segunda-feira, julho 02, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 139



A cor de canela? O perfume de cravo? O modo de rir? Como ia saber? Um calor possuía, queimando na pele, por dentro, um fogaréu.

 - Foi um fogaréu de papel, queimou num instante. Eu tava querendo ir ver Gabriela, dar uma prosa com ela. Nem deu jeito, tanto eu queria.

 - Tu num viu mais?

A luz do fifó lambia a sombra, a noite aumentava sem Gabriela. Uivos de cães, piar de corujas, silvos de cobras. No silêncio a cismar a saudade dos dois. Negro Fagundes pegou o fifó, foi embora dormir. Na sombra da noite, imensa e sozinha, o mulato Clemente recolheu Gabriela. Seu rosto sorrindo, seus pés andarilhos, suas coxas morenas, os seios erguidos, o ventre nocturno, seu perfume de cravo, sua cor de canela. Tomou-a nos braços, levou-a prà cama feita com varas. Deitou-se com ela, reclinada em seu peito.


Do Baile Com História Inglesa

Um dos mais importantes sucessos daquele ano em Ilhéus foi a inauguração da nova sede da Associação Comercial. Nova sede que era na realidade a primeira, pois a Associação, fundada há uns quantos anos, funcionara até então no escritório de Ataulfo Passos, seu Presidente e representante de firmas do Sul do país.

Nos últimos tempos vinha-se tornando a Associação poderoso instrumento da vida da cidade, factor de progresso, promovendo iniciativas, exercendo influência. A nova sede, sobrado de dois andares, ficava nas vizinhanças do bar Vesúvio, na rua que ligava a Praça São Sebastião ao porto.

A Nacib foram encomendadas as bebidas, os doces e salgados para a festa da inauguração. Dessa vez não teve jeito senão contratar duas cabrochas para ajudar Gabriela, a encomenda era grande.

As eleições para a directoria precederam a festa da mudança. Antes era preciso adular comerciantes, importadores e exportadores, para que consentissem figurar seus nomes na mesa directora. Agora, disputavam os cargos, dava prestígio, crédito nos bancos, direito a opinar sobre a administração da cidade.

Duas chapas foram apresentadas, uma pela gente dos Bastos, outra pelos amigos de Mundinho Falcão. Actualmente era assim a propósito de cada coisa: de um lado, os Bastos, do outro Mundinho. Manifesto assinado por exportadores, vários comerciantes, donos de escritórios de importação, apareceu no Diário de Ilhéus apresentando uma chapa, encabeçada por Ataulfo Passos, candidato à reeleição, com Mundinho para Vice-Presidente e o Capitão para orador oficial. Nomes conhecidos a completavam.

Manifesto semelhante publicou o Jornal do Sul, assinado igualmente por diversos sócios importantes da Associação patrocinando outra chapa. Para Presidente Ataulfo Passos, em torno de seu nome não havia dúvidas. Não era político, a ele se devia o progresso da Associação.  Para Vice-Presidente o sírio Maluf, dono da maior loja de Ilhéus, íntimo de Ramiro Bastos, em cujas terras, muitos anos antes, começara com uma tenda de mantimentos. Para orador oficial, o Dr. Maurício Caíres.

Além do nome de Ataulfo Passos, um outro se repetia nas duas chapas, indicado para o mesmo modesto cargo de quarto-secretário: o do árabe Nacib A. Nacib.

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