domingo, junho 26, 2011

HOJE É
DOMINGO

(Da minha cidade de Santarém)





A minha rotina das manhãs de Domingo é diferente das restantes. Sem ténis ou ginásio, a manhã torna-se maior, sobra o tempo para a leitura do jornal e hoje, ao comprá-lo, contra aquilo que é meu hábito, joguei no Euromilhões. Deu-me para ali… e fiquei a matutar no caso porque o grande factor de aliciamento daquele jogo são os jackpot, aquela quantidade imensa de dinheiro cuja probabilidade de sair (a mim) é menor do que a de sermos destruídos por um objecto vindo do espaço. Consolo-me pensando que foi uma forma de ajudar a Misericórdia.

De qualquer maneira, eu próprio, os meus amigos que seguem o Memórias Futuras em Portugal, no Brasil ou nos E.U.A., todos nós, somos um caso evidente de jackpot e esse já ninguém nos tira.

Ora vejamos: os nossos progenitores produziram, por dia, na maior parte das suas vidas entre 300 a 500 milhões de espermatozóides e qualquer um deles, combinado com um óvulo de entre umas centenas pertencentes às nossas mães, era um potencial descendente.

Repare-se bem, muitos milhares de milhões de uma pequena célula, cada uma diferente de todas as outras, que eram pertença dos nossos pais, escolhida em função de um processo competitivo no momento da fecundação, com um dos muitos óvulos que aleatoriamente estava disponível nesse dia, determinou o nascimento de cada um de nós numa probabilidade que desafia quase o infinito.

Richard Dawkins, grande especialista do genoma humano - (Premio Nobel em 1973 pelos seus estudos em Etologia e um dos maiores intelectuais do nosso tempo) - afirmou que as pessoas potenciais permitidas pelo nosso ADN que poderiam estar aqui no nosso lugar mas que na verdade nunca verão a luz do dia, excedem em número os grãos de areia do deserto do Sara… pensem bem, os grãos de areia do deserto!

E não é que temos a sensação que somos o filho óbvio dos nossos pais? E não é isso que sente qualquer um?

Agora que penso nisto quase que estremeço ao imaginar a multidão de irmãos meus que ficaram por nascer e me “deram” o seu lugar para que eu possa estar aqui a escrever e ir jogar ténis com o meu amigo Carlos.

Eu julgava que sorte, sorte, era acertar na “chave” do Euromilhões a que me candidatei há uns minutos atrás mas eu, ou os meus amigos, somos já autênticos jackpotes.

Chegamos à vida contra todas as probabilidades oriundos de um mundo de silêncio e de nada e depois de uma existência fugaz, que metaforicamente podemos equiparar a um pestanejar de olhos, regressamos a ele e, no entanto, esse momento fugaz, é tudo quanto nós temos.

E sendo tudo é ainda muito mais do que aquilo que nós valorizamos quando olhamos à nossa volta e nos apercebemos do que muitas, muitas pessoas fazem às suas vidas e à vida dos seus semelhantes: crime e desperdício!

Não há crença ou religião que não aponte para outras vidas numa estratégia óbvia de condicionar e influenciar as pessoas a adoptarem determinados comportamentos e atitudes, normalmente de disciplina e submissão, embora tudo à nossa volta nos mostre à evidencia que após a morte a vida continua, é certo, mas através de novos personagens que não os anteriores recauchutados.

A vida é um bem precioso, e é precioso porque é raro, embora os seis mil milhões de semelhantes nossos que habitam o planeta nos possam dar uma ideia contrária, mas o que é este número comparado com o dos grãos de areia do deserto do Sara?

Vamos morrer e por isso somos nós os bafejados pela sorte. A maior parte das pessoas nunca vai morrer porque nunca vai chegar a nascer.

É muito importante pensar a vida, a nossa vida, como aquela oportunidade que nos surgiu de entre muitos milhões de oportunidades que podiam ter acontecido a outros no nosso lugar.

Se assim conseguirmos pensar, até porque é essa a realidade, olhar-nos-emos e aos nossos companheiros de “viagem” com outros olhos, com mais atenção e mais sentido de responsabilidade.

No fundo, todos buscamos a felicidade que é aquela “coisa” que definimos para nós próprios nem sempre facilmente.

Sabemos, acima de tudo, que queremos ser felizes mas não sabemos bem “como” nem “com quem” e quando o julgamos saber muitas são as vezes em que concluímos que estávamos enganados.

Nascemos condicionados pelos nossos genes e pelo contexto cultural que encontramos e por muito que nos emancipemos através de uma formação científica sólida e diversificada, é na gestão que fazemos daqueles dois grandes factores que as nossas vidas têm que se resolver.

Em última análise, são aspectos emotivos da nossa própria natureza que irão determinar o sucesso das nossas vidas em termos de felicidade e por isso a necessidade de apelar à inteligência para orientarmos a nossa sensibilidade.

Só somos seres superiores porque temos a capacidade de sermos bons de uma forma inteligente: nem “máquinas pensantes”nem “donzelas de lágrima ao canto do olho”.

A razão e o sentimento têm que “casar-se” sem que para isso haja alguma fórmula mágica a não ser, talvez, a que se esconde algures dentro de cada um de nós…

Temos uma dívida para com o meio que nos cerca pois não só o planeta em que vivemos é propício e “amigável” como o próprio universo também o é.

Segundo os cálculos dos físicos, pequeninas alterações que fossem nas leis e nas constantes da Física e o universo ter-se-ia desenvolvido de tal modo que a vida teria sido impossível.

Mas a nossa responsabilidade não é perante o Universo que se organizou de forma a permitir a vida, nomeadamente a nossa, pois somos demasiado pequenos e insignificantes para assumirmos responsabilidades perante o Universo.

A nossa responsabilidade é perante nós próprios, na qualidade de única espécie verdadeiramente inteligente que ao longo de um processo evolutivo de muitos milhões de anos, e com muitos sobressaltos pelo caminho, se conseguiu impor.

Despoletamos forças poderosas, estamos em vésperas de construir estações orbitais com condições para lá podermos viver, transformamos o nosso mundo numa aldeia global, mas continuamos com imensas dificuldades em resolver situações de simples vizinhança e convivência em que alguns conflitos religiosos continuam a ser os de mais difícil resolução.

Sempre, sempre os deuses a atrapalhar a vida dos homens...!

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