os Totós
Não há volta a dar. Na sociedade humana qualquer que seja o
regime político os vencedores são sempre os predadores. Nem os mais
inteligentes, mais belos, mais trabalhadores, mais bondosos. Não, nenhum
destes. Os vencedores são os predadores.
Numa luta simulada entre um tigre e um leão quem deveria levar a
melhor era o tigre, pelas suas características físicas mais poderosas. No
entanto, quem ganharia seria o leão porque tem mais desenvolvidas as suas
características de predador, de brigão, de vontade, de ambição de ganhar.
O mundo nunca será dos “totós”, independentemente de serem pouco
ou muito inteligentes. Ou nascem com o gene de predador e vão à luta ou o lugar
que lhes está reservado será sempre discreto.
O regime político é importante para definir o grau de
sofisticação desta luta porque, quanto mais forem as regras de boa convivência
inscritas na lei, mais rigoroso for o seu cumprimento por parte dos Tribunais,
maior for a liberdade das notícias na Comunicação Social, maior o espírito
crítico dos cidadãos e a censura pública, mais os predadores terão que refinar
os seus métodos.
Quem viveu no regime do Salazar e agora em democracia percebe
melhor a diferença. Com a PIDE, as pessoas eram manipuladas directamente pela
ameaça violenta, chegando-se ao assassínio.
Agora, a manipulação faz-se pelo poder que o predador tem de
facilitar a vida em termos de emprego, promoções no local de trabalho, ofertas,
facilidades também para a família, chegando-se a conqui star
votos a troco de uma dentadura para a namorada ou à compra pura e simples dos
votos.
Porque votos são poder e quem consegue arregimentar votos tem
poder. Constitui a sua pirâmide que se vai articular e apoiar noutras pirâmides
começando numa simples freguesia - o pequeno cacique - passando para
outros níveis, concelhio, distrital e, finalmente, nacional, mas sempre,
sempre, pirâmides de poder.
Os totós são aqueles que não se envolvem nestas pirâmides de
poder, que não têm ambições, que não trocam nem vendem o seu voto porque
preferem ser fieis ao seu pensamento político ou, perante tão maus exemplos da
classe dominante, simplesmente desinteressam-se não percebendo que alguém, um
dia, se irá interessar por ele, quer ele queira ou não.
Um exemplo vivo e mais conhecido de predador no nosso país foi o
Miguel Relvas. Entregou-se à conqui sta
do poder logo nos tempos da escola e tal foi a dedicação que não lhe sobrou
tempo para os estudos o que procurou compensar mais tarde, tirando um Curso por
equi paração.
Não faço ideia de qual é o quociente de inteligência do Relvas
mas, um homem que caiu no anedotário nacional deve, pelo menos, ter levado
longe de mais aquelas que ele julgava serem as suas capacidades e acabou por
cair no ridículo... embora tenha conseguido levar a água ao seu moinho
colocando um apaniguado seu no cimo da pirâmide do poder mais importante do
país.
O predador é um obcecado, não tem tempos livres, o seu
pensamento não divaga, não sonha, não perde tempo a ver o pôr - do – sol e
mesmo que o olhe não o vê.
No outro dia espera-o reuniões e ele tem que pensar na
estratégia da persuasão, na negociação a fazer, nos trunfos de que dispõe,
porque a vida de um predador é muito exigente, uma teia de cumplicidades requer
muito trabalho e, na área do poder, ganha quem manipular mais e melhor.
Estamos nas mãos dos predadores, do Relvas, de todos os Relvas
deste país e a meia dúzia de dias de novas eleições os predadores para além de
exaustos, estão nervosos.
São muitos os empregos que estão em jogo, muito dinheiro ao fim
do mês. Ao longo de mais de 4 anos adqui riram-se
hábitos de gastos que terão de ser cortados de acordo com o risco que têm os
lugares de natureza política: duram enquanto durar o governo que os nomeou!
Como dizia o nosso grande Eça de Queiroz, os políticos são como
as fraldas dos bebés: devem-se mudar frequentemente por razões óbvias...
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