sábado, maio 07, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA




Episódio Nº 101



- Platine – blonde – confirmou Dan.

- Isso mesmo, não é loiro nosso, sarará, é outra coisa, papa-fina. Tenho vontade de ir na Europa só para comprar uma gringazinha bem nova, com cabacinho loiro, toda branquinha, inteirinha.

Daniel fingia atenção, os olhos derramados na moleca. Também Tereza Batista nunca vira ninguém tão bonito. Ninguém? Talvez o doutor dono da usina, mas era diferente; sem querer põe os olhos em Dan e num enleio abre os lábios, sorri.


28


Num enleio, num sorriso sem saber porquê, olhando sem querer olhar. O moço em ronda, passeio a cima, passeio abaixo, portas adentro no armazém. Só para lhe falar pedia um copo com água. Não aceita um cafezinho? Vou lá dentro passar. Tereza sem jeito, a voz trémula, encabulada. Enquanto espera, Daniel, presenteia os caixeiros com cigarros americanos, de contrabando.

Não maldavam os dois rapazolas, convencidos que o enredo do filme era outro, com Teodora no papel de mocinha. Com incontida inveja observavam os lances do bandido, conquistador vindo da cidade grande para agarrar a inocente vítima, aliás um bandido simpático e a mocinha não tão inocente assim.

Em cama de ferro com colchão de capim, em beco sem saída, no quarto de Pompeu, a beijar-lhe o rosto adolescente, seboso e explodido em espinhas, dormira muitas vezes Teodora, algumas vezes Tereza; em empolgantes películas, uma e outra ele possuíra na palma da mão direita, além de inúmeras artistas de cinema e moças locais – as preferidas sendo Teodora e Marlene Dietrich. No catre de tábuas de Papa-Moscas, escuro, lábios grossos, compacta carapinha, em sua mão de calos e sonhos, desmaiaram Teodora, suas três irmãs, freguesas diversas, desmaiou Tereza e também – perdão caro amigo Dan – dona Beatriz, a quem tivera ocasião de ver praticamente nua, em férias anteriores, quando Papa-Moscas, antes de ser caixeiro no armazém, fora moço de recados do juiz de direito – após o banho Beatriz demorava no quarto às voltas com cremes, cosméticos e perfumes, para encobrir-lhe a farta nudez uma toalha de rosto, ineficaz; pelo desvão da porta, em dias felizes, o molecote brechou-lhe as opulências, extasiado: êta madama mais limpa, até na quirica põe cheiro! Preferida, à frente de todas Teodora, a duvidosa Teó; Papa-Moscas via-se artista de circo a gozar-lhe os tampos.

Acontecia Teodora vir ao armazém para uma compra, o vestido esvoaçante, o decote e a curva dos seios. Disputavam no par ou ímpar o direito a servi-la, a lavar a vista na alvura do colo.

Aparentando não se dar conta, Teodora participava do jogo dos caixeiros, demorando a compra, os cotovelos encostados no balcão para o decote crescer; vinha sem porta-seios. Junto com as compras levava consigo o pobre tributo dos rapazolas: nas noites insones os fugidios olhares dos parvos caixeiros eram matéria de sonho. Apenas ela dava as costas, Pompeu cuspia na palma da mão direita, desembestado para a latrina; Papa-Moscas guardava a exaltante visão para a noite de amor.

Para os dois, o assunto não tinha mistério: se Daniel ainda não comera Teó, não tardaria a comer; nunca lhes passou pela cabeça pudesse ter o estudante qualquer interesse em Tereza.
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