sábado, abril 23, 2016


Hospital de Santarem, que vi nascer há mais de 20 anos
O Dia de Ontem






















O dia de ontem não foi um bom dia para mim, nem podia ser quando se acaba no hospital. Cólicas, suores frios, contorsões, dores e o salvador telemóvel numa chamada SOS para a minha mulher que andava a passear com a minha neta: “estou a sentir-me mal, venham para casa!

Há uma parte menos nobre do nosso corpo que se pode dar ao luxo de não trabalhar durante uma semana e nós não morremos. Nada que se pareça com o coração, que só aguenta uns minutos, os rins, o fígado, partes importantes do corpo, nada como os intestinos que se permitem greves prolongadas de vários dias e nós, na melhor, aparentemente...

Ao fim de oito dias desabam as consequências: uns comprimidos inofensivos, para ajudarem e acontece o descalabro... as terríveis cólicas e a ida para o hospital.

A minha neta serviu-me, prestimosa e atenta, de amparo, preocupada, chamou todos os nomes a quantos se puseram à frente do carro da avó quando ela vinha para casa em meu socorro.

Eu, entretanto, já não estava amarelo, estava branco, embora me sentisse verde...

Presente à médica o tratamento era óbvio mas, primeiro tira o sangue para análises e lá vieram as maldades todas nas minhas desgraçadas veias ante de me deitar na marquesa, de lado, em decúbito dorsal entregue a duas jovens profissionais, uma pequenina outra grande, tanto uma como outra inexcedíveis em atenções e carinho.

Reconheço que sou piegas mas nestes momentos em que estamos frágeis apreciamos de especial maneira sentir, da parte de quem não nos conhece, não só a competência dos seus gestos mas também a gentileza a roçar a doçura das palavras.

Num Hospital Público, a troco do pagamento de uma simples taxa moderadora, receber estes serviços com a qualidade com que me foram prestados, fizeram-me sentir honrado por ter um país com cuidados de saúde, prestados por aquelas pessoas, anónimas, em que todas elas, da primeira à última, parecem ter sido escolhidas a dedo.

Tive sorte, poderão pensar, mas nas três vezes em que fui operado neste hospital – Hospital Distrital de Santarém -  e ontem, que está fresco na minha memória, o meu sentimento é de gratidão para com aquelas pessoas e, pessoalmente, a aposta num Hospital Particular, montado em Santarém há uns anos e entretanto comprado já pela CUF, é uma aposta perdida.

Nunca o trocarei pelo meu Hospital Público Distrital.

Hoje, é para mim, o dia da recuperação porque os 77 anos também já não ajudam muito, mas, o pior já passou, e embora não tendo sido nada fácil e muito menos agradável, resultou num teste admirável ao amor e cuidados extremos com que me presentearam a minha mulher e a minha neta.

Para todos vós, que me lêem, estejam atentos ao funcionamento dessa parte do nosso corpo menos nobre que dá pelo nome de intestinos!

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