sábado, abril 30, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 254



















Revoltada com tal ideia, Dona Teresa zangou-se:

 - Vosso pai daria voltas no túmulo! O islão e a cristandade não são para se unir! Temos de expulsar os sarracenos!

Depois desta proclamação veemente, mãe e filho calaram-se. Naquele quarto só se ouvia o assobio sinistro da respiração ruidosa de Dona Teresa, que parecia cada vez mais irregular.

Sentindo o fim desta chegar, Afonso Henriques aproximou-se um pouco mais, e executou uma última tentativa apaziguadora, pousando a sua mão direita na mão direita da mãe.

Tentou fazer-lhe uma festa ternurenta, mas logo Dona Teresa recolheu a mão, afastando-a da dele. Olhando o filho pela última vez, pediu-lhe sem sequer sorrir:

 - Agora ide-vos e deixai entrar o Fernão.

Teve um novo ataque de tosse ainda mais violento que os anteriores, contorcendo-se em espasmos e convulsões. Ao ouvirem aqueles tenebrosos sons, várias pessoas entraram no quarto, e uma delas era o seu amante galego.




Horas mais tarde, Dona Teresa morreu e Paio Mendes, arcebispo de  Braga, dirigiu as exéquias, com dignidade real, enterrando a rainha de Portugal num túmulo, na Sé, ao lado do seu marido, o conde Henrique.

Foi uma bonita e simples cerimónia, à qual também assisti junto a minha esposa Maria.

No final da missa, ainda dentro da Sé, Fernão Peres aproximou-se de Afonso Henriques aproximou-se de Afonso Henriques e declarou com firmeza:

 - Preparai-vos, vou fazer-vos a guerra e vencer-vos. Um dia, o Condado Portucalense será meu. E de minhas filhas.

O meu melhor amigo desembainhou a grande espada de seu pai, ergueu-a no ar e depois colocou-a à frente do rosto, beijando-a. De seguida olhou para o trava e declarou:

 - Junto aos túmulos de meu pai e de minha mãe, declaro-vos inimigo deste condado para sempre.

Cercado pelos portucalenses, que se haviam libertado do seu jugo, o Trava recuou calmamente, mas ainda ripostou:

 - Preparem-se para a guerra pois será longa e dura.

Estávamos lá todos. Os senhores da Maia, os de Lenhoso e de Baião, e muitos outros, meu pai, Egas, e o meu tio Ermígio Moniz, bem como meus irmãos, Gonçalo e seu pai, Soeiro de Sousa; o Braganção e Sancha Henriques, Peres Cativo e o arcebispo de Braga, Paio Mendes, e ainda João Peculiar e Teotónio, prior de Viseu.

E todos o ouvimos bem.

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