quarta-feira, março 02, 2011

TEREZA
BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 44

Se quiser a menina, o capitão terá de pagar bom preço, não vai ser igual a tantas outras que ele comeu de graça. Quando descobre uma a seu gosto, na idade e na boniteza, começa a frequentar a casa dos pais, aparenta amizade, traz um pacote de pó de café, um quilo de açúcar, uns queimados envoltos em papel azul, açúcar-cande, fala manso, vai cercando a pequena, um bombom, um laço de fita, e sobretudo promessas; farto, generoso em promessas, o capitão Justiniano Duarte da Rosa. No mais, canguinha.

Um dia, sem aviso prévio, embarca a menina no caminhão por bem ou por mal, rindo na cara dos parentes. Quem tem coragem de protestar ou dar queixa? Quem é chefe político no lugar, quem escolhe o delegado? Os praças não são capangas do capitão mantidos pelo Estado? Quanto ao meritíssimo juiz, compra sem pagar no armazém de Justiniano e lhe deve dinheiro. Também, pudera, com a esposa e três filhos estudantes morando todos na capital, e ele ali naquele buraco, sustentando rapariga gastadeira, tudo isso na base de um salário de fome pago aos magistrados, como fazer, respondam se souberem.

Certa vez houve uma queixa, apresentado por pai de moçoila de busto empinado, ela de nome Diva, ele Venceslau: Justiniano parara o caminhão na porta daquela gente, fizera um aceno à menina e, sem sequer palavra de explicação, consigo a levara.

Venceslau foi ao juiz e ao delegado, falando em fazer e acontecer, em aleijar e matar. O juiz prometeu averiguar, averiguou não ser verdade nem o rapto nem o desfloramento, ante o que o delegado tendo prometido acção rápida, prontamente agiu: meteu o queixoso na cadeia para não perturbar o sossego público com calúnias contra honrados cidadãos e, para lhe cortar o gosto pelos ameaços e impor respeito, mandou lhe aplicassem exemplar surra de facão. Em troca, ao sair do xadrez no dia seguinte, o pai aflito encontrou na porta, a esperá-lo, a filha Diva, devolvida um tanto amassada, pelo capitão: era furada e de há muito, a cachorra.

Filipa não pretende fazer escândalo, dar queixa, não é maluca para opor-se a Justiniano Duarte da Rosa. Ao demais sabe que mais dia, menos dia Tereza arriba com alguém, se antes não se perder nos matos, se não aparecer em casa de buxo cheio. Comida e emprenhada por um moleque qualquer, senão pelo próprio Rosalvo, certamente por Rosalvo, corno velho sem vergonha. De graça.

Filipa deseja apenas negociar, obter algum lucro, mesmo pequeno, Tereza é o único capital que lhe resta. Se pudesse esperar uns anos mais, com certeza faria melhor negócio, pois a menina desabrocha com força e as mulheres da família eram todas bonitas demais, disputadas, fatais. Mesmo Filipa, hoje um caco, ainda conserva um vislumbre de galhardia, uma lembrança no meneio das ancas, no fulgor dos olhos. Ah! se pudesse esperar, mas o capitão se atravessou no caminho. Filipa nada pode fazer.


4


A voz de Filipa rompe o silêncio de intenções e cálculos:

- Tereza! - chama, - vem cá, diabo.

A menina engole o pedaço de goiaba, despenca da árvore, correndo invade a casa, o suor brilha no rosto de cobre, a alegria nos olhos e nos lábios:

- Chamou, tia?

- Sirva o café.

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