sábado, abril 30, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio nº 95


Os sonetos despertaram-lhe a curiosidade e, chegando a Cajazeiras, tratou de descobrir a inspiradora dos veementes arroubos paternos. Foi Marcos Lemos, alto funcionário dos escritórios da usina, colega de letras do juiz, quem lhe deu indicações sobre Belinha; tagarela, foi ele igualmente a lhe falar de Tereza Batista.

Quando pela última vez estivera na comarca, rapazola de dezassete anos, Dan andou se esfregando com moçoilas em frenesi; no aperto do corredor tocara os seios de casada saliente, de ousado decote, fora tudo. Agora, ao passar pela Praça da Matriz, ao descer a rua principal, enchiam-se as janelas, sorrisos, olhares, donzelas às dúzias.

Condenadas ao celibato, ao barricão – palavra maligna: aquela mais moça está com o pé no barricão, a outra já se enterrou no barricão, ou seja, sentenciadas à beatice, à histeria, à loucura. Daniel nunca vira tanta devota e tanta maluca, tanta fêmea a mendigar macho.

O governo, disse ele a Marcos Lemos e a Aírton Amorim, ao tomar assento na Assembleia dos letrados, se realmente cuidasse da saúde e do bem estar da população, devia contratar meia dúzia de robustos desportistas e colocá-los à disposição das massas femininas em desespero. Aírton Amorim, gozador, aplaudira a ideia:

- Bem pensado, meu jovem. Só que para nossa comuna fazem-se necessárias pelo menos de duas ou três dúzias de rijos campeões.

Quisesse encher o mês de férias na bolinagem de virgens no esconso das portas e tinha às suas ordens farto material, ampla escolha, e muito cuidado a tomar para não cometer um descuido fatal e lá se foi um cabaço, pois outra coisa não desejavam as assanhadas para de imediato pôr a boca no mundo – daqui d’el! Fui comida, deflorada, era virgem, estou grávida, tragam o padre e o juiz – proclamando-o vil sedutor e noivo de casamento marcado às pressas, logo ele, filho de juiz de direito, essa não. Virgens não eram o seu género preferindo as casadas, amancebadas ou livres de qualquer compromisso. Casadas, ali, naquela vida ronceira, raríssimas pagavam a pena de um olhar; cedo perdiam qualquer encanto nos trabalhos domésticos, nos partos seguidos, na modorra e na chatice quotidianas.

Daniel quase não reconhecera aquela cujos peitos túmidos tocara há cinco anos num encontro fugaz; gorda matrona, busto flácido, cor de clausura. Uma mais bonitinha, cara de malícia, trêfegos olhos de árabe, merecedora do irresistível olhar de frete, ao responder-lhe ao sorriso exibiu a boca falha de dentes, banguela, uma tristeza, absurdo desleixo.

Além do perigo de escândalo. Imagine-se um marido ultrajado, estranhando os chifres, a acusá-lo, a ele, filho do meritíssimo, de destruir lar cristão e feliz, de enlamear a sagrada instituição da família, se não fizesse pior; ameaças de vingança e morte, correrias, tiros; Dan sempre fora alérgico a violências de qualquer tipo.

Não podia fazer uma sacanagem dessas com o paterno nem expor-se aos zelos rústicos de sertanejos primários, ainda no tempo de histórias de Trancoso quando se lavava com sangue a honra emporcalhada. Na capital, marido enganado só mata nas classes ditas menos favorecidas e cada vez mais raramente; a partir de certa renda, se a raiva é grande por ser grande o amor, o marido exempla a infiel com uma surra; se é por demais delicado de crânio, incapaz de suportar o peso dos cornos, desquita-se e sai para outra; a grande maioria se conforma, quanto mais rico mais fácil de adaptar-se. (clik na imagem)

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