quinta-feira, maio 24, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 106



E nada mais se passou. Apenas todos compreenderam que Mundinho assumira, a partir daquele dia, a chefia da oposição e começara a luta.

Não mais uma luta como a de antes, do tempo da conquista da terra. Agora as repetições e as tocaias, os cartórios queimados e as escrituras falsa não eram decisivos. João Fulgêncio disse ao Juiz.

 - Em vez de tiros discursos… é melhor assim.

Mas o Juiz duvidava.

 - Isso acaba mesmo é em bala, você vai ver.

O coronel Ramiro Bastos retirou-se logo, acompanhado de Tonico. Outros espalharam-se pelas mesas do bar, continuaram a beber. Formou-se uma roda de pocker, no reservado, alguns dirigiam-se para os cabarés. Nacib ia de grupo em grupo activando os empregados, a bebida corria.

No meio de toda aquela atrapalhação, recebeu, trazido por um moleque, um bilhete de Risoleta. Ela queria vê-lo sem falta naquela noite, ia esperá-lo ao Bataclan.

Assinava «sua bichinha Risoleta»; o árabe sorriu satisfeito ; junto à caixa estava o pacote para Gabriela: um vestido de chita, um par de sandálias.

Quando terminou a sessão de cinema o bar encheu. Nacib não tinha mãos a medir. Agora as discussões em torno do artigo dominavam as conversas. Ainda havia quem falasse no crime da véspera, as famílias elogiavam o prestidigitador. Mas o assunto, em quase todas as mesas, era o artigo do diário de Ihéus.

O movimento durou até tarde, era mais de meia-noite quando Nacib fechou a caixa e dirigiu-se ao cabaré. Numa mesa com Ribeirinho, Ezequiel e outros, Anabela pediu opiniões para o seu Álbum. Nhô-Galo, romântico, escreveu. «Tu és, ó dançarina, a encarnação da própria arte» O Dr. Ezequiel, num pileque grandioso, acrescentara, a letra tremida. «Quem me dera ser gigolô da arte».

O Príncipe Sandra fumava, sua longa piteira, imitação de marfim. Ribeirinho, muito íntimo, batia-lhe nas costas, narrava-lhe as grandezas da sua fazenda.

Risoleta esperava Nacib. Levou-o para um canto da sala. Contou-lhe amarguras: amanhecera doente, voltara-lhe uma complicação antiga que infernava os dias, tivera de chamar o médico. E estava sem dinheiro nenhum, nem para os remédios. Não tinha a quem pedir, não conhecia quase ninguém. Recorria a Nacib, ele fora tão gentil naquela noite…

O árabe passou-lhe uma cédula, resmungando; ela acariciou-lhe os cabelos.

 - Fico boa logo, dois três dias, mando te chamar…

Partiu apressada. Estaria mesmo doente ou seria uma comédia para tomar-lhe o dinheiro, ir gastar com um estudante ou um caixeiro numa ceia regada a vinho?

Nacib sentia-se irritado, esperava ir dormir com ela, nos seus braços esquecer o dia melancólico de enterros, trabalhoso e inquieto de banquete e intrigas políticas. Dia de arrasar um homem. Terminando naquela decepção. Segurava o pacote para Gabriela. As luzes se apagavam, a dançarina apareceu vestida com suas penas. O coronel Ribeirinho chamava o garçon, comandava Champanhe.

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