(Domingos Amaral)
Episódio Nº 239
Ouviu-se ainda a alguma
distância uma cavalgada a chegar, e Ramiro gritou:
- É o Peres Cativo!
Abu Zakaria deve ter
pressentido os iminentes reforços cristãos porque fez um derradeiro esforça,
tentando atingir Afonso Henriques. A violência da sua investida foi tal que
dois cavaleiros caíram e outros dois recuaram, forçando que Gonçalo e eu nos
afastássemos um pouco do príncipe.
De repente, Zakaria estava
em frente dele, mas logo um vulto emergiu, colocando-se entre os dois. Era
Ramiro com o seu arco esticado e uma flecha preparada apontada ao cordovês, que
estacou o cavalo, erguendo o seu escudo à frente do da cara e do corpo.
- Não o mateis! Gritou
Afonso Henriques.
Estranhei aquela ordem, mas
Ramiro cumpriu-a e não disparou a sua seta. Então, Zakaria, recuou sem virar
costas, e os sarracenos perceberam que tinham perdido a refrega.
Peres Cativo, com quarenta
cavaleiros atacava-lhes já o flanco, causando inúmeras baixas e Abu Zakaria
dava ordens de retirada e os muçulmanos largaram a fugir a pé e a cavalo, em
direcção à porta por onde tinham entrado.
Quis segui-los e montei um
cavalo, mas o príncipe gritou:
- Deixai-os ir!
Nas horas seguintes,
descobrimos qui nze muçulmanos mortos
e dez cristãos, entre os quais quatro templários. Soubemos, igualmente, que
Zakaria não atravessara o Mondego em frente à cidade mas mais abaixo, em
Montemor-o-Velho, como muitos anos antes fizera o Califa Ali Yusuf, quando
viera cercar Coimbra pela segunda vez.
Depois de uma curta viagem,
alguns sarracenos, liderados pelo próprio Zakaria, tinham trepado pelas
muralhas de Coimbra e matado as sentinelas, abrindo as portas aos que
aguardavam da parte de fora.
- Por isso não os ouvimos,
concluiu Peres Cativo.
Estávamos impressionados com
a coragem e os estratagemas daquele cordovês, que tivera a ousadia de lançar um
fossado secreto contra Coimbra.
Mem contou-nos de onde ele
vinha e porque estava ali, e Afonso Henriques comentou:
- Estou certo de que ouviremos falar dele nos
próximos anos.
Gonçalo, irritado, protestou
com Ramiro:
- Porque não o haveis morto? – Estava na vossa
mira!
Então o príncipe de Portugal
declarou:
- É covardia matar assim um guerreiro tão
valoroso.
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