quarta-feira, abril 13, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 239






















Ouviu-se ainda a alguma distância uma cavalgada a chegar, e Ramiro gritou:

- É o Peres Cativo!

Abu Zakaria deve ter pressentido os iminentes reforços cristãos porque fez um derradeiro esforça, tentando atingir Afonso Henriques. A violência da sua investida foi tal que dois cavaleiros caíram e outros dois recuaram, forçando que Gonçalo e eu nos afastássemos um pouco do príncipe.

De repente, Zakaria estava em frente dele, mas logo um vulto emergiu, colocando-se entre os dois. Era Ramiro com o seu arco esticado e uma flecha preparada apontada ao cordovês, que estacou o cavalo, erguendo o seu escudo à frente do da cara e do corpo.

- Não o mateis! Gritou Afonso Henriques.

Estranhei aquela ordem, mas Ramiro cumpriu-a e não disparou a sua seta. Então, Zakaria, recuou sem virar costas, e os sarracenos perceberam que tinham perdido a refrega.

Peres Cativo, com quarenta cavaleiros atacava-lhes já o flanco, causando inúmeras baixas e Abu Zakaria dava ordens de retirada e os muçulmanos largaram a fugir a pé e a cavalo, em direcção à porta por onde tinham entrado.

Quis segui-los e montei um cavalo, mas o príncipe gritou:

 - Deixai-os ir!

Nas horas seguintes, descobrimos quinze muçulmanos mortos e dez cristãos, entre os quais quatro templários. Soubemos, igualmente, que Zakaria não atravessara o Mondego em frente à cidade mas mais abaixo, em Montemor-o-Velho, como muitos anos antes fizera o Califa Ali Yusuf, quando viera cercar Coimbra pela segunda vez.

Depois de uma curta viagem, alguns sarracenos, liderados pelo próprio Zakaria, tinham trepado pelas muralhas de Coimbra e matado as sentinelas, abrindo as portas aos que aguardavam da parte de fora.

- Por isso não os ouvimos, concluiu Peres Cativo.

Estávamos impressionados com a coragem e os estratagemas daquele cordovês, que tivera a ousadia de lançar um fossado secreto contra Coimbra.

Mem contou-nos de onde ele vinha e porque estava ali, e Afonso Henriques comentou:

 - Estou certo de que ouviremos falar dele nos próximos anos.

Gonçalo, irritado, protestou com Ramiro:

 - Porque não o haveis morto? – Estava na vossa mira!

Então o príncipe de Portugal declarou:

 - É covardia matar assim um guerreiro tão valoroso.

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