sábado, julho 09, 2011

TEREZA



BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA


Episódio Nº 148



P


Primeira a fugir, a funcionária Juraci, enfermeira de segunda classe da Directoria Estadual de Saúde Pública. Antiga atendente de sala de espera de consultório médico, sem curso, sem diploma, sem prática, mas filha de cabo eleitoral do governo anterior, por isso nomeada; tornando-se oposição, o passado Governo, o novo, em represália, a transferiu para os cafundós-de-judas de Buquim. Não tinha estômago para suportar fedor e podridão: num prazo de dias a cidade apodrecerá.

Na segunda noite contaram-se sete bexiguentos comprovados, doze ao amanhecer e no quinto dia subiu a vinte e sete o número dos caídos. Assim por diante, foi crescendo a estatística e o pus. Conheciam-se as casas atingidas pelas venezianas cobertas de papel de cor vermelha para impedir a claridade nos quartos onde, na luz do dia, a bexiga cega antes de matar. Pelas frestas escapa a fumaça da bosta de boi sendo queimada, defumador porreta, a limpar as casas das exalações da peste.

Rezam dia e noite as beatas na Matriz, onde velaram a esposa legítima do sacristão, finalmente livre para viver em paz com a amante se a varíola não os levar, também aos dois. As beatas rogam a Deus o fim da praga, enviada em castigo aos pecados dos homens, todos entregues à devassidão, uns condenados, a começar pelo doutor do posto de saúde, de manceba em permanência.

Do excelente posto de observação, viram Juraci a caminho do trem, de maleta e sombrinha, a resmungar: demitam-me, se assim entenderem, mas aqui não fico nem um minuto mais arriscando a vida; se o doutor quiser vá ele vacinar e leve a marafona de ajudante.

No dia seguinte à agoniada noite de constatação dos primeiros casos, a enfermeira e Maxi tinham saído para o Grupo Escolar conduzindo a caixa das vacinas. As professoras puseram as crianças em fila; faltavam três alunos e as notícias eram ruins: de início as mães pensaram em sarampo ou catapora; agora já não tinham dúvidas sobre a qualidade das borbulhas cor de vinho. A notícia circula na cidade acrescida de detalhes e enfermos. Com a sobra das vacinas os funcionários foram para a rua principal, para as casas ricas.

Não esperou Juraci a hora dos pobres e dos becos: apavorada deu-se conta haver tido contacto, na residência do sírio Squeff, comerciante forte, com bexigoso em plena erupção. Três casas adiante, a mesma coisa. Demitam-me, pouco importa, não vou morrer aqui, comida de bexiga. Tome a caixa das vacinas, doutorzinho, entregue à vagabunda, ela que vá com o pus de sua vida para o pus da morte, não eu, donzela virtuosa e noiva.

Reduzido à metade do pessoal do posto com a deserção da enfermeira, doutor Oto bradou aos céus: e agora? Novo telegrama para Aracaju reclamando auxiliares capazes e dispostos: embarquem no primeiro trem. Em casa lavando as mãos com álcool, acendendo, apagando cigarros, com medo, entrega-se ao desânimo, não nascera para aquilo.

Abre-se com Tereza: até que a repartição em Aracaju resolva mandar funcionários, quem poderá ajudar na vacinação? Precisará de quatro ou cinco equipas, assim cheguem as vacinas já pedidas. Por ora iam tenteando com Maximiano e a enfermeira, mas sem Juraci, como fazer?

Ele, Oto, director do posto de saúde, não pode sair rua afora, vacinando como um reles serviçal; já não é pouco exigir dele o comparecimento ao posto pela manhã e pela tarde a dar explicações, conselhos, a examinar suspeitos constatando novos casos, ah! as pústulas, Tereza, coisa mais horrível.
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