sábado, novembro 19, 2016

Há caras que não enganam...
Trump veio provar que a ideia de que somos manipulados pelos Media é falsa. Só sufragamos quem nos diga o que já pensamos.











Ouvir dizer que culpa é dos media, ou que a culpa é da comunicação social, ou que a culpa é do jornal A, e do telejornal B é o Pão - Nosso de cada dia de qualquer jornalista. E muitas vezes com carradas de razão. Pelo menos aparentemente. Pelo menos até ao dia em que Donald Trump foi eleito Presidente dos EUA. Porque desta vez não podem ser os maus da fita. A maioria da imprensa escrita e falada norte-americana não só assumiu uma clara posição de oposição, como batalhou com fúria nunca vista por revelar todos os argumentos e mais algum pelos quais o candidato não merecia o voto.

Nunca um baú dos tesourinhos perdidos foi tão remexido, e como o candidato é pródigo em frases mortais, o que não faltaram foram citações capazes de nos tirar do sério. Aliás, mesmo quando se limitavam a citar Trump, pareciam estar em campanha contra ele porque, acreditávamos, ninguém se podia rever naquilo que afirmava.

E, no entanto, Donald Trump ganhou.

O que demonstra, provavelmente, que as pessoas só lêem aquilo que querem ler, só ouvem o que querem ouvir, e só acreditam naquilo em que já acreditam. Ou naquilo em que querem acreditar. Incluindo eu e o leitor.

Escolhem por isso criteriosamente quem lhes vai ao encontro dos pensamentos e convicções. Compram o jornal que defende o seu credo, sintonizam a rádio que é da sua cor, seguem a opinião de quem lhes é próximo, ligam o canal do comentador que diz o que dizem. E nunca se põem em causa. Quando não concordam, desvalorizam o outro, ou porque é analfabeto, corrupto, tem interesses obscuros a defender, ou na melhor das hipóteses é ingénuo.

Nas redes sociais ainda é mais fácil blindar tudo o que é dissonante: escolhem os amigos, partilham apenas aquilo com que comungam, selecionam as fontes de informação para que nunca os desmintam.

O político que entende como as coisas se fazem não luta contra moinhos de vento. Diz o que os eleitores querem ouvir. Com habilidade, recorda Tim David, especialista em comunicação, limita-se a deixar cair no colo do "cliente" ideias e emoções simples, permitindo que seja depois ele a preencher os espaços que ficam em branco. Trump só precisa de falar de um "muro" que separe bons de maus, para que o eleitor coloque do lado de fora da barreira os seus inimigos, presumindo que é a eles que o candidato se refere. E quando a história é contada pelo próprio, é natural que sufrague as suas próprias opiniões, diz Tim David.

Da mesma forma, quando jurava devolver os EUA à grandeza, o candidato não explicava o que entende por "grandeza", permitindo que cada um navegasse na maionese como entendesse. Enquanto uns imaginam o regresso da supremacia branca, outros sonham que perseguirá os homossexuais, deitará uma bomba atómica sobre os terroristas ou plantará de novo a bandeira americana na Lua.

E não vale a pena imaginarmos que a acefalia é coisa de americanos (embora não acreditemos em quem diga o contrário), porque somos todos vítimas deste vício de forma que alimentando o narcisismo nos ajuda a sentirmo-nos menos frágeis.
Não temos por cá, felizmente, um Donald Trump, mas conhecemos bem a irritação que provoca ouvir defender uma "verdade" que choca de frente com a nossa, e a satisfação quando alguém põe por palavras aquilo que pensamos ou sentimos - "olha, ali está finalmente um tipo inteligente", exclamamos eufóricos.

Moral da história: afinal não são os média a manipular as pessoas, mas as pessoas a controlá-los a eles. Ou, quando não conseguem, a demonstrar nas urnas o que pensam deles.



Nota - Leiam, meditem e digam se não é assim! Agora, a América e o mundo vão pagar o preço das más escolhas! Ainda se aprendessem...


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