sexta-feira, março 25, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 64


Atenta, Rainha-Mãe preside à festa, dirige a comilança, manda amas e moleques em ordens precisas. Vê quando Dóris abandona a sala para mudar de vestido na alcova. O capitão a segue, emboca quarto adentro, ele também, meu Deus, será possível? Porque tanta pressa, não podem esperar mais um dia, algumas horas, a viagem de trem, o quarto do hotel? Porque ali, quase na frente dos convidados?

Na vista dos convidados, de todos os convidados, sim, Mãe.

Da cidade inteira, se possível. Das moças e meninas, todas elas sem excepção, das freguesas do outeiro atrás do colégio atrás do colégio, as que ali se lambuzaram de beijos e esperma com os colegas, as que o fizeram nos jardins do chalé dos Guedes com os ricos, atrás dos balcões das lojas com os caixeiros nas tardes vazias. Sim, na vista e na frente de todas elas, das que lhe vinham contar de beijos e abraços, de suspiros e gemidos, de seios tocados e coxas abertas, das que lhe faziam inveja e a humilhavam e diziam-na freira, soror e madre.

Que venham e vejam e tragam todas as demais mulheres da cidade, as casadas também, as sérias e as adúlteras, as donzelas loucas mansas nos quintais e jardins, as comadres nas janelas e nas igrejas, as freiras do convento, as mulheres da vida da pensão de Gabi e as escuteiras, tragam todas para ver, todas, sem faltar nenhuma.

Os braços em cruz sobre os peitos de tísica, olhos esbugalhados, um estremeção no corpo frágil, vontade de gritar, gritar bem alto!

Justo, deixa-me gritar, porque me impões silêncio, meu amor? Gritar bem alto para que todos acorressem e a vissem nua em pêlo, a pobre Dóris, e a seu lado, na cama, pronto para possui-la, tirar-lhe o cabaço, gozá-la, arfante de desejo, um homem. Não um meninote de colégio, não um rapazola de tesoura e metro, em apressada masturbação, mão no peito, mão nas coxas – tira depressa que vem gente aí. Um homem, e que homem! Justiniano Duarte da Rosa, o capitão Justo, macho reconhecido e celebrado, maior e universal, todo inteiro de Dóris, seu marido. Ouviram? Seu marido, seu esposo, de aliança na igreja, de papel assinado no juiz. Esposo, amante, macho, seu homem, inteiramente seu, na cama, ali na alcova, pertinho da sala, venham todos e vejam.


13

Brigar com moral, me perdoe vossa senhoria, permita lhe dizer, isso até não é difícil, tenho presenciado cada briga retada, de dar gosto. Vi o negro Pascoal do Sossego fazer frente a um pelotão de soldados; mestre de capoeira angola, pintou o sete, foi um pagode.

Com porte de armas, aí então torna-se ainda mais maneiro. De revólver na mão todo o cristão é valente, acabou-se a nação dos cobardes: meto o pau-de-fogo nos peitos do próximo, sou logo promovido a chefe de cangaço ou a tenente de polícia. Não é mesmo, meu branco?

O que eu queria ver para crer era colhudo capaz de enfrentar assombração. Assombração, sim, senhor, alma de outro mundo vagando no escuro da mata, de noite, botando fogo pelas ventas, pelo buraco dos olhos, as garras pingando sangue, aparição mais medonha. Sabe vossa senhoria a medida dos dentes do Lobisomem? E as unhas? São navalhas afiadas, cortam de longe
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