(Domingos Amaral)
Episódio Nº 69
À medida que se aproximava,
num grupo constituído por ele e mais quatro soldados cedidos por Ismar, Abu já
notara sinais desagradáveis.
Num oásis, a vários dias de
caminho de Marraquexe, onde uma caravana de centenas de mercadores acampava,
recuperando as forças depois de longas viagens, um bando de soldados do califa,
comandado por um tiranete berbere, executou vários homens, acusando-os de traição
só por trazerem armas.
Foi uma exagerada queixa,
todos tinham cimitarras, alfanges, punhais e lanças.
Os desertos e os caminhos
haviam-se tornado perigosos e a defesa individual era a única solução quando o
califa já não garantia a segurança geral.
Está perdido o velho califa...
A revolta entre os
mercadores fora imensa e os soldados viram-se obrigados a partir tal fora a
rejeição aos seus excessos.
O resto da viagem
prosseguira num ambiente de desagrado geral com a injustiça mas o prudente
Zhakaria, já perto da capital, decidiu parar com os seus homens e esperar um
dia, pois temia que a caravana fosse fustigada mal entrasse na cidade.
Foi uma decisão inteligente.
Dois dias depois, quando passaram os portões de Marraquexe, souberam que os mercadores
que os tinham precedido haviam sido sumariamente executados pois o maldito
tiranete avisara Ali Yusuf de que estava a caminho da capital uma rebelião
armada.
Zhakarias viu-os, mais de
uma centena, pendurados nas muralhas de cabeça para baixo, alguns degolados,
outros empalados, e concluiu que Marraquexe vivia no pavor.
Qualquer idiota, como o
chefe berbere, responsável pela perturbação no oásis, podia lançar uma acusação
errada e obter em troca a possibilidade de matar uma centena de inocentes.
Se Ali Yusuf julgava que com
métodos daqueles ia pacificar o seu califado, estava redondamente enganado. Assassinar
mercadores sem culpa, homens que comerciavam bens essenciais era um erro fatal.
Não só se paravam as trocas
necessárias para o bem-estar das cidades como se espalhavam mais odiosa notícias,
pois os outros mercadores não se iriam calar. A fama inútil de uma Marraquexe
sanguinária corromperia ainda mais depressa a já desgastada legitimidade do
califa.
Ali Yusuf vai durar pouco...
Neste ambiente perigoso, Abu
redobrou as cautelas. Qualquer irritação dos berberes podia ser-lhe fatal. Nunca
se sentira em tanto perigo, mesmo com o salvo-conduto e a mensagem de Ismar.
Por isso, deixou-se ser
revistado pela primeira linha de guardas, ainda antes dos portões da cidade.
Permitiu que lhe tirassem as
armas num controle por que os recém-chegados tinham de passar, para entrarem em
Marraquexe sem qualquer arma que fosse um risco para o aterrorizado Ali Yusuf.
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