quarta-feira, julho 11, 2007

Estará o planeta doente?


Estará o Planeta Doente?

Não, o planeta não está doente mas como nós gostamos de confundir as nossas dores com as dos outros lá vamos dizendo que o planeta está doente.

Mesmo que não fizéssemos nada, mesmo que não existíssemos, e só existimos há muito pouco tempo, o planeta, como sempre aconteceu ao longo de milhões de anos, mantém-se em permanente transformação obrigando os “seus passageiros” a adaptarem-se, continuando a viagem, ou a descerem no próximo apeadeiro deixando, como prova da sua existência, os ossos que muito mais tarde irão fazer as delícias dos paleontólogos.

Claro que essas alterações aconteciam a um determinado ritmo, e se quisermos usar um pleonasmo, acrescentar que era ao ritmo da natureza e agora acontecem ao ritmo do homem, excepção feita às grandes catástrofes que viravam tudo de pernas para o ar de um dia para o outro.

E isso já aconteceu várias vezes e nós próprios somos “filhos”de uma dessas catástrofes que tendo exterminado há sessenta milhões de anos a espécie então dominante, os dinossauros, abriu para os pequenos mamíferos de então, dos quais descendemos, uma janela de oportunidade, como se diz agora, e cá estamos nós, a nova espécie dominante, a exercer em toda a plenitude esse domínio.

O que é estranho é que sendo nós a primeira espécie animal com capacidade para reflectir e aprender com o passado e preparar o futuro tenhamos usado essa extraordinária faculdade exactamente de forma contrária aos interesses da nossa própria espécie.

A relação do homem com o habitat processou-se ao longo dos tempos de uma maneira consideravelmente diferente da dos outros animais que têm de fazer, por transformações no seu próprio corpo, a totalidade das “despesas” de adaptação às alterações do meio ambiente e sempre que o não conseguiram pura e simplesmente desapareceram.

No caso do homem, embora tenham havido adaptações físicas que o foram ajustando a diferentes condições ambientais, o que aconteceu de diferente é que foi ele, no seu próprio interesse, assim o julgava, que foi modificando a natureza para a adaptar a si próprio e a um tal grau que se confronta hoje com ameaças sérias, senão à sua sobrevivência como espécie, pelo menos à forma e estilo de vida no futuro.

Tal como o aprendiz de feiticeiro que, por imaturidade e falta de senso, não soube utilizar as mágicas que o mestre lhe ensinou também o homem, por ignorância, egoísmo, avidez e irresponsabilidade tem alterado tudo ou quase tudo à sua volta conseguindo, estilo formiguinha, resultados quase idênticos aos do embate do grande meteorito de há sessenta milhões de anos.

Neste momento, a “elite mundial” que somos todos nós excluindo dela os milhões de pessoas que tentam sobreviver à fome à doença e às guerras e que não é crível que estejam preocupadas com o nosso destino no planeta, tomou finalmente consciência de que continuar neste ritmo sem nada fazer é apressar um desfecho cuja configuração ainda não é bem perceptível em toda a sua dimensão.

O problema mais preocupante, embora tudo esteja interligado, é o aumento de CO2 na atmosfera em consequência da queima de combustíveis fosseis, fundamentalmente, petróleo e carvão, o que provoca efeito estufa com o consequente aumento das temperaturas e por arrastamento a diminuição dos glaciares e da camada de gelos nos pólos, a subida dos níveis das águas dos oceanos para além de súbitas alterações climáticas.

Ora, sabendo nós, que as populações se acumulam em todo o mundo nas zonas ribeirinhas, é fácil adivinhar as repercussões para milhões e milhões de pessoas e também não é difícil prever que os mais pobres vão ser, mais uma vez, os mais atingidos.

O processo crescente de desertificação, o contínuo abate das florestas, as redes de arrasto que destroem tudo à sua passagem no fundo dos mares e depois aqueles gostos e preferências esquisitas dos povos asiáticos, muitos deles, gente de dinheiro e instruída, penso eu, que não passa sem a sua sopa de barbatana de tubarão levando à destruição de um animal importantíssimo no equilíbrio da vida nos mares e continua a acreditar, ingénua e estupidamente, que o “corno” do rinoceronte tem propriedades afrodisíacas e que todas as partes do tigre são óptimas para tratarem as mais variadas doenças do corpo humano, etc., etc., representam o lançar de mais “achas para a fogueira”.

Agora fazem-se concertos musicais por todo o mundo por causa do aquecimento global, das focas e dos ursos do pólo Norte, cuja calote já perdeu 40% da sua espessura e que irão desaparecer por falta de habitat e até o Sr. G. Bush, cujo negócio da família é vender petróleo, já assinou com o Presidente Lula um Acordo de Cooperação com os objectivos, entre outros, de promover a definição de padrões internacionais para o Etanol e promover a cooperação dos dois países em terceiros mercados na América Latina e na África à volta da produção de Etanol.

Mas eu, que me considero um optimista, aqui sou séptico pois tenho alguma dificuldade em acreditar que continuando uma política de “mais energia”em vez de “melhor eficiência energética” e sem mudança de hábitos e de estilos de vida se vá resolver o problema até porque, o aumento da produção de etanol no Brasil - e eu não nego a importância que ele tem pois representa uma redução de 30 milhões de toneladas de CO2 por ano na atmosfera - pela intensificação da cultura da cana que deixou de ser do açúcar, não é isento de perigos pois embora se diga que existe terra disponível o avanço da produção da cana em áreas destinadas à pecuária, pelo menos no Estado de S. Paulo, nos últimos 3 anos, está levantando o problema de para onde levar milhões e milhões de cabeças de gado… e se no fim for para por mais uns milhares de automóveis na estrada é bom de ver que tudo ficará na mesma.

Quase todos os países do mundo que têm nas suas entranhas geológicas petróleo em quantidade suficiente para sustentar esta matriz industrial hegemónica vivem em grande instabilidade política ou sob permanentes ameaças - o Médio Oriente, a Ásia Central, Nigéria, Colômbia, Venezuela, Bolívia, constituindo uma espécie de sector “de senhores da guerra” que, com certeza, não permitirão que o seu negócio lhes saia das mãos.


E depois, temos um bilião e trezentos milhões de chineses que de 4 em 4 dias inauguram uma fábrica de produção de energia a partir da queima do carvão, matéria-prima que têm em grande abundância e, finalmente, um Presidente da Câmara, na China, que já não podendo fazer mais nada perante o trânsito caótico da sua cidade pede aos seus munícipes, com a cordialidade própria da sua cultura, que, “por favor, não comprem mais automóveis”….

Conseguir, para já, inverter todo este processo quando, aparentemente, ainda todos vamos vivendo mais ou menos na mesma, para mim, não é crível.

Está implantado em todo o mundo, e os que ainda não o possuem desejam tê-lo, um estilo de vida que passa por um automóvel ou dois em cada família, e não nos esqueçamos que eles são os responsáveis pela emissão de 90% do monóxido de carbono para a atmosfera, e uma casa cheia de electrodomésticos e se a produção de electricidade ainda pode ser feita com recurso às energias inesgotáveis do vento, do sol, futuramente das ondas do mar e das hídricas, que com as barragens estragaram o curso dos rios e quase acabaram com o sável no Tejo da minha infância, estamos ainda muito longe de suprir com elas as nossas necessidades.

Mais difícil mas não impossível é alimentar os motores de explosão dos nossos automóveis com uma energia limpa de CO2 mas isso só acontecerá quando “os senhores da guerra”, a indústria dos automóveis e os políticos influentes de todo o mundo entenderem que chegou o momento.

Nós vivemos governados pelo “mundo dos interesses” sedeado cada vez mais nos Conselhos de Administração das grandes empresas que à escala global vão decidindo o governo do mundo e o destino de todos nós acreditando eles, que com todo o seu dinheiro, sempre conseguirão um cantinho confortável em qualquer parte do mundo e depois, quem sabe, se essa do “aquecimento global” não será mais uma óptima oportunidade de negócio no futuro para aumentar ainda mais as suas fortunas… mas isto são fantasmas meus.

Não desesperemos, pois, e ouçamos os concertos de música que, a este propósito, se vão realizando por todo o mundo, ensinemos as nossas crianças a fazer a separação dos lixos para efeitos de reciclagem e, principalmente, eduquemo-las a respeitarem a natureza, da qual fazem parte, como a coisa mais importante deste mundo.

O futuro das próximas gerações irá ser um terrível desafio, não para este ou aquele país, esta ou aquela região mas para as gerações de todo o mundo dado que, relativo a elas, nada se pode garantir quanto às condições em que as suas vidas irão decorrer.

De positivo, a noção generalizada, de que todos estão irmanados no mesmo grande problema e que este facto deverá constituir um factor de união porque nada é exterior a ele e tudo terá a ver com a possibilidade de poderem continuar ou não a navegar neste planeta, terceiro do sistema solar na extremidade da Via Láctea e o único que conhecemos, respirando o ar e olhando o céu que inspirou os poetas e nos fez sonhar a todos nas noites cálidas de Verão.















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