(Domingos Amaral)
Episódio Nº 254
Revoltada com tal ideia,
Dona Teresa zangou-se:
- Vosso pai daria voltas no túmulo! O islão e
a cristandade não são para se unir! Temos de expulsar os sarracenos!
Depois desta proclamação
veemente, mãe e filho calaram-se. Naquele quarto só se ouvia o assobio sinistro
da respiração ruidosa de Dona Teresa, que parecia cada vez mais irregular.
Sentindo o fim desta chegar,
Afonso Henriques aproximou-se um pouco mais, e executou uma última tentativa
apaziguadora, pousando a sua mão direita na mão direita da mãe.
Tentou fazer-lhe uma festa
ternurenta, mas logo Dona Teresa recolheu a mão, afastando-a da dele. Olhando o
filho pela última vez, pediu-lhe sem sequer sorrir:
- Agora ide-vos e deixai entrar o Fernão.
Teve um novo ataque de tosse
ainda mais violento que os anteriores, contorcendo-se em espasmos e convulsões.
Ao ouvirem aqueles tenebrosos sons, várias pessoas entraram no quarto, e uma
delas era o seu amante galego.
Horas mais tarde, Dona
Teresa morreu e Paio Mendes, arcebispo de Braga, dirigiu as exéqui as,
com dignidade real, enterrando a rainha de Portugal num túmulo, na Sé, ao lado
do seu marido, o conde Henrique.
Foi uma bonita e simples
cerimónia, à qual também assisti junto a minha esposa Maria.
No final da missa, ainda
dentro da Sé, Fernão Peres aproximou-se de Afonso Henriques aproximou-se de
Afonso Henriques e declarou com firmeza:
- Preparai-vos, vou fazer-vos a guerra e
vencer-vos. Um dia, o Condado Portucalense será meu. E de minhas filhas.
O meu melhor amigo
desembainhou a grande espada de seu pai, ergueu-a no ar e depois colocou-a à
frente do rosto, beijando-a. De seguida olhou para o trava e declarou:
- Junto aos túmulos de meu pai e de minha mãe,
declaro-vos inimigo deste condado para sempre.
Cercado pelos portucalenses,
que se haviam libertado do seu jugo, o Trava recuou calmamente, mas ainda
ripostou:
- Preparem-se para a guerra pois será longa e
dura.
Estávamos lá todos. Os
senhores da Maia, os de Lenhoso e de Baião, e muitos outros, meu pai, Egas, e o
meu tio Ermígio Moniz, bem como meus irmãos, Gonçalo e seu pai, Soeiro de
Sousa; o Braganção e Sancha Henriques, Peres Cativo e o arcebispo de Braga,
Paio Mendes, e ainda João Peculiar e Teotónio, prior de Viseu.
E todos o ouvimos bem.
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