quinta-feira, abril 13, 2017

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O Kiko é mais sobre o castanho
Eu tenho


um gato...


                                                            


                                                                 







Veio para minha casa no dia em que fiz anos, a 8 de Abril. Dormiu essa noite e  no dia seguinte, de manhã, saí para tomar o pequeno-almoço e ler o jornal. Cruzamo-nos no hall, ia ele para a sala, e despedi-me então com um até logo... mal sabia que seria um até nunca.

Evaporou-se, nunca mais o vimos... para desespero da minha mulher e neta que ainda não perderam a esperança.

Um animal de estimação, cão ou gato, entra na família e passa a fazer parte dela. Quem alguma vez teve um sabe que é assim, quer como fonte de afeto mas também de preocupações.

O Kiko era um gato novinho e ainda andava estranho pela casa, escondido, receoso, por debaixo dos móveis. Quem o trouxe foi a nossa empregada, a Lurdes, que já é da família, mas o gato é que parece não a ter aceite bem e não a quis adotar como sendo a sua. Fez mal, não vai encontrar outra onde o tratem melhor... mas naquelas idades reina o espírito de aventura, a irresponsabilidade... com tão poucas raízes cá em casa, por onde estará ele agora?...

... Afinal, acabou a angústia... só um gato se poderia ter metido onde ele estava: ... atrás do forro de um fogão de sala decorativo... num espaço cuja existência desconhecíamos.

A minha neta exultou. Tinha andado de carro com a avó à procura dele pela cidade..., vejam lá o desespero... e o “safado” em casa, metido num buraco!

Os gatos foram adorados pelos egípcios em vida e embalsamados depois da morte como reconhecimento dos serviços prestados pela  sua luta contra os ratos, uma das pragas de então naquelas cidades.

Essa adoração teve de contar com a ajuda das autoridades, porque antes de o animal ser decretado um ente sagrado, muitos bichanos eram servidos como prato principal almoçaradas nas margens do rio Nilo.
Uma das deusas egípcias representadas com cabeça de gato era Bastet, culto esse que começou por volta do Ano 3000 AC e representava o prazer, a fertilidade e a música. Bastet apresentava traços felinos tal como Ra, o deus do sol e Ísis a deusa da vida que também possuíam esses traços.
Tal era a adoração que quando o bichano morria o dono, em sinal de luto, rapava as sobrancelhas e as mulheres que os viam como símbolos de beleza pintavam os olhos tentando imitar o contorno perfeito do olhar dos gatos.
Eles mereciam os mesmos ritos fúnebres que os seres humanos, sendo embalsamados e sepultados. No século XIX, arqueólogos descobriram mais de 300 mil múmias de gatos num cemitério em Tall Bastah, cidade no delta do rio Nilo onde ficava o principal templo da deusa Bastet.
Exagero? E que tal saber que alguém podia ser condenado à morte se matasse um desses animais?
Mas tamanha adoração custou pelo menos uma derrota histórica para o Império Egípcio, cerca de 600 anos antes de Cristo. Quando um comandante persa chamado, Cambises II, soube que os seus inimigos da terra do Nilo veneravam tanto esses felinos, não teve dúvidas e ordenou que o seu exército atacasse o país das pirâmides usando uma táctica no mínimo inusitada:

-  gatos foram colocados à frente de suas tropas como escudo e os egípcios nem sequer ofereceram resistência. Era melhor renderem-se diante dos persas do que ferirem um ente sagrado.
Talvez por isso, quando o meu gato, o Kiko, atravessa o hall em desordenada correria ou se rebola, indolente, na carpete da sala, só pode estar a recordar-se desses tempos de então em que tudo eram privilégios...

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