sexta-feira, novembro 04, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)

Episódio Nº 107




















Depois das fortes derrotas de Celmes e de Tui, era difícil acreditar naquele brilhante futuro mas as três mulheres não perderam tempo a discuti-lo, preferindo conversar sobre questões mais relaxantes.

Até os gigantes têm um ponto fraco – contou Elvira.

As duas irmãs galegas não sabiam qual a falha de Afonso Henriques e, portanto, surpreenderam-se quando a normanda a exibiu:

- O Príncipe de Portugal não suporta que a mulher de quem gosta se encante por outro homem. Fica louco, é capaz de matar.

Fingido-se perplexa, a minha cunhada bateu as pestanas e depois de uma pausa crítica, com a qual Elvira mostrou que topava perfeitamente a dissimulação dela, a normanda disse:

 - Desde que me dei ao príncipe, nunca mais me dei a homem algum nem me vou dar.

Olhando fortemente para Chamoa declarou:

- Cuidado com os homens, com todos!

A minha cunhada sorriu-lhe, embaraçada, acrescentando que desejava ir ter com Afonso Henriques, o que só viria a acontecer dois meses depois, pois o impiedoso inverno impediu-nos de descermos a Coimbra.





         IV – O Despertar dos Traidores


                             1134



Rio Lis, Junho de 1134


O fossado portucalense ultrapassara os limites cristãos das leis da guerra e a extrema violência dos estragos provocados nas aldeias mouras indignou meu tio Ermígio Moniz.

Ele também fora um guerreiro no passado, mas o cargo de mordomo, a idade e sobretudo a experiencia haviam-no convencido de que a brutalidade não era a melhor das políticas.

- Tanta destruição será vingada um dia – avisou.

Afonso Henriques respeitava muito a opinião do mordomo, mas dentro da sua alma não havia ainda descanso. Frustrado com o fiasco de Tui e humilhado pela destruição do castelo de Celmes, o príncipe de Portugal partira para o Sul numa ânsia descontrolada e na pequena povoação de Pombal, um pouco a norte do local onde estavam acampados agora, o fossado portucalense atingira o auge.

A aldeia mourisca fora saqueada e incendiada. Mas, pior do que isso, Afonso Henriques dera ordens a Peres Cativo, seu alferes, e a Paio Guterres, para não pouparem os homens e cinco dezenas haviam sido degolados, sendo depois empalados em lanças, espetadas no chão empapadas de sangue, coisa que meu tio não considerava aceitável.

- Poupei as mulheres e as crianças – alegou Afonso Henriques, como se essa decisão o absolvesse dos restantes exageros.


- Para conquistar os territórios não podemos nem devemos, dizimar as populações! – exclamou meu tio.

Site Meter