A Vitória do Imperador
– A Profecia da Normanda
Episódio Nº 8
Ao ouvir isto, o príncipe de
Portugal afirmou, num timbre solene que sempre usava quando falava do seu
famoso avô:
- O imperador Afonso VI também casou com uma
moura chamada Zaida de Sevilha! Talvez devesse fazer como ele e desposar uma
das princesas andaluzas que continuam presas em Coimbra!
Zaida e Fátima, duas excêntricas
raparigas que nos fascinavam, eram netas do último Califa de Córdova e estavam
há catorze anos presas em Coimbra.
Se eu casasse com uma delas
os nossos territórios seriam muito mais vastos! – exclamou Afonso Henriques.
À volta da mesa ninguém o
apoiou. Tal como, quatro décadas antes, o casamento do imperador Afonso VI com
a princesa Zaida de Sevilha fora considerada uma inaceitável blasfémia, também qualquer
futuro enlace entre o príncipe de Portugal e uma princesa de Córdova era vista
com forte suspeita e julgado uma qui mera
inviável.
- Só se fosse com Fátima, Zaida está cativada!
A súbita indignação de
Gonçalo de Sousa não me surpreendeu. De há muito que se dizia enamorado da mais
nova das princesas mouras com quem queria casar.
Alto mas feio, com o nariz
demasiado largo, um queixo volumoso e umas sobrancelhas peludas, Gonçalo combatia
a sua desvantagem física com uma impetuosidade atrevida e um humor brejeiro.
Sempre que chegava ao pé de
um de nós, perguntava, então, tudo espeta?
o que despertava risos imediatos.
Alem disso, apanhava agora o
cabelo escuro num rabo-de-cavalo o0 que lhe dava um toque de rebeldia e um ar
desafiador que seduzia muitas mulheres, apesar de ele dar sempre a primazia à
princesa Zaida, que jurava nunca esquecer.
Serei o seu primeiro homem! –
exclamou orgulhoso.
Um pouco mais nova do que
nós, Zaida ainda era virgem e Gonçalo vangloriava-se da promessa que ela lhe
fizera de ele ser o seu desflorador, desde que a levasse à sua Córdova natal.
- Com Fátima não me posso
casar... – afirmou o príncipe irritado.
Recordei-me do feitio
quezilento da irmã maias velha de Zaida, sempre agreste e combativa, que
proclamava odiar cristãos.
- Essa cortava-vos a gaita! – avisou Gonçalo.
Este comentário jocoso
provocou uma gargalhada geral, mas também a desaprovação de Teresa de Celanova
e um aviso sobre a inadmissibilidade de tal palavreado.
Perante a reprimenda, aquele
rezingão justificou-se depois de beber mais um gole do saboroso vinho da Galiza
que a esposa de meu pai nos servira:
- Bela Teresa de Celanova, desculpai-me, mas
estou farto de tanto desgosto! Falemos de festas! Como será o Natal por cá?
Tenho soldadeiras novas com quem me rebolar? Ou preciso de marchar a Coimbra
para convencer a Zaida?
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