terça-feira, abril 05, 2016

De braçado, a caminho do offshore....
Os Ricos Não

Pagam Crises


















O que mais me escandalizou nesta história da fuga generalizada ao pagamento de impostos através de offshors, foi aquele negócio da venda de um terreno petrolífero, num país africano, por 400 milhões de dólares que se escaparam para uma offshore sem pagar impostos e, ali ao lado, talvez por cima dele, não faço ideia, um Hospital Público deitava no chão uma criança doente porque não tinha dinheiro para comprar a cama, apenas a manta sobre a qual ela repousava o corpo.

É a natureza humana em todo o seu esplendor... a mesma que leva a gestos e comportamentos de solidariedade e grande abnegação de uns quantos e que despertam a nossa admiração.

É isto, admiração, por um lado, repulsa, por outro... e não saímos daqui!

Evoluímos tanto no plano científico ao longo dos últimos cem anos, em todos os ramos do conhecimento humano e marcámos passo naquele que seria o mais importante: o comportamental nas relações de uns com os outros.

A dimensão do escândalo da fuga aos impostos, um pouco por todo o mundo, significa, mesmo, que nos “estamos nas tintas” uns para os outros.

Os que têm mais não estão preocupados nem querem saber dos que têm menos.

Não são comportamentos isolados de carácter excepcional que possamos apontar com os dedos de uma mão, não, é de tal forma uma prática generalizada que aqueles que não a seguem se devem sentir mal...

E o mais grave de tudo isto é que a sociedade organizada, o Estado, o Governo e as suas Leis, apadrinham, silenciam, porque tudo quanto agora se soube foi o resultado de uma investigação jornalística de um grupo de centenas de profissionais - onde nós, portugueses, temos dois -  ao longo de muitos meses.

Não se trata, portanto, do resultado aturado das máquinas do Fisco, deste ou daquele Estado, ou em colaboração entre elas, não! ... de tal maneira que poderemos pensar em cumplicidade que começa agora a ser evidente.

Por isso, as primeiras reacções dos visados vão todas no sentido de que nada fizeram de ilegal e os gabinetes de advogados que redigiram as leis «a pedido» dos senhores do dinheiro, vão ganhar agora ainda mais dinheiro a provarem em tribunal que os seus clientes se limitaram a cumprir a Lei.

Até ao principio da 1ª G.G.M. (1914-18) este problema da fuga aos impostos não se punha. Em 1918, um cidadão francês, em cada 100 recebia 96 depois de pagar os impostos.

Estamos, portanto, face a um fenómeno que é filho da revolução industrial inglesa dos fins do século XIX e do sistema capitalista que a expandiu por todo o mundo e a tornou na maior “máquina” de produzir riqueza que jamais se tinha visto.

Milhões de postos de trabalho, milhões de empresas, milhões de pessoas tiradas do campo, cidades a brotarem como cogumelos com concentrações impensadas de pessoas, enfim..., devemos tudo isto ao capitalismo, à iniciativa individual, à legítima ambição do lucro.

Mas devemos, também, ao mesmo capitalismo, as enormes desigualdades na repartição da riqueza e agora, como estamos a acabar de saber, à concentração, através de contas Off-Shore, de fortunas roubadas aos países através de impostos não pagos.

Sou céptico, a aliança entre os as pessoas de dinheiro e as que fazem as leis que regulam esse mesmo dinheiro, nunca permitirá que os resultados sejam muito diferentes destes, e também não acredito em grandes movimentos cívicos capazes de amedrontar suficientemente os governos e os Estados de forma porem termo a essa terrível aliança.

Mas vale a pena esperar para ver...

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