O dia de ontem não foi um bom dia para mim, nem podia ser quando se acaba no hospital. Cólicas, suores frios, contorsões, dores e o salvador telemóvel numa chamada SOS para a minha mulher que andava a passear com a minha neta: “estou a sentir-me mal, venham para casa!
Há uma parte menos nobre do nosso corpo que se pode dar ao luxo
de não trabalhar durante uma semana e nós não morremos. Nada que se pareça com
o coração, que só aguenta uns minutos, os rins, o fígado, partes importantes do
corpo, nada como os intestinos que se permitem greves prolongadas de vários
dias e nós, na melhor, aparentemente...
Ao fim de oito dias desabam as consequências: uns comprimidos
inofensivos, para ajudarem e acontece o descalabro... as terríveis cólicas e a
ida para o hospital.
A minha neta serviu-me, prestimosa e atenta, de amparo, preocupada,
chamou todos os nomes a quantos se puseram à frente do carro da avó quando ela
vinha para casa em meu socorro.
Eu, entretanto, já não estava amarelo, estava branco, embora me
sentisse verde...
Presente à médica o tratamento era óbvio mas, primeiro tira o
sangue para análises e lá vieram as maldades todas nas minhas desgraçadas veias
ante de me deitar na marquesa, de lado, em decúbito dorsal entregue a duas
jovens profissionais, uma pequenina outra grande, tanto uma como outra inexcedíveis
em atenções e carinho.
Reconheço que sou piegas mas nestes momentos em que estamos
frágeis apreciamos de especial maneira sentir, da parte de quem não nos conhece,
não só a competência dos seus gestos mas também a gentileza a roçar a doçura
das palavras.
Num Hospital Público, a troco do pagamento de uma simples taxa
moderadora, receber estes serviços com a qualidade com que me foram prestados,
fizeram-me sentir honrado por ter um país com cuidados de saúde, prestados por
aquelas pessoas, anónimas, em que todas elas, da primeira à última, parecem ter
sido escolhidas a dedo.
Tive sorte, poderão pensar, mas nas três vezes em que fui
operado neste hospital – Hospital Distrital de Santarém - e ontem, que está fresco na minha memória, o
meu sentimento é de gratidão para com aquelas pessoas e, pessoalmente, a aposta
num Hospital Particular, montado em Santarém há uns anos e entretanto comprado
já pela CUF, é uma aposta perdida.
Nunca o trocarei pelo meu Hospital Público Distrital.
Hoje, é para mim, o dia da recuperação porque os 77 anos também
já não ajudam muito, mas, o pior já passou, e embora não tendo sido nada fácil
e muito menos agradável, resultou num teste admirável ao amor e cuidados
extremos com que me presentearam a minha mulher e a minha neta.
Para todos vós, que me lêem, estejam atentos ao funcionamento dessa parte do
nosso corpo menos nobre que dá pelo nome de intestinos!
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