quarta-feira, junho 08, 2016

As Raízes da Religião

(continuação)



















Os computadores fazem o que lhes mandam. Obedecem cegamente a quaisquer instruções que lhe sejam transmitidas pela linguagem da programação. É assim que desempenham coisas úteis, como processamento de texto e folhas de cálculo.

Mas também há um subproduto inevitável, e que é o facto de terem um comportamento igualmente robótico quando se trata de obedecer a instruções erradas. Não têm forma de saber se uma dada instrução vai produzir um bom ou um mau resultado. Limitam-se a obedecer, tal como se espera de um soldado.

É a sua obediência incondicional que torna os computadores úteis e é precisamente isso também que os torna inescapavelmente vulneráveis a infecções de vírus e vermes de software.

Um programa concebido com intenção maldosa que diga: «copia-me e envia-me a todos os endereços que encontrares neste disco rígido», vai limitar-se a ser obedecido e a voltar e a voltar a sê-lo vezes sucessivas por todos os outros computadores para onde for enviado, num crescimento exponencial.

É difícil, senão impossível, conceber um computador que seja obediente de uma forma útil e ao mesmo tempo imune às infecções.

Depois deste trabalho de sapa já os meus amigos leitores terão completado o meu raciocínio acerca do cérebro das crianças e da religião.

A selecção natural constrói o cérebro das crianças de maneira a neles incutir uma tendência para acreditarem naquilo que os pais e os chefes da tribo lhes dizem. Essa obediência confiante, análoga à orientação da traça pela Lua é valiosa para a sobrevivência, mas o reverso da obediência cega é a credulidade servil.

O subproduto inevitável é a vulnerabilidade à infecção pelo vírus da mente. Por excelentes razões relacionadas com a sobrevivência darwiniana, os cérebros das crianças precisam de acreditar nos pais e nos mais velhos em quem os pais lhes dizem que o façam.

Uma consequência automática reside no facto de aquele que confia não ter forma de distinguir os bons dos maus conselhos.

A criança não tem forma de saber que «não te metas no rio Limpopo, que está infestado de crocodilos» é um bom conselho e que «tens de sacrificar uma cabra durante a lua cheia , senão a chuva não vem» é, no mínimo, um desperdício de tempo e de cabras.

Ambos os avisos parecem igualmente dignos de confiança, ambos provêm de uma fonte respeitável e são proferidos num tom de grave seriedade que inspira respeito e obediência. 

(continua)

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