no cordovês, que logo mandou atacar. Os sarracenos avançaram sobre
os portucalenses e tivemos dificuldade em suster aquela carga.
No centro, Afonso Henriques
espadeirava, comigo à sua direita e Ramiro e Gonçalo à sua esquerda. Pela
primeira vez, os quatro combatíamos juntos.
Os templários que estavam
connosco eram fortes e corajosos, mas tinham ainda pouca experiência de combate
organizado, e os homens de Zakaria que, que dispunham da vantagem do número,
começavam a ganhar terreno, empurrando-nos contra as paredes graníticas da Sé.
Eu sabia que dificilmente
conseguíamos resistir durante muito tempo, e nem sequer podíamo-nos fechar na
cript a pois não cabíamos. Disse-o a
Ramiro e logo este mandou o Rato executar um,a manobra arriscada, cruzando as
linhas sarracenas, para ir chamar o Peres Cativo.
O Velho e o Peida Gorda
abriam espaço, e o Rato correu na direcção do castelo, com dois ou três infiéis
à ilharga.
Irritado com esta manobra,
de cujo objectivo suspeitava, Zakaria investiu, colocando-se a dois ou três
metros de Afonso Henriques.
Em desafio gritou:
- Lutai comigo, príncipe! Só
nós dois, um contra o outro!
Juntei-me mais a Afonso
Henriques e Gonçalo fez o mesmo do lado oposto, enquanto o cordovês provocava:
- Protegei o aleijadinho que só sabe bater na
mãe!
O príncipe de Portugal deu
um passo em frente, irado. Nunca sentira o meu amigo em tão grande risco mas
tivemos sorte.
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