quarta-feira, junho 15, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)



Episódio Nº 33




















Afonso Henriques podia ser melhor regente do que a mãe, mas era um precipitado. Ramiro sempre o defendera e tudo lhe perdoara. Nunca o acusara, como muitos faziam, de ter lançado a própria mãe a ferros, nas masmorras, depois da batalha de São Mamede!

Ou de ter morto Paio Soares só por ciúmes, por ele ser marido de Chamoa! Ou de ter faltado à palavra de Afonso VII, a quem prometera vassalagem, obrigando Egas Moniz a ir a Toledo de corda ao pescoço!

Pai, é um canalha, matou-vos!

Ramiro odiava o príncipe e toda aquela gente em redor dele, em especial Peres Cativo. Seria por ser um bastardo como ele que este último o tratava mal?

Ramiro nunca se encontrava com o Rato durante o dia, e à noite escondiam-se dos olhares de todos, mas aquela piada de Peres Cativo trazia água no bico.

Estaria Afonso Henriques a destratá-lo por esses maliciosos rumores? Sim, era isso de certeza.

Enquanto desabafava com o bispo, o templário sentiu repugnância do que fizera. Teria de acabar com aquilo, não podia pôr a sua honra em causa a troco de uns breves momentos de prazer.

Tinha feito votos, não dormia com mulheres, não confiava nelas, mas fazê-lo com homens era pecado gravíssimo!

Pai, sou assim, um desastre.

O bispo escutou-o com atenção mas antes de lhe dar a absolvição ou determinar penitências avisou:

 - Terás de sair da Ordem do Templo se isso continuar.

O povo, os companheiros, o pároco Martinho de Soure, não iam aceitar aquelas actividades uranistas. E a importante posição de Ramiro, o segundo da hierarquia da Ordem, logo abaixo do mestre Jean Reymond, ia ficar comprometida.

 - Uma coisa é um rumor ou uma vaga suspeita. Outra, uma certeza – resumiu o bispo.

Ramiro mostrou-se aterrado, a ideia de deixar de ser um monge guerreiro era-lhe inaceitável.

- Vou mudar! – prometeu.

Porém o bispo conhecia inúmeros casos de gente que jurou abandonar comportamentos impuros, mas nunca o conseguira.

Homens que fornicavam com ovelhas, que molestavam crianças, que matavam mulheres, todos garantiam uma alteração que nunca chegava. Por isso, mostrou-se descrente mesmo quando Ramiro insistiu que era jovem ainda e seria capaz de contenção!

 - E o vosso companheiro? - perguntou o bispo.

Ramiro olhou-o atrapalhado.

- O Rato?

- Que nome horrível - resmungou Bernardo.

O templário defendeu que o colega seria capaz de silêncio e abstinência futura, mas o prelado duvidou. Certas almas feridas eram incapazes do silêncio, queixavam-se a terceiros, era preciso ser prudente e firme para terminar uma paixão dessas.

- Uma paixão? – interrogou-se Ramiro, deveras surpreendido.

Pai, só amei Chamoa, não amo o Rato

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