terça-feira, agosto 23, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)




Episódio Nº 69


















À medida que se aproximava, num grupo constituído por ele e mais quatro soldados cedidos por Ismar, Abu já notara sinais desagradáveis.

Num oásis, a vários dias de caminho de Marraquexe, onde uma caravana de centenas de mercadores acampava, recuperando as forças depois de longas viagens, um bando de soldados do califa, comandado por um tiranete berbere, executou vários homens, acusando-os de traição só por trazerem armas.

Foi uma exagerada queixa, todos tinham cimitarras, alfanges, punhais e lanças.

Os desertos e os caminhos haviam-se tornado perigosos e a defesa individual era a única solução quando o califa já não garantia a segurança geral.

Está perdido o velho califa...

A revolta entre os mercadores fora imensa e os soldados viram-se obrigados a partir tal fora a rejeição aos seus excessos.

O resto da viagem prosseguira num ambiente de desagrado geral com a injustiça mas o prudente Zhakaria, já perto da capital, decidiu parar com os seus homens e esperar um dia, pois temia que a caravana fosse fustigada mal entrasse na cidade.

Foi uma decisão inteligente. Dois dias depois, quando passaram os portões de Marraquexe, souberam que os mercadores que os tinham precedido haviam sido sumariamente executados pois o maldito tiranete avisara Ali Yusuf de que estava a caminho da capital uma rebelião armada.

Zhakarias viu-os, mais de uma centena, pendurados nas muralhas de cabeça para baixo, alguns degolados, outros empalados, e concluiu que Marraquexe vivia no pavor.

Qualquer idiota, como o chefe berbere, responsável pela perturbação no oásis, podia lançar uma acusação errada e obter em troca a possibilidade de matar uma centena  de inocentes.

Se Ali Yusuf julgava que com métodos daqueles ia pacificar o seu califado, estava redondamente enganado. Assassinar mercadores sem culpa, homens que comerciavam bens essenciais era um erro fatal.

Não só se paravam as trocas necessárias para o bem-estar das cidades como se espalhavam mais odiosa notícias, pois os outros mercadores não se iriam calar. A fama inútil de uma Marraquexe sanguinária corromperia ainda mais depressa a já desgastada legitimidade do califa.

Ali Yusuf vai durar pouco...

Neste ambiente perigoso, Abu redobrou as cautelas. Qualquer irritação dos berberes podia ser-lhe fatal. Nunca se sentira em tanto perigo, mesmo com o salvo-conduto e a mensagem de Ismar.

Por isso, deixou-se ser revistado pela primeira linha de guardas, ainda antes dos portões da cidade.


Permitiu que lhe tirassem as armas num controle por que os recém-chegados tinham de passar, para entrarem em Marraquexe sem qualquer arma que fosse um risco para o aterrorizado Ali Yusuf.

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