quinta-feira, maio 12, 2016

Assim Nasceu Portugal


A Vitória do Imperador


A Profecia da Normanda






Episódio Nº 5
















Um arrepiu gelado percorreu-me a espinha. Havia quem anulasse os filhos ainda por nascer, mas a ideia horrorizava-me e o meu melhor amigo também não a aprovou, pois declarou sem sequer encarar Chamoa.

 - Jamais aceitaria o sacrifício de uma criança para ter o vosso amor, mulher desmiolada. Ide-vos embora e depressa!

Nessa tarde, uma chorosa Chamoa abandonou Guimarães na companhia de sua irmã e eu fui com elas levá-la a Tui, onde viviam os pais de ambas e os três pequenos filhos da cunhada.

Aquele vibrante e intenso amor durara uma curta semana e agora o relacionamento entre o príncipe e Chamoa regressava ao estado de trepidação e desequilíbrio que sempre o caracterizara.

Desiludido e magoado o meu grande amigo Afonso Henriques, recomeçou a dizer que desprezava as mulheres, o que levou a mulher de meu pai, Teresa de Celanova, a resmungar um dia:

- Por causa de uma pagamos todas!




Guimarães, Dezembro de 1130



Quando eu e Maria regressamos de Tui, onde havíamos deixado Chamoa, o príncipe de Portugal permanecia macambúzio. Fechava-se longas horas no quarto sem falar com ninguém e dava lentos e solitários passeios à roda de alcáçova, olhando o horizonte com desalento, como se a sua salvação estivesse numa qualquer nuvem, que, porém se afastava no céu, levada pelo vento da injustiça.

Teresa de Celanova bem o tentava animar com os seus repastos. Mandava vir marisco do Porto ou pescado de Vila do Conde, assava carnes sumptuosas, caçadas nas serranias do Marão, mas nada minorava as dores amargas de Afonso Henriques, nem sequer a presença do folgazão  Gonçalo de Sousa, nosso habitual companheiro de patuscadas.

Quando o entristecido príncipe se dignava a falar, o alvo dos seus desanimados queixumes eram as mulheres. Naquela tarde, enquanto trinchávamos um saboroso javali à roda da mesa, saiu-se com esta:

- Também minha mãe me desprezou. Mesmo no dia da sua morte recusou dar-me a mão!

Passada essa funda revolta com a maternidade desleixada de Dona Teresa, virou-se contra Deus, que supostamente lhe amaldiçoava os enamoramentos.

A somar às peripécias com Chamoa, a minha prima Raimunda, que fora o seu primeiro amor, atirara-se de uma ponte, mas ele nunca se considerara culpado do desgosto da rapariga.


Para o meu melhor amigo, mulher que o amasse uma vez, tinha de o fazer a vida toda, mesmo que não fosse amada de volta.

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