Anselmo Borges |
Finitos, carentes
e mortais...
e mortais...
Anselmo Borges é padre, professor de filosofia e escreve artigos
de opinião no DN que por vezes leio.
Como sabem, sou ateu, assumido, mas não militante. Toda a minha
família é católica, mais por tradição do que por convicção, como normalmente
acontece com todos. Recebemos a religião como uma herança e, normalmente, nunca
mais a discutimos.
Em jovem, frequentei durante dois anos um Colégio de Jesuítas
onde me foram concedidos todos os sacramentos da Santa Madre Igreja. Não por
isso, mas respeito todas as pessoas nas suas convicções mais íntimas.
Mas ser padre e filósofo, parece-me que não combinam muito bem
porque a religião aprisiona o pensamento e eu tenho alguma dificuldade em olhar
para um filósofo que não seja completamente livre no seu pensamento.
Quando Anselmo Borges fala da “verdade salvadora” eu fico
perplexo:
- “A verdade”? - Qual “verdade”?
– “Salvadora”?
- Eu preciso de ser “salvo”?
– De quê? – De quem?
- Por quê?
Anselmo Borges nunca poderá responder-me a estas perguntas como filósofo
porque, sendo padre, vai dizer-me que as religiões têm na sua base o sagrado de
Deus de quem se espera a salvação de todos e, nesse momento, Anselmo
Borges, já não fala para mim, mas para os crentes da sua religião e, enquanto
eu acredito em valores e princípios da sociedade, muitos deles apropriados pela
religião, como se fossem dela, ele fala do céu!
Anselmo Borges diz
que somos “finitos, carentes e mortais” e como padre chega ao “bálsamo da
existência que é a verdade salvadora” enquanto que eu, que sou ateu, limito-me
a assumir a minha indiscutível natureza que é finita, sinónimo de mortal e
carente, apenas no sentido de que fazemos parte de um universo que é preciso
desvendar e aprofundar e aqui ,
reside uma carência de conhecimento que, apesar de tudo, já nos trouxe desde o
controle e domínio de fogo até ao telescópio Hubble, que a 600 km de altura da Terra observa o espaço
até aos seus primórdios.
Mas neste artigo de Jornal, Anselmo Borges fala da violência das
religiões. De facto, as várias religiões representam rupt uras,
linhas de fractura da sociedade humana, independentemente de se guerrearem ou
entenderem-se pacificamente umas com as outras.
É uma questão de estudar a história das sociedades humanas, que
não pode ser feito desligado da história das religiões, com a qual quase se
confunde, e nos mostra como fomos vítimas delas.
Mas se os homens, por hipótese, não tivessem guerreado entre si
por causa das religiões, tê-lo-iam feito, quase de certeza, por outras razões,
que também sempre as houve, de resto, porque a verdade é que a natureza humana
é violenta e conflituosa.
Não o fora, e não teríamos sobrevivido num mundo tão
competitivo. A agressividade favoreceu a competição e esta a evolução que nunca
é pacífica.
Apenas uma diferença, uma pequena diferença:
- Quando um homem mata
outro, se for por causa de um deus, fá-lo com um sorriso de maior felicidade
nos lábios porque acredita que está a ganhar um céu onde encontrará sete
virgens à sua espera... Quem nos disse isto foi Blaise Pascal, (Sec. XVII),
escritor, filósofo, racionalista, que afirmou, um dia, que o “coração tem razões
que a própria razão desconhece”.
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