sexta-feira, setembro 09, 2016

Richard Dawkins
ADITAMENTO

ao EPITÁFIO




















Como podemos nós, os poucos privilegiados que, contra todas as probabilidades, ganhámos a lotaria do nascimento, atrever-nos a queixar do nosso inevitável regresso a esse estado anterior do qual a esmagadora maioria nunca despertou?

É evidente que existem excepções, mas eu desconfio, que para muitas pessoas, a principal razão pela qual se mantêm agarrados à religião não é o facto de esta dar consolo, mas de lhes ter faltado o apoio do sistema educativo e de ensino e de não ter sequer a consciência de que a não-crença é uma opção.

Isto é seguramente verdade para a maior parte das pessoas que se julgam Criacionistas. O que aconteceu, pura e simplesmente, foi que não lhes ensinaram de maneira adequada a espantosa alternativa proposta por Darwin.

Provavelmente, o mesmo será verdade no que se refere a esse mito desmerecedor que diz que as pessoas “necessitam” da religião.


Num recente colóquio realizado em 2006, um antropólogo citou Golda Meir quando lhe perguntaram se acreditava em Deus. “Acredito no povo judeu, e o povo judeu acredita em Deus”. O nosso antropólogo ofereceu a sua versão da frase: “Acredito nas pessoas e as pessoas acreditam em Deus”.



Quanto a mim prefiro dizer, simplesmente, acredito nas pessoas e sucede que as pessoas, quando devidamente incentivadas a pensar, pela sua cabeça, em toda a informação actualmente disponível, muitas vezes não acreditam em Deus e levam vidas realizadas, felizes e, naturalmente, libertas.


Vamos morrer e por isso somos nós os bafejados pela sorte. A maior das pessoas nunca vai morrer, porque nunca vai chegar a nascer. As pessoas potenciais que poderiam ter estado aqui, no meu lugar, mas que na verdade nunca verão a luz do dia, excedem em número os grãos de areia de deserto do Sara.


Seguramente, nesses fantasmas que não vão chegar a nascer incluem-se poetas maiores que Camões e cientistas maiores que Newton. Sabemos isto porque o conjunto de pessoas potenciais permitidas pelo nosso ADN é, esmagadoramente, superior ao conjunto de pessoas com existência efectiva.

Não obstante esta ínfima probabilidade, sou eu, somos nós, que na nossa vulgaridade, aqui estamos... e vamos morrer.




Richard Dawkins

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