terça-feira, julho 05, 2016

A praia do Vau - a das minhas férias no Algarve
Fim das Férias














Aos setenta e sete anos já nada é como era... Recordo a tristeza que era,  quando em jovem, as férias se aproximavam do fim.

A liberdade de fazer em cada dia, na aldeia dos meus avós, o que me desse na real gana, a mim, ao meu irmão e aos meus primos, todos também estudantes e igualmente de férias, os passeios, mergulhos e petiscadas no rio Tejo, que passava ali próximo, ou as caçadas com ratoeiras aos desgraçados dos passarinhos...

Sim, então eram férias... duravam todo um verão, a gente espreguiçava e comia melancia para dentro de um alguidar a meio da tarde. Melancia e férias, nessa fase da minha vida, andavam associadas.

Quando, então, descobri uma arca do meu tio cheia de livros, dos tempos em que ele ainda era solteiro, as férias ganharam outro interesse. Creio que o maior interesse meu pela leitura nasceu nessas férias.

Viver os enredos, esperar pela última página para, finalmente, saber quem era o assassino, passaram a preencher grande parte do meu tempo das férias.

Nas férias do Natal, era o lagar de moer azeitona e produzir azeite do meu avô, o local escolhido para me entreter. Acompanhava todas as fases do processo quando muitas das operações eram ainda efectuadas com recurso à mão-de-obra até que, finalmente, o azeite, dourado e lindo, repousava na “tarefa” da qual saía em bilhas e garrafões para os clientes, donos da azeitona.

Estamos a falar de férias como só acontecem na juventude, quando se tem a sorte de as ter podido gozar numa aldeia em que quase todos eram tios, primos e primas e estavam cheias de gente que aí moravam, viviam, tinham as suas casas, as suas hortas, as suas oliveiras, muitas delas pertenciam àqueles locais por nascimento.

Eram terras com vida própria, com a sua personalidade, que rivalizavam com as outras suas vizinhas, que tinham festas próprias e bailes de sábado à noite, animados por um acordeonista que se deslocava numa motorizada com o instrumento às costas.

Os rapazes circulavam por esses bailes de bicicleta, alguns tendo já debaixo de olho alguma futura namorada, em namoros vigiados pelas mães, como era próprio dos anos cinquenta.

Mas tudo isto era antigamente, quando os tempos eram outros, havia aldeias, a vida processava-se a outros ritmos, a sociedade e o mundo eram diferentes.

Hoje, as férias enfastiam-me, fora da minha casa, do meu sofá, do meu enorme ecrã de televisão e do meu computador.

Sim, uma semana é o máximo tolerável. Talvez a vitamina D me faça falta, admito, mas deixou de ser prazer, passou a obrigação, do género receita médica a aviar na farmácia.

É o que fazem os anos... a roda da vida está a dar a volta. Apreciamos, acima de tudo, estar vivos e não sermos apoquentados por dores ou doenças.

O prazer da comida desapareceu, quanto menos, melhor nos sentimos. As coisas boas de outros tempos, aquelas que nos regalavam, continuo a apreciá-las mas agora basta-me prová-las.

O meu organismo, em legítima defesa, não quer nem me pede mais comida. Nos últimos quatro meses perdi sete quilos e acredito que, com o tempo, ainda possa perder mais.

Os visitantes do Memórias Futuras que andem pelos anos que eu tenho, devem perceber, se é que o não sabem já, que os problemas entram pela boca e, com a idade esta é uma verdade que faz, cada vez mais, a felicidade dos médicos e a fortuna das farmácias.

Eu costumo dizer às pessoas minhas amigas, que o estômago é um quarto de paredes amovíveis, que se alargam ou estreitam consoante a quantidade de coisas que se põem lá dentro.

Tanto nos podemos sentir saciados com o muito como com o pouco e nestas férias eu vi pessoas, já de cabelos brancos, com pratos de comida à frente, ao jantar, que são um convite sério para uma qualquer doença, para o apressar do fim...

Conheço o ditado popular do: - “Morra Marta, Morra Farta” ou seja: a morrer que seja de barriga cheia, e como os ditados reflectem a cultura popular que mergulha no passado, quando só os ricos é que comiam e os pobres almejavam morrer de barriga farta, coisa que em vida nunca tiveram, fica-se a perceber tudo.

E toda esta conversa para dizer aos meus amigos que, tal como a comida, uma semana de férias que seja já me deixa perfeitamente saciado.

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