(Domingos Amaral)
Episódio Nº 247
Tal como Hixam III, o seu
filho Hixam de Hisn Abi Cherif sentia que o califado de Córdova tinha terminado.
A dinastia dos Benu Umeyya nunca mais reinaria na Península – concluiu a
criada.
Estava encontrada a resposta
para a pergunta que nos consumira durante tanto tempo! Zulmira casara-se com
Hixam, o filho do último califa de Córdova. Portanto, Fátima e Zaida eram as
netas do derradeiro rei dos Benu Umeyya, “sangue real”, dissera a bruxa a Mem,
e assim era.
Um sangue que as tornava
perigosas, importantes rivais do califa de Marraquexe que temia que elas um dia
pudessem liderar uma revolta contra ele.
Por isso o califa Ali Yusuf
as deixara em Coimbra, doze anos antes e por isso mandara o assassin eliminá-las, bem como a Zulmira
e a Taxfin.
- Infelizmente, o canalha
berbere de Marraquexe vai continuar a tentar matar as minhas meninas! –
lamentou-se a criada.
Mem recusou aquela sombria
profecia e prometeu que Afonso Henriques nunca deixaria que alguém as magoasse,
mas a criada desconfiou.
- E vão deixar Abu Zhakaria
resgatá-las? Ele é um guerreiro fabuloso e, se casar com a Fátima podem fazer
renascer o Califado de Córdova. Não sei se os cristãos vão gostar! Mais tarde
ou mais cedo, Afonso Henriques vai perceber os perigos da existência de um
califado na Andaluzia.
Depois de um curto silêncio
Mem perguntou o que acontecera à gémea de Hixam de Hisn Abi Cherif, e a criada
contou que a rapariga enlouquecera, ainda jovem. Sempre vivera no castelo, mas
depois do acidente que vitimara o irmão desaparecera.
Nunca mais se soube dela –
murmurou a sombria criada.
O almocreve continuava
curioso e perguntou:
- Há pouco, haveis dito que o acidente de
Hixam havia sido causado por uma mulher. Foi a irmã que o matou?
A velha criada levou as mãos
à cara e começou a chorar. Depois culpou-se a si mesma, dizendo que era dela a
obrigação de cuidar da irmã de Hixam, a louca, que no seu desvario estudava
maldições e aprendera a brincar com bolas de fogo para atiçar as fogueiras.
O seu irmão Hixam proibira-a
da prática de tais brincadeiras perigosas mas naquela noite distraí-me –
confessou a criada.
Mem, com a mente a fervilhar,
perguntou:
- Bolas de fogo?
A serviçal acenou com a
cabeça, e Mem murmurou:
- A bruxa das cavernas...
Empolgado contou á mulher como
conhecera a mulher de negro, como ela o tinha ajudado, aquando da fuga das
mouras de Coimbra.
- Poderá ser a irmã gémea de
Hixam? – perguntou – A filha do último califa de Córdova?
A velha criada, atarantada,
sentou-se num banco. Contou que a louca continuava a viver na serra morena
depois da morte do irmão, num santuário de rochas, mas um dia desapareceu, mais
ou menos na altura em que
Zulmira e as meninas foram com Taxfin para Coimbra.
Contudo, a mulher continuava
relutante em acreditar que a desvairada da serra Morena fosse a bruxa que Mem
conhecera.
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