(continuação)
Os computadores fazem
o que lhes mandam. Obedecem cegamente a quaisquer instruções que lhe sejam
transmitidas pela linguagem da programação. É assim que desempenham coisas
úteis, como processamento de texto e folhas de cálculo.
Mas também há um
subproduto inevitável, e que é o facto de terem um comportamento igualmente
robótico quando se trata de obedecer a instruções erradas. Não têm forma de
saber se uma dada instrução vai produzir um bom ou um mau resultado. Limitam-se
a obedecer, tal como se espera de um soldado.
É a sua obediência
incondicional que torna os computadores úteis e é precisamente isso também que
os torna inescapavelmente vulneráveis a infecções de vírus e vermes de
software.
Um programa concebido
com intenção maldosa que diga: «copia-me e envia-me a todos os endereços que
encontrares neste disco rígido», vai limitar-se a ser obedecido e a voltar e a
voltar a sê-lo vezes sucessivas por todos os outros computadores para onde for
enviado, num crescimento exponencial.
É difícil, senão
impossível, conceber um computador que seja obediente de uma forma útil e ao
mesmo tempo imune às infecções.
Depois deste trabalho
de sapa já os meus amigos leitores terão completado o meu raciocínio acerca do
cérebro das crianças e da religião.
A selecção natural
constrói o cérebro das crianças de maneira a neles incutir uma tendência para
acreditarem naqui lo que os pais e os
chefes da tribo lhes dizem. Essa obediência confiante, análoga à orientação da
traça pela Lua é valiosa para a sobrevivência, mas o reverso da obediência cega
é a credulidade servil.
O subproduto
inevitável é a vulnerabilidade à infecção pelo vírus da mente. Por excelentes
razões relacionadas com a sobrevivência darwiniana, os cérebros das crianças
precisam de acreditar nos pais e nos mais velhos em quem os pais lhes dizem que
o façam.
Uma consequência
automática reside no facto de aquele que confia não ter forma de distinguir os
bons dos maus conselhos.
A criança não tem
forma de saber que «não te metas no rio Limpopo, que está infestado de
crocodilos» é um bom conselho e que «tens de sacrificar uma cabra durante a lua
cheia , senão a chuva não vem» é, no mínimo, um desperdício de tempo e de
cabras.
Ambos os avisos
parecem igualmente dignos de confiança, ambos provêm de uma fonte respeitável e
são proferidos num tom de grave seriedade que inspira respeito e
obediência.
(continua)
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