(Domingos Amaral)
Episódio Nº 33
Afonso Henriques podia ser melhor regente do que a mãe, mas era um precipitado. Ramiro sempre o defendera e tudo lhe perdoara. Nunca o acusara, como muitos faziam, de ter lançado a própria mãe a ferros, nas masmorras, depois da batalha de São Mamede!
Ou de ter morto Paio Soares
só por ciúmes, por ele ser marido de Chamoa! Ou de ter faltado à palavra de
Afonso VII, a quem prometera vassalagem, obrigando Egas Moniz a ir a Toledo de
corda ao pescoço!
Pai, é um canalha, matou-vos!
Ramiro odiava o príncipe e toda aquela
gente em redor dele, em especial
Peres Cativo. Seria por ser um bastardo
como ele que este último o tratava mal?
Ramiro nunca se encontrava com o Rato
durante o dia, e à noite escondiam-se dos olhares de todos, mas aquela piada de
Peres Cativo trazia água no bico.
Estaria Afonso Henriques a destratá-lo
por esses maliciosos rumores? Sim, era isso de certeza.
Enquanto desabafava com o bispo, o templário
sentiu repugnância do que fizera. Teria de acabar com aqui lo,
não podia pôr a sua honra em causa a troco de uns breves momentos de prazer.
Tinha feito votos, não dormia com
mulheres, não confiava nelas, mas fazê-lo com homens era pecado gravíssimo!
Pai, sou assim, um desastre.
O bispo escutou-o com atenção mas antes
de lhe dar a absolvição ou determinar penitências avisou:
-
Terás de sair da Ordem do Templo se isso continuar.
O povo, os companheiros, o pároco
Martinho de Soure, não iam aceitar aquelas actividades uranistas. E a
importante posição de Ramiro, o segundo da hierarqui a
da Ordem, logo abaixo do mestre Jean Reymond, ia ficar comprometida.
-
Uma coisa é um rumor ou uma vaga suspeita. Outra, uma certeza – resumiu o
bispo.
Ramiro mostrou-se aterrado, a ideia de
deixar de ser um monge guerreiro era-lhe inaceitável.
- Vou mudar! – prometeu.
Porém o bispo conhecia inúmeros casos de
gente que jurou abandonar comportamentos impuros, mas nunca o conseguira.
Homens que fornicavam com ovelhas, que
molestavam crianças, que matavam mulheres, todos garantiam uma alteração que
nunca chegava. Por isso, mostrou-se descrente mesmo quando Ramiro insistiu que
era jovem ainda e seria capaz de contenção!
-
E o vosso companheiro? - perguntou o bispo.
Ramiro olhou-o atrapalhado.
- O Rato?
- Que nome horrível - resmungou
Bernardo.
O templário defendeu que o colega seria
capaz de silêncio e abstinência futura, mas o prelado duvidou. Certas almas
feridas eram incapazes do silêncio, queixavam-se a terceiros, era preciso ser
prudente e firme para terminar uma paixão dessas.
- Uma paixão? – interrogou-se Ramiro,
deveras surpreendido.
Pai, só amei Chamoa, não amo o Rato
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