terça-feira, abril 12, 2016

Tieta do Agreste
(Jorge Amado)


EPISÓDIO Nº 124

























DO REGRESSO A AGRESTE, CAPÌTULO NOTICIOSO POR EXCELÊNCIA NO QUAL TIETA CITA O EXEMPLO DO VELHO ZÉ ESTEVES

Ao regressar a Agreste para a festa da inauguração das benfeitorias na praça do Curtume, acompanhada pelo sobrinho Ricardo, Tieta quis saber de Leonora notícias de seus amores. A moça sorriu embaraçada, tomou das mãos da protectora:

- Não sei o que se passou, Mãezinha. Ascânio esteve fora durante dois dias, vendo uns trabalhos da prefeitura, voltou diferente. Sempre entusiasmado com a história do turismo, sempre terno, porém menos reservado. 

Me disse que, com a morte do prefeito, vai ser eleito para o cargo, a situação dele vai mudar. Está 
exaltado, nem parece o mesmo. Até me beija, sabe? 

Outro dia, dona Perpétua deu flagrante na gente… Estou tão contente, Mãezinha. Aproveite enquanto é tempo, mais dia menos dia a gente arruma as malas e capa o gato.

- Ai, Mãezinha, nesse dia vou morrer.

- Ninguém morre de amor, como é mesmo que Barbozinha diz? De amor a gente vive.

Boa, devotada Carmô! Com todo o seu diploma de sabida, deixara-se enrolar pela trama de Tieta e, para impedi-la de apressar a data da partida, revelara a Ascânio a situação de Leonora, deflorada pelo calhorda do noivo. 

Acontecera exactamente o que Antonieta desejava. Ascânio, a par do acontecido, mudara imediatamente de conduta, tornando-se audacioso e beijoqueiro. Não tarará a perder o resto do acanhamento e a chamar a namorada aos peitos, arquivando os planos de casamento e lar, interessado tão somente em cama. Na cama tudo se resolve.

Tudo. Basta citar o exemplo do sobrinho Ricardo, quase louco de remorso e medo, apavorado, querendo desistir do seminário, sentindo-se leproso e condenado às penas eternas após ter dormido com a tia no areal de Mangue Seco.

Agora não quer outra ocupação, se pudesse passava o dia no fuque-fuque, adolescente deslumbrado, força estuante, potência sem limite, desejo infinito, ilimitada, dulcíssima estrovenga. Um temporal, um terramoto, uma festa!

A qualquer momento, nas dunas, no banho de mar, onde quer que seja e possa, ele a derruba e monta. 

Tieta está quebrada, moída, mordida, sugada, satisfeita, trêfega menina em férias, saltitante cabrita. Cabrita? Cabra velha que antes jamais recebera bode novo, de trouxa apenas desatada, insaciável garanhão.

Fogoso e exigente, meigo e exultante, Ricardo também mudara. Perdera o medo, enterrara o remorso mantendo, ao mesmo tempo, a vocação sacerdotal. Descobrira a bondade de Deus.

No sábado, no fim da tarde, quando os operários regressaram ao arraial do Saco, Ricardo os acompanhou na canoa de Jonas. De volta, irradiava serenidade no rosto juvenil e, encontrando Tieta na praia, oferecida no maiô a mostrá-la mais que a vesti-la, desviando os olhos, informara:

- Hoje vou dormir a Agreste, Jonas me leva na canoa.

- Hoje, por quê? Daqui a mais uns dias a gente vai para ficar. O principal está feito, do resto o Comandante se ocupa, basta a gente vir uma vez ou outra, passar um dia e uma noite. Hoje, por quê? Já se fartou de mim?

- Não diga isso nem por brincadeira. É que hoje me confessei, amanhã vou comungar, e se dormir
 
aqui… Volto amanhã mesmo. Me dê licença, me deixe ir.

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