De braçado, a caminho do offshore.... |
Os Ricos Não
Pagam Crises
O que mais me escandalizou nesta história da
fuga generalizada ao pagamento de impostos através de offshors, foi aquele
negócio da venda de um terreno petrolífero, num país africano, por 400 milhões
de dólares que se escaparam para uma offshore sem pagar impostos e, ali ao
lado, talvez por cima dele, não faço ideia, um Hospital Público deitava no chão
uma criança doente porque não tinha dinheiro para comprar a cama, apenas a
manta sobre a qual ela repousava o corpo.
É a natureza humana em todo o seu esplendor...
a mesma que leva a gestos e comportamentos de solidariedade e grande abnegação
de uns quantos e que despertam a nossa admiração.
É isto, admiração, por um lado, repulsa, por
outro... e não saímos daqui!
Evoluímos tanto no plano científico ao longo
dos últimos cem anos, em todos os ramos do conhecimento humano e marcámos passo
naquele que seria o mais importante: o comportamental nas relações de uns com
os outros.
A dimensão do escândalo da fuga aos
impostos, um pouco por todo o mundo, significa, mesmo, que nos “estamos nas
tintas” uns para os outros.
Os que têm mais não estão preocupados nem
querem saber dos que têm menos.
Não são comportamentos isolados de carácter
excepcional que possamos apontar com os dedos de uma mão, não, é de tal forma
uma prática generalizada que aqueles que não a seguem se devem sentir mal...
E o mais grave de tudo isto é que a sociedade
organizada, o Estado, o Governo e as suas Leis, apadrinham, silenciam, porque
tudo quanto agora se soube foi o resultado de uma investigação jornalística de
um grupo de centenas de profissionais - onde nós, portugueses, temos dois - ao
longo de muitos meses.
Não se trata, portanto, do resultado aturado
das máqui nas do Fisco, deste ou
daquele Estado, ou em colaboração entre elas, não! ... de tal maneira que
poderemos pensar em cumplicidade que começa agora a ser evidente.
Por isso, as primeiras reacções dos visados vão
todas no sentido de que nada fizeram de ilegal e os gabinetes de advogados que
redigiram as leis «a pedido» dos senhores do dinheiro, vão ganhar agora ainda
mais dinheiro a provarem em tribunal que os seus clientes se limitaram a
cumprir a Lei.
Até ao principio da 1ª G.G.M. (1914-18) este problema da fuga aos impostos não se punha. Em 1918, um cidadão francês, em cada 100 recebia 96 depois de pagar os impostos.
Estamos, portanto, face a um fenómeno que é
filho da revolução industrial inglesa dos fins do século XIX e do sistema
capitalista que a expandiu por todo o mundo e a tornou na maior “máqui na” de produzir riqueza que jamais se tinha
visto.
Milhões de postos de trabalho, milhões de
empresas, milhões de pessoas tiradas do campo, cidades a brotarem como
cogumelos com concentrações impensadas de pessoas, enfim..., devemos tudo isto
ao capitalismo, à iniciativa individual, à legítima ambição do lucro.
Mas devemos, também, ao mesmo capitalismo, as
enormes desigualdades na repartição da riqueza e agora, como estamos a acabar
de saber, à concentração, através de contas Off-Shore, de fortunas roubadas aos
países através de impostos não pagos.
Sou cépt ico,
a aliança entre os as pessoas de dinheiro e as que fazem as leis que regulam
esse mesmo dinheiro, nunca permitirá que os resultados sejam muito diferentes
destes, e também não acredito em grandes movimentos cívicos capazes de
amedrontar suficientemente os governos e os Estados de forma porem termo a essa
terrível aliança.
Mas vale a pena esperar para ver...
Mas vale a pena esperar para ver...
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