segunda-feira, maio 16, 2016

Assim Nasceu Portugal

A Vitória do Imperador

A Profecia da Normanda



Episódio Nº 8














Ao ouvir isto, o príncipe de Portugal afirmou, num timbre solene que sempre usava quando falava do seu famoso avô:

 - O imperador Afonso VI também casou com uma moura chamada Zaida de Sevilha! Talvez devesse fazer como ele e desposar uma das princesas andaluzas que continuam presas em Coimbra!

Zaida e Fátima, duas excêntricas raparigas que nos fascinavam, eram netas do último Califa de Córdova e estavam há catorze anos presas em Coimbra.

Se eu casasse com uma delas os nossos territórios seriam muito mais vastos! – exclamou Afonso Henriques.

À volta da mesa ninguém o apoiou. Tal como, quatro décadas antes, o casamento do imperador Afonso VI com a princesa Zaida de Sevilha fora considerada uma inaceitável blasfémia, também qualquer futuro enlace entre o príncipe de Portugal e uma princesa de Córdova era vista com forte suspeita e julgado uma quimera inviável.

 - Só se fosse com Fátima, Zaida está cativada!

A súbita indignação de Gonçalo de Sousa não me surpreendeu. De há muito que se dizia enamorado da mais nova das princesas mouras com quem queria casar.

Alto mas feio, com o nariz demasiado largo, um queixo volumoso e umas sobrancelhas peludas, Gonçalo combatia a sua desvantagem física com uma impetuosidade atrevida e um humor brejeiro.

Sempre que chegava ao pé de um de nós, perguntava, então, tudo espeta? o que despertava risos imediatos.

Alem disso, apanhava agora o cabelo escuro num rabo-de-cavalo o0 que lhe dava um toque de rebeldia e um ar desafiador que seduzia muitas mulheres, apesar de ele dar sempre a primazia à princesa Zaida, que jurava nunca esquecer.

Serei o seu primeiro homem! – exclamou orgulhoso.

Um pouco mais nova do que nós, Zaida ainda era virgem e Gonçalo vangloriava-se da promessa que ela lhe fizera de ele ser o seu desflorador, desde que a levasse à sua Córdova natal.

- Com Fátima não me posso casar... – afirmou o príncipe irritado.

Recordei-me do feitio quezilento da irmã maias velha de Zaida, sempre agreste e combativa, que proclamava odiar cristãos.

 - Essa cortava-vos a gaita! – avisou Gonçalo.

Este comentário jocoso provocou uma gargalhada geral, mas também a desaprovação de Teresa de Celanova e um aviso sobre a inadmissibilidade de tal palavreado.

Perante a reprimenda, aquele rezingão justificou-se depois de beber mais um gole do saboroso vinho da Galiza que a esposa de meu pai nos servira:

 - Bela Teresa de Celanova, desculpai-me, mas estou farto de tanto desgosto! Falemos de festas! Como será o Natal por cá? Tenho soldadeiras novas com quem me rebolar? Ou preciso de marchar a Coimbra para convencer a Zaida?

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